sábado, abril 30, 2005

Pelo sim, pelo não...Nada de comentários.


Felizmente, na blogosfera, existem umas espécies de diques primários onde a porcaria mais grosseira encalha. Vagalhões de merda alucinantes, ameaçadores, que de outro modo ficariam por aí à solta, levando o fedor e a ignóbil matéria - de enxurrada - por caixas de mails e de comentários, são assim confinados a tranquilas albufeiras, onde a placidez, a concórdia e o cheiro nauseabundo se concentram...e imperam.
Nunca agradeceremos o suficiente aos "abruptos", "murcões", "ene merdas", "carapaus de corrida" e "queridinhos", todos da paróquia. O serviço que prestam à comunidade, estes paredões altivos, estes filtros colossais, é merecedor de público reconhecimento e justo louvor. Que as câmaras municipais, além de rotundas, mandassem erigir estátuas em sua homenagem não seria de depreciar. E que mesmo o PR lhes distribuísse comendas e o governo subsídios, só teríamos que saudar e aplaudir. De pé! Pedindo bis!...
Sei que podemos confiar neles. Que nunca esmorecerão na atracção fatal que exercem sobre esses exércitos de vil substância. Possuem um je ne sais quoi de irresistível que polariza toda uma providencial convergência desse imenso e inexaurível esgoto sideral (sideral porque sidera). Talvez uma força magnética única, escatotrípeta, sinal duma nova revolução destronadora do velho Copérnico: são, quiçá, a prova viva (ou melhor: zombie), de que afinal nem o sol gira à volta da terra, nem a terra de roda do sol, mas ambos, e tudo, gravitam em redor e adoração da trampa. Deus os abençoe e guarde pois, àqueles beneméritos, assim, utilíssimos, guichés da paloncice e da mentecapção apinocada, por muitos e longos anos!...
Mas não arrisco. Já sou capaz de conviver amenamente com massacres e envenenamentos a conta gotas, com presídios globais e paneleiros infestantes, com vampiragens e roubalheiras instituídas, mas há coisas para as quais ainda me falta estômago. Há náuseas para as quais ainda não me treinei. Nem acho, no tempo que me resta de vida, ter espaço remanescente para me adestrar. A possibilidade (absolutamente remota, eu sei – mas remoto não é impossível) de um belo dia abrir uma caixa de comentários deste blogue e dar de caras (as minhas, claro está) com as fuças (as deles) absolutamente toinas, asquerosas, em nojenta fermentação de cretinices, em bajuladouro desinsofrido, dum tal "Lobices" ou doutro não menos seboso "portocroft", ou a puta que pariu qualquer desses ciber-cucos que se instalam a verter bosta em ninho alheio, confesso: deparar-se-me uma tromba dessas e não a poder partir logo ali, materialmente, com patadas justiceiras, topar com um cabrão desses a fazer-me uma carantonha daquelas e não poder, no mesmo instante, corrê-lo a pontapés no fundo daquilo que não tem, era, proclamo-o sem quaisquer dúvidas, uma violência absolutamente insuportável contra mim e os meus legítimos direitos de ser vivo, erecto e pensante! Instauraria em mim um trauma, uma fúria arrepelante para o resto da vida. Escavacaria eu, em fruste sucedâneo, a mobília, deitaria fogo ao computador, atiraria cadeiras pela janela, dispararia às cegas sobre transeuntes, mas a honra continuaria suja, ignobilmente emporcalhada. Não haveria detergente ao cimo da terra capaz de extrair tão infamante nódoa. É daquelas coisas que não podem deixar de fazer-se, sob pena de perder-se a alma.
Por isso, repito, não estou disposto a correr riscos. Nunca se sabe. Se as limitações são tais e de tal modo cerceadoras da justiça, só me resta uma medida: aqui, no "dragoscópio", acabaram-se as caixas de comentários. Se tiveram alguma emergência, usem o mail. É drástico, mas é assim.
Digam-me que exagero. Digam-me que jamais essa choldra desaguará por aqui (precisamente pelas razões por mim inicialmente apontadas). Sim, sim... Digam-me, até filosoficamente, que a escumalha adora, sobretudo, espelhos. Mesmo assim.
Se bandalhos desses me irrompessem aqui no blogue, a gralhar em bandos, a guinchar em lianas, seria eu que nunca mais conseguiria olhar-me num espelho.
Foda-se!...

sexta-feira, abril 29, 2005

O Junkie e a Pastilha - Ballet em dois andamentos.

*
Junkie da existência pela propriedade, o gastador faz da coisa adquirível a sua dose urgente. Só que com o correr do tempo, em vez das delícias do paraíso, mergulha aceleradamente nos horrores da ressaca. A única solução que encontra para atenuar a aflição é aumentar paulatinamente a dose e a frequência da mesma. E, no fim de contas, ao invés duma suposta -e velhacamente apregoada - libertação, atola-se, doravante e tenebrosamente, na mais rasteira dependência. A indústria e a tecnologia só aos parolos ainda convencem de que alguma vez conduzirão à liberdade e ao ócio das massas. Pelo contrário, esmeram-se, cada dia que passa, na sua coisificação e apropriação. De facto, transportaram e escravatura e a exploração desenfreada da manada humanóide a requintes de psico-sadismo e sofisticação supliciante nunca antes experimentados. Controlo e manipulação são palavras de ordem: dos genes às consciências.
**
Aparentemente, o Consumidor diverte-se; mas, bem no fundo, entedia-se. Nada verdadeiramente o contenta. A velocidade do desgaste, das coisas e de si, por inerência e reacção em cadeia, aumenta de dia para dia. Aquilo que o seduz também o esgota. A sua avidez insaciável empurra-o e, simultaneamente, deixa-o cair no precipício. A caça à coisa degenera em chacina que, por sua vez, só conduz ao enjoo e ao aborrecimento. A "coisificação" tudo abrange -bens, matérias, pessoas -, e tudo dissolve na mesma melancolia enauseada e perversa. O Consumidor enjoa-se do carro, como se enjoa da mulher ou do marido, dos filhos, do animal de estimação, da mobília, do Hi-Fi, dos sapatos, das ideias, das políticas, das emoções, ou do próprio sexo e da cara no espelho. Para ele só o torvelinho infinito e insano da perpétua mudança do tudo o que o rodeia e habita parece aplacar -ou melhor dizendo: paliar, o fastio imenso que, ao mesmo tempo, lhe causa. Além do mais, e na essência, o Consumidor não tem sexo, idade, religião, ideologia ou sequer, em bom rigor, opinião. O seu deserto interior está permanentemente ressequido e ávido da chuva de coisas com que a publicidade o bombardeia. Compra e usa tudo o que veste, come, pensa, fala, sonha, acredita, etc, etc.
Tudo pode ser usado e descartado, comprado e atirado ao lixo, mastigado e cuspido fora quando perdeu o sabor. É um sub-cosmos buble-gum. E é toda uma canalha de olhar oco, desabitado, que masca sisificamente a pastilha e colecciona os cromos que a embrulham.

quinta-feira, abril 28, 2005

Xenofobia é que não! Fica mal numa puta.


A xenofobia é um vício muito desagradável. E não obstante, a nossa história, durante largos períodos dum passado infamante, é um cardápio completo de energúmenos afectados por essa alucinante mania. Uma vergonha! E o pior é que esses figurões, autênticos ferrabrazes trogloditas, não se ficavam pelos rosnidos, pelas bocas ao transeunte ou as cuspidelas da janela ao incauto. Não; em arruaças e batefundos que só visto, cismavam de implicar violentamente com as boas almas que nos visitavam, espancando-os não raras vezes até à morte.
Um D.Nuno Álvares Pereira, por exemplo, quereis exemplo mais gritante e escandaloso de xenofobia? Aquilo eram maneiras de receber turistas? Francamente!...E aquela padeira louca, desvairada, um estafermo boçal que em vez de servir almoçaradas e regueifas ao viandante, inventava de assestar com o utensílio de serviço nas trombas, certamente estupefactas, dos peregrinos?!...Irra, assim, com pergaminhos destes, não admira que enfileiremos na cauda das europas e do mundo. A tratar assim a putativa clientela, não há economia nem défice que resista!
O Viriato, lembram-se dele? Nada menos que outro xenófobo exaltado...Com tão bom queijinho que podia vender aos estranjas, teimava, ao invés, de lhes despejar calhaus e pedregulhos pelos costados, de lhes largar avalanches em cima. Em vez de boas tendas e feiras, como o sensato marketing aconselhava, obcecava-se era de lhes armar emboscadas e mortificantes recepções pelos desfiladeiros. Um rústico! Ainda por cima, movendo guerra aos romanos, gente sofisticada, bem falante, evoluída, enfim: os americanos daquelas épocas. O baguinho que não se delapidou com tais peraltices. As heranças e os proveitos de vindouros que não se esbanjaram assim. Ainda hoje penamos de tanga, por causa de madraços que teimaram de não arriar a dita.
Não, a mim ninguém me convence do contrário: Estas taras nacionalistas é que têm dado cabo de nós. Estas extravagâncias dispendiosas com a independência, os valores patrióticos, a língua mãe, os ilustres antepassados... Ilustres?! Broncos, isso sim. Dissipadores! Mentalizai-vos: Celebrar essa malta arruaceira, hostil ao desenvolvimento e ao paraíso global, é comemorar o atraso, a parolice, o obscurantismo. O sacana do Estado Novo, entre outros, essa pandilha castrante, andou cinquenta anos a intoxicar-nos, a induzir-nos em tremendo erro. A enxertar-nos de ilusões malfazejas. Cretinos!...
Felizmente que nos últimos anos todo um trabalho de descontaminação e lavagem tem sido levado a cabo por esta excelsa gente progressista -esta boa elite benemérita que faz o favor de nos guiar à redenção humanista e comercial. Graças à sua supervisão sempre benigna, por obra e graça duma indústria pedagógica desinfectante (verdadeira creolina do espírito, Deus os abençoe!), esses presumidos heróis que outrora nos impingiam (malditos sejam!) transparecem agora na sua verdadeira aura de traidores à pátria, retardadores maléficos do augusto mercado e do ufano nível de vida catita. Continuamos pobrezinhos mas já não somos estúpidos, já não enfardamos gato por lebre. Libertaram-nos dos antolhos, carago! Aprendemos a ter maneiras, maravilha! Assim, nem que seja a conta gotas, ao ralenti, como convém a gastrópodes, lá chegaremos!... É garantido. Pedalamos à retaguarda, mas vamos no bom caminho - e o importante, que diabo, é competir, é participar nesta fórmula 1 da ciganice.
Ardemos já não em xenofobia, essa peste, mas em xenofilia, esse enlevo. E clamamos deste rincão -a redimir-se, a saldar-se - doravante franco e sôfrego de alienígenas: Vinde, ó salvadores!, nada temeis: já não atiramos pedras nem azeite a ferver a ninguém!...Nem espetamos lanças nem piques nos excursionistas. Se dúvidas tendes, perguntais aos brasileiros, aos que nos embalam do alto das novelas e nos vistoriam por alturas de carnavais: eles atestar-vos-ão, em júbilo, o quão simpáticos e hospitabundos somos. Melhor não há. Até enjoa.
Ah, mas, graças a Deus, não tem sido em vão todo este esforço... Com que alacridade eles nos visitam e acodem de todas as bandas. E com que ainda maior alacridade, em formidável êxtase, nós, babosos, os recebemos: de sorriso alvar desfraldado nas ventas e a bisnaga de vaselina sempre pronta na mão.

quarta-feira, abril 27, 2005

Consultório Íntimo do Dragão - II. (1ª Sessão)


Está aberta a audiência. Preside o meritíssimo Dragão!...

É verdade, em parceria com a revista "Maria", agora a sério, em directo para todo o blogocosmos, passamos a emitir a primeira sessão do "Consultório Íntimo do Dragão".

Como podereis constatar no número desta semana, página 59, da revista mais vendida em Portugal, pergunta-me a A.G., do Porto:

P.- "Como estava sozinha em casa, resolvi ver um canal de filmes porno e senti vontade de me masturbar. Como não tinha nenhum objecto, utilizei o comando de televisão. Serei estranha?"
R.- Cara amiga, estranha não direi, mas certamente impetuosa. Impaciente, também. Calculamos que não tivesse a vassoura a jeito, nem uma garrafa qualquer à mão de semear. E as cadeiras, se bem que disponibilizem quatro pernas lascivas, não são facilmente manipuláveis. Vai daí, a cara amiga...
É claro que não nos fornece informações pormenorizadas sobre o perfil vulvodinâmico do aparelho de controlo remoto em questão. Convinha que o fizesse, senão deixa-nos para aqui um tanto ou quanto perplexos, senão mesmo intrigados. A fazer fé nos modelos usuais, somos levados a imaginá-la sob o efeito dum entusiasmo paranormal. Não terá confundido masturbação com possessão? Tem a certeza que era um filme porno e não o "Exorcista" 1? Reparou se, por alturas do transporte, a cabeça lhe andava à roda, num carrocel frenético, à medida que estrebuchava e esperneava no sofá? Por acaso não notou uma mudança drástica e cavernosa no timbre de voz, à medida que gemia e arfava? Lembra-se de urrar, de entoar roncos medonhos e horripilantes, de vociferar blasfémias inauditas e vomitar uma substância verde com um teor gosmoso e pestilento?
Se não registou nenhum destes singulares fenómenos, então temos que partir do princípio que se masturbou de facto com o telecomando. Repito: isso não faz de si uma pessoa estranha. Nem por sombras. Tranquilize-se. Quando muito indicia um carácter exigente, superlativamente fogozo: somos levados a supor que o telemóvel não a satisfez. Ou que o deixou cair lá dentro e, perturbada com o turbilhão de emoções inauditas, afogueada, empunhou o telecomando e prosseguiu a todo o vapor. Um desvario imperioso, esse, perfeitamente inofensivo.
Mentiriamos, não obstante, se não dissessemos que nos surpreende um pouco um certo estouvamento imprevidente da sua parte: caramba, não se resvala assim para um passatempo desses sem uma reserva de legumes apropriados, de piquete e prevenção. No mínimo, uns vegetais oblongos, que sei eu, uma courgette ou um pepino, a limite, uma banana, uma pera abacate, talvez não destoassem dessa sua vernissage. O rolo da massa, porque não? Ou será que a cozinha fica muito longe da sala, e o estado de urgência que de si se apoderou não lhe permitiria, em qualquer dos casos, o percurso, o preâmbulo, ou sequer o desvio?...
Em contrapartida, há que reconhecer-lhe uma certa prudência: nem o tubo do aspirador ou o secador de cabelo, qualquer deles a pleno sopro ou sucção, a seduziram. Talvez numa próxima oportunidade, se os apanhar ou predispuser a jeito, quem sabe. Longe de mim pensar, sequer, em desencorajá-la de tão trepidante aventura. Pelo contrário, aguardarei, em voluptuosa espectativa, pelo inolvidável desenlace e posterior relato (quiçá, no telejornal), de tão épica jornada. O mesmo, já agora, direi da jarra de flores ou do candeeiro da sala, claro está, sem o abajur. Mas...tem a certeza que a varinha mágica é uma boa ideia?...
Todavia, durma, durma descansada, cara amiga, porque quanto ao essencial bem pode descansar indemne às tensões e angústias: estranha é que não é. Nem bizarra. Apenas singular, tremendamente original. E - pela elastecidade vaginal veteraníssima que se depreende da sua breve mas reveladora missiva (já que durante o seu frenesim de êmbolo, ao contrário do que seria de esperar, da parte do vaivém nenhum zapping desaustinado resultou e o canal -como o seu bombear expedito e ininterrupto nos leva a pressupor - prosseguiu na sua emissão imperturbável e excitante) -também nada virgem ou sequer inexperiente. Nem, tão pouco, penaliza-nos intui-lo, nada pudibunda. Já viu se os seus netos a surpreendem num desarvoro desses?...

terça-feira, abril 26, 2005

Consultório Íntimo do Dragão -I (No princípio, era o fórum)

Com patrocínio da Rádio Vulva FM, da revista "Maria", da editora Oficina de Tretas e da Tasca típica (aliás, ciber-tasca) Cova-Funda, aqui vai a emissão inaugural para o blogocosmos (essa região acima da blogosfera) do Consultório Íntimo do Dragão.
Esta primeira emissão consiste numa reposição de consultas dadas, num tempo primordial, aqui há vários meses atrás, quando este vosso -nada- humilde criado assombrava um fórum de lampiões badamecos. Tem a curiosidade acrescida, especialmente para os arqueólogos destas coisas, de ter sido durante estas sessões terapêuticas que me ocorreu a ideia de constituir "blog". Se não sabiam, ficam a saber. De resto, se o gastrópode Machado Vaz se transferiu para os blogues, porque não me hei-de eu, animal mitológico inefabilíssimo, trasladar para a "astrologia genital"?...
Com licença, arreda, deixem passar...

«Pois é...Tenho recebido várias mensagens e emails de leitores sensibilizados onde, desde incentivantes "Força Dragão, põe essa lampionagem na ordem!", até indignados "Ó réptil voador, vai mas é pó c******!!", nada falta. Inclusivé alguns bilhetes bem curiosos, onde me são colocadas (os gajos devem julgar que eu sou algum guru) verdadeiras "Questões essenciais da vida". De tal modo essenciais que decidi partilhá-las com o fórum, bem como às respostas que me merecem. Vou começar por um muito sugestivo que me chegou enviado por Cândido C. Abrevio a história da sua vida, alguns percalços maiores e menores, e sigo directo para o corolário pungente da sua missiva. Termina ele:
P: "...abri a porta do meu quarto, com cuidado, para não acordar a minha mulher e dei com ela a dormir com o meu amigo Inácio. Será que isso faz de mim um corno?..."
R: Não necessáriamente, caro Cândido C., não necessariamente. Há várias opções: Cabrão, galhudo, boi, cornudo, entre outras. É só escolher a que mais lhe agrade. Escreva sempre.
Entretanto, do Birimbau, em tom perplexo, eis a pergunta:
P: "Dragão, após vários episódios frustrantes, cheguei à conclusão que não sou bom no cunnilingus. Será porque tenho os beiços demasiado finos? Será dos músculos bocais, será imperícia na língua? Deverei deixar crescer um bigode mais farfalhudo..."
R: Birimbau, amigo, o cunnilingus é um instrumento que requer muito trabalho de palheta (ainda mais que o saxofone). Se não se entende bem com o cunnilingus, porque não experimenta a tuba, o fagote ou o oboé? Mas se a sua atracção pelo cunnilingus é insubstituível, tente o método de treino Silvester: arranje uma daquelas ratoeiras de aço galvanizado (aquelas vulgares e mais baratas) arme-as com um pedacito de queijo de cabra fresco e depois tente retirar o queijo com a língua sem levar com o apetrecho nas ventas. No dia em que conseguir está apto pró Cunnilingus. Até lá...Bom treino, eh-eh!...

Para concluir a nossa sessão de hoje, olhem só as brutas questões que o "Afonso de Albuquerque" me envia...
P: " Dragão, tu que transpiras uma sabedoria que não há nenhum desodorizante que dissipe, vê lá se consegues resolver estes dois enigmas da história contemporânea:
1. Porque é que somos o país mais atrasado da Europa civilizada?
2. Como é que Portugal, o primeiro país do mundo a abolir a pena de morte é agora o último da Europa em qualidade de vida?..."
R: Com essas é que tu me lixaste, ó Afonso de Albuquerque! Não fosse eu ser um gajo desenrascado, e agora mesmo, ficava aqui às aranhas! Se não és a esfinge, deves ser primo dela, um raio te parta! Mas não julgues que te ficas a rir...É só emborcar aqui um trotil ou dois e vais ver como as ideias se me desentorpecem...Pronto, aqui vai, segura-te... Sobre a primeira questão, é daquelas que se respondem com outras questões, a saber:
a) Há mais algum país na Europa com seis milhões de benfiquistas, pr'aí uns dois milhões de lagartáceos e uma meia dúzia de loureiros?
b) Há mais algum país na europa onde o futebol seja a religião nacional, e o árbitro o jogador principal e vedeta preferida dos adeptos?
c) Há mais algum país cujo regime político seja uma tão degradante tirania dos "media" (jornais e televisões), isto é, uma "mediocracia"? E onde tudo se fabrica, não em fábricas ou indústrias como nos outros países, mas nos jornais e televisões?
E então, já percebeste, ó Afonso de Albuquerque, porque é que somos o país mais atrasado da europa? Se não percebeste, és burro, porque melhor explicado que isto não encontras em parte nenhuma.
Quanto à segunda questão, só vem exemplificar e atestar da ancestral inconsequência, desorganização e bacoquismo das nossas iniciativas e legislações: aboliram a pena de morte, mas esqueceram-se de avisar o carrasco (a própria, a Negra Ceifeira, eh-eh)...Já passaram mais de cem anos e continua a executar-nos que nem tordos! Não escapa ninguém! Foda-se, e somos condenados à morte logo à nascença, sem processo judicial, culpa formada nem quaisquer quesitos de prova! Ainda mal piamos e já estamos fodidos, ai não! Processo mais ultra-sumaríssimo não conheço. Nem na Liga. Eu bem disse pra te segurares, ó Albuquerque!...»
E pronto, caros visitantes, por hoje é tudo. Escusam de implorar; amanhã há mais. A piedade nunca foi o meu forte.

Digam, injuriem, perguntem!... Aqui fica o Email.


A pedido de várias famílias (é mentira, mas não faz mal), passa a estar disponível nesta espelunca o mail da casa(dragolabaredas@hotmail.com). Recomenda-se, especialmente, a todos os que desejem injuriar-me em privado. Se for para encómios, ou apologias, poupem-se ao trabalho. Prefiro andar à porrada, que beber chá.
Acresce que, como vou reabrir aqui neste blog o "Consultório Sentimental" que, aqui há quase dois anos atrás, mantinha num fórum estranhíssimo, serve também -o tal mail- para todos/as interessados/as me enviarem as suas questões e problemas existenciais, ou quaisquer outras que os/as atormentem. Não ficarão sem correctivo, digo: resposta.

E não se esqueçam (parafraseando outras épocas):

O Vinho é que induca, o Dragão é que instrói!...

Ah, e já me esquecia: Doravante, este blog passa a estar em parceria com a revista "Maria". Quem é amigo, quem é?!...

Felizardos!...

A Verdade sobre as ADMs (em três actos)


«CIA dá por terminada busca sem êxito de armas no Iraque
O inspector de armas da CIA, Charles Duelfer, deu por encerrada na segunda-feira, e sem êxito, a busca das armas de destruição em massa no
Iraque.»


Estes gajos, claramente, andam na balda. Já nem os blogues americanofobos, como este, lêem. Senão teriam sabido, há mais de um ano, onde o Saddam, o verdadeiro, esconde as Armas de Destruição Maciça. Em Janeiro de 2004, já este blogue expunha toda a trama...

I
"É evidente que o Saddam Hussein estava carregado de ADMs (Armas de Destruição Maciça). Nem é preciso ir perguntar ao Luís Delgado: é uma coisa que ressalta à vista a olho nu. Só que as escondeu muito bem escondidas, é óbvio. É óbvio e é tipico destes tiranos doidos, megalómanos, lunáticos. E onde é que um tirano lunático esconderia esses tesouros adorados? Está bem de ver: se os piratas das Caraíbas corriam a enterrar as preciosas arcas em ilhas ignotas, o Saddam que é um megavilão, com meios formidáveis ao seu dispôr, socorreu-se da mais inacessível de todas as ilhas: a Lua, pois claro! Macacos me mordam, se ele, como super-lunático que é, não enterrou as ADMs no solo lunar!... Direi mais: quase que apostava que a própra AL Qaeda, a esta hora, já se transferiu também, de armas e bagagens, do Afeganistão para lá.
Porque é que vocês acham que os Norte-Bushianos, subitamente, desataram com aquele interesse pelo sítio, ãh?!... Não me lixem: O Bush não brinca em serviço. Chamem-lhe parvo!...Deliro? Mango c'o pagode? Então recapitulai comigo: Esses calhaus que todas as noites riscam a atmosfera, em queda lá dos éteres, chamais-lhes meteoritos? Isso é o que vos impingem os media e os cardápios das escolas: conversa pra adormecer papalvo. Racioinai, ó criaturas: Aquilo, é mais que evidente, são mas é os gajos, os terroristas e o Saddam original, com as catapultas balísticas de cruzeiro, as fisgas monumentais de longo alcance, à pedrada à nossa civilização!...Pedrada, meu amigos...pedrada da grossa!... Quereis maior prova de que há árabes por detrás?

II
Um leitor mais renitente aos portentos da razão e aos requintes da lógica, poderá obstar-me com a seguinte alarvidade:
-"Pois, pois, ó Dragão...Mas não nos queres dizer como é que eles, o Saddam Original e os terroristas AlQaidianos, faziam para chegarem à Lua? Não consta que disponham de naves espaciais para o efeito, ora essa!..."
E eu começaria por comentar para com os meus botões:
-"Foda-se, é com cada anjinho que um gajo atura nesta vida!..."
E depois, num salto ágil, de pantera filosófica, esmagá-lo-ia com a contundência afiada dos seguintes argumentos:
a) "Ouve lá, nunca leste ou ouviste as poesias do Luís Delgado, o inefável tradutor português do WC Bush, Rumsfeld, Powell e todos esses sábios do nosso tempo? (foda-se, deves ter lido, porque ele escreve e declama por tudo quanto é canto!...) Pois, se leste, ouviste, etc, certamente te arrepiaste com os prodígios (todos eles horríveis) de que esse Saddam e associados são capazes!...Quem desenvolve ADMs tão medonhas, que dificuldade terá em confeccionar, alugar, comprar ou meramente roubar Naves Espaciais sofisticadas? Ãh, não me dizes?!...Atrás das ADMs vêm fatalmente as NEs (Naves Espaciais Sofisticadas), toda a gente sabe. Muitas vezes, até em conjunto com os SEs (Satélites Espiões) e as SAs (Sociedades Anónimas)...
b) As alianças e parcerias estratégicas entre Saddam, Bin Ladden, Satanás, o Anti-Cristo e o Mancha negra já não oferecem dúvidas - a não ser que comecemos a duvidar da palavra de pessoas acima de qualquer suspeita como o Capitão América ou o Rato Mickey (o que, convenhamos, nunca nos passaria sequer pela cabeça!)
c) Assim sendo, qualquer um deles, o Saddam Original ou o AlQaidianos, poderia entrar na posse de técnicas tenebrosas aprendidas com o Conde Drácula, como transformar-se em morcego, neblina ou lobisomen, sendo que na forma de neblina poderiam viajar de ida e volta à Lua em menos de nada!...
d) Todavia, ( e aqui entra em acção a lógica transcendental e a jurisprudência macrobiótica), não terá sido nem de Nave Espacial, nem por neblinobolia que chegaram à Lua...Havia um método bem mais simples e familiar: Escavaram um túnel!...Aliás, escavaram oito túneis: o que já vinha profetizado na Bíblia, há mais de 2000 anos. Só um deles é verdadeiro e conduz à Lua. Os restantes são falsos e conduzem a nenhures, sendo guarnecidos pelos sete sósias do Saddam Original. Quem é que tu achas que os americanos apanharam, aqui há uns dias atrás?..."

III
Posto que, finalmente, já sabemos onde estão as ADMs, bem como o Saddam Original e o Bin Ladden, resta agora avaliar que planos maquiavélicos são os deles.
Mas antes da grande revelação, alguns pormenores significativos pra criar suspense:
1. Sabe-se que têm armazenado grandes paióis de ADMs e TNT avulso na face escura da Lua. Naturalmente, porque é a face que nunca se vê, estando portanto ao abrigo dos olhares indiscretos do telescópio Huble, dos satélites espiões e do Nuno Rogeiro; e, sobretudo, porque os americanos são de tal modo estúpidos e imprevidentes que se esqueceram de instalar faróis nos Vaivéns, sondas e módulos de alunagem.
2. Vários arrependidos da AL Qaeda são unânimes em denunciar aquela que é a série televisiva de culto de Bin Ladden e do médico louco com quem costuma jogar xadrez e planear demolições: "Espaço 1999". Ao que parece, passam tardes a visionar os dois primeiros episódios.
3. Furiosa com a ineficácia do Telescópio Huble para ver a face escura da Lua, a administração Bush já mandou cortar as verbas para a respectiva manutenção.
Por conseguinte...Somados estes dados, sopesados estes indícios, não é preciso ser-se um Einstein para orçar que caldinho tenebroso Saddam, o Original, mais os mega-terroristas, andam a cozinhar. Pois, é evidente:
Vão aplicar uma mega-explosão na Lua, de modo a retro-propulsioná-la para fora da sua órbitra natural, feita cometa louco, e lançá-la em voo picado, arrasante, sobre os Estados Unidos. Um verdadeiro meteoro terrorista e suicida!
E se dois aviõezitos já causaram aquele estardalhaço todo, nem quero pensar no que vai ser quando levarem com a Lua toda, inteira, em cima!...»

Caros Américas, façam como o Clark: quando não souberem, perguntem.

segunda-feira, abril 25, 2005

Hoje é Primeiro de Abril (o verdadeiro)


Vamos celebrar o quê?
Trinta anos depois, cansados de banha da cobra, bezuntados até à medula, lá vamos descobrindo suavemente, frouxamente, como convém, que tudo isto serviu para termos dois "primeiros de Abril" no mesmo mês. Só que o segundo com honras de estado e feriado nacional. Na verdade, ao contrário do anterior, que é mundial, este, o segundo, é só nosso. Gastámos trinta anos, um país, todas as vértebras, para conseguirmos um "Primeiro de Abril" só para nós.
Ali, na sala ao lado, a senhora Dragão, zangada com qualquer pintelhice, escuta o Nick Cave, que canta, semi-possesso: "Alleluia!..."
Juntemo-nos ao coro: "Alleluia! Oh, Lord...Oh sweet Lord!..."
A sério, querem saber o que eu penso da política portuguesa dos últimos trinta anos e do regime libertadeiro da denominada "Terceira República"?
É simples: Não fodem nem saem de cima!

sábado, abril 23, 2005

Antologia Caguinchiana


I
Ultimamente, aqui, na tasca -aliás, Ciber-tasca-, andam a contecer coisas estranhas; fenómenos deveras bizarros. O mais recente fez-se transportar na pessoa do Caguinchas, que, todo apessoado e decidido a uma pernoita excitante, me abordou com a seguinte trignometria:
-"Ó Dragão, estou aqui um bocado hesitante...Preciso da tua opinião!... Confesso que já não percebo nada destes anúncios!..."
Os anúncios em questão referiam-se àquelas páginas eróticas, onde hordas de gente voluntariosa se disponibiliza a todo o género de serviços corporais e prazeres de aluguer.
-"Pois, pá - continuou ele-, antigamente um gajo não tinha que tirar um curso superior pra perceber o que uma puta dizia, mas agora...foda-se!, é com cada equação do terceiro degrau!..."
Abreviando; em que consistia o problema do Caguinchas? Debatia-se, nada mais nada menos, que com uma série de termos esotéricos que lhe torpedeavam a avaliação das candidatas. Dizia uma:
"Sozinha...Trintona! Oral explosivo!! Rapadinha..."
E o Caguinchas interrogava-se, perplexo: "ouve lá, isto do oral explosivo quer dizer que a gaja é árabe, ou quê?! E a raspadinha, quer dizer que no fim temos direito a um cartão da lotaria popular?!..."
Como podem ver, no fundo o que Caguinchas requeria era um tradutor de putaguês para português. Como domino o idioma, não vi inconveniente em fazer de intérprete.
-"Nada disso, ó Caguinchas. - Acalmei-o. - Eu traduzo: "oral explosivo", quer dizer que a gaja é especialista em broches; e (rapadinha) que não tem pintelhos na cona!..."
-"Não tem pintelhos na cona?!! - Alarmou-se o Caguinchas. -"então tem-nos aonde: Debaixo dos sovacos?!...
-"Não pá. -esclareci-o. -Significa que rapou a pintelheira! Enfim, americanices!..."
-"Rapou a pintelheira?!! - Continuou a alarmar-se o Caguinchas. - Mas também há barbearias de conas?!...E agora, como é qu'um gajo distingue o buraco da cona do buraco do cu?..."
Enigma transcendental, de facto. O Caguinchas achava tudo aquilo muito suspeito. O caso não era para menos. Chumbou a candidata e passámos à seguinte, que arauteava desta maneira:
"Promoção Inverno. Lisboa...marisa...Loiraça, insaciável...Corpinho violão...beijinhos...natural...BotaozinhoRosa...Bumbum furacão...Oral natural...Alucinante!! Sem borrachinha...3ª oportunidade! Até rebentar!!"
O Caguinchas, pasmado, estava convertido num autêntico boi a olhar pra um palácio; e até eu, putanheiro moderno e encartado, com pós-graduações várias e cursos de actualização permanentes, dei comigo às aranhas para interpretar tal palimpsesto. Entretanto, enquanto eu relia o aforismo abstruso, o Caguinchas, como é seu estilo, disparava comentários a torto e a direito, cada qual mais brilhante que o anterior:
-"Loiraça insaciável?, isso quer dizer que a gaja deve ser uma alarve! mas se julga que eu lhe pago o jantar..."
-"Não, ó Caguinchas. - Meteu-se na conversa, o Dinossauro - Isso quer dizer é que a gaja te come todo!..."
-"Foda-se! - Trovejou o Caguinchas, visivelmente indignado. - Mas que merda vem a ser esta? Atão um gajo é que paga e a puta é que come?...Mas que putas vêm a ser estas?...Eu quero comer uma puta, caralho!... Um puta normal, com cona e pintelhos à volta da cona!...Como, limpo a piça, e pago! É assim. Foi assim que o meu pai me ensinou!...Isso de putas insaciáveis devem ser mas é putas canibais!..."
Mas o pior ainda estava pra vir. Uma aragem de sacanice começou a insinuar-se pela sala e tanto eu como o Dinossauro trocámos olhares furtivos de conluio avacalhador.
-"Pois, -intervi eu, disposto a conduzir o Caguinchas a novos abismos de desespero -, e não sei se estás a ver o que é isto do "BotaozinhoRosa"..."
-"Rosas?! - exclamou, o Caguinchas. - Não me digas que agora também temos que oferecer flores às putas, ou então que a gaja é socialista!...Foda-se, eu só quero mudar o óleo, não lhe quero pedir namoro, nem discutir política!..."
-"Nada disso. - Volvi, munido de toda a sacanice de que era capaz e antegozando já o efeito do que se seguiria. - Isto significa que a gaja te lambe o olho do cu e te enraba com a língua e tudo!..."
A cara que o Caguinchas fez, só vista. Parecia que os olhos lhe iam saltar pelo nariz abaixo, como nos bonecos de desenhos animados.
"Como?!!! Foda-se!, mas isso é puta pra homens ou pra panascas?!! - Bramou, escandalizado e ofendido.
-"Mas pensa nas contrapartidas... -Manobrou, o Dinossauro, pela outra banda. - "Bumbum furacão, oral natural, alucinante, sem borrachinha, ãh, um luxo!..."
- "Sim, -reforcei eu, - não te esqueças que se trata duma promoção de inverno!..."
Mas o Caguinchas estava-se pouco marimbando prás promoções, saldos ou rebaixas todas que houvessem. Aquilo cheirava-lhe mas era, a léguas, a uma liquidação geral: a dele.
-"Bumbum furacão"? - Arrepiou-se todo, antevendo já horrores atrás de horrores. - Isso, quase que aposto que quer dizer que a gaja dá peidos ciclónicos, não?!..."
-"Não. -Tranquilizei-o. - Isso apenas quer dizer que lhe podes papar a bilha. E mais: até te faz broches sem camisa!..."
-"Mas vocês julgam que eu sou maluco e analfabeto, ou quê?! - Atroou, qual Krakatoa, num arremedo altivo, de macho brioso. - Ainda sei ler, cum caralho!... Insaciável, furacão, alucinante, oral natural, até rebentar...foda-se, 'tá bem de ver que a gaja é mas é uma puta antropófaga, devoradora de otários!... e qual camisa qual carapuça!...Foda-se, eu, é que nem dentro duma armadura lhe confiava a piça!...E sabem que mais? É diante de putas destas, que um gajo proclama: "abençoada a punheta!"...
E não disse mais nada. Bazou porta fora, furibundo, à procura duma revista pornográfica, presumimos.
Ficámos, eu e o Dinossauro, a olhar um pró outro, meditabundos. Em tudo aquilo, havia um detalhe que nos intrigava: "3ª oportunidade!!" Que raio significaria aquilo?
Um verdadeiro mistério...Mistério que até à data não conseguimos decifrar.

II
O Caguinchas, com esta erudição toda das putas, mais as americanices adstritas, anda a ficar inconsolável. O alívio manual, decididamente, já não o satisfaz. Mas, por outro lado, a verdadeira fobia que desenvolveu em relação às novas modalidades de putaria, continua aguda. Como há vícios que só se podem combater com outros vícios ainda piores, refugiou-se no jogo. Não há tugúrio de batota clandestina que não peregrine, nem casino manhoso que não frequente. O problema é que está a ficar sem crédito em quase todos eles. "Sem crédito", é forma de dizer: na verdade, parece que tem mesmo é a cabeça a prémio.
Enfim, deve ter sido por causa dessas complicações todas que ontem chegou ao pé de mim, cheio de ares furtivos e solertes, reclamando paternidade para o seguinte projecto:
-"Olha-me só esta mina, ó Dragão!..."
Em simultâneo, ia-me mostrando a página de anúncios dum matutino nacional, onde rezava: "Mãe de santo brasileira, joga-se cartas e búzios...telef:...."
E ainda mal eu tinha acabado de ler e avaliar a tal mina, já ele rematava:
-" Pá, búzios deve ser assim uma espécie de dados... Tratas tu deles, que eu trato das cartas!...Depenamos aqueles patos, que é um ver se te avias! E no fim, com um bocado de sorte, juntamos o útil ao agradável e ainda papamos a brasileira!...Ãh?! que é que me dizes: ideia do carulho, não?!..."
E como eu tardasse a sair da estupefacção em que a sua arquitectura temerária me mergulhara, o Caguinchas, todo pintas, reforçou a dose:
-"Oh pá, o filho é santo, quer dizer que deve ser um g'anda anjinjo que até nos agradece por lhe comermos a mãe!... A não ser que não gostes delas maduras!?..."
-"Não, ó Caguinchas: gosto, gosto." - Reagi, finalmente.
E é verdade. Por isso lá fomos os dois, depenar os patos e comer a mãe ao santo. Sempre me ensinaram que nunca se deve contradizer um doido.

III
Acabámos por não comer a mãe ao santo. Isto, porque o Caguinchas, um raios o partam, pelo caminho, teve um momento de hesitação, expresso na seguinte dúvida existencial:
-"Ó Dragão, mas a brasileira mãe do santo não é daquelas que barbeia a cona, pois não?!..."
Aí, eu, diabos me levem, não resisti. E proclamei-lhe o seguinte:
-"Não, ó Caguinchas, fica tranquilo: não é dessas. Até porque, sendo mãe de santidade, para ela a cona é sagrada, portal beatificado! Só se lhe pode ir ao cu!...
"O Caguinchas começou logo a ficar desconfiado. Mesmo assim ousou uma segunda tentativa:
-"Mas fazem mamada, ou não?!..."
-"Sim, sim... - Acudi-lhe, pressuroso. - Fazem broches celestiais. Mas convém ficares-lhe atento aos olhos..."
-"Aos olhos?!!...- Espantou-se, o Caguinchas.
-"Mas porquê: hipnotiza-me?!..."
-"Não. - Retorqui, com o ar mais angélico deste mundo. - É para topares quando ela os começa a revirar..."
-"Chiça, não me digas que ela se vem a chupar!..." - Precipitou-se, incrédulo, o Caguinhas.
-"Nada disso. -Corrigi-o. - Quando os olhos começam a revirar-se não significa que está a ter um orgasmo: significa é que está a ter um ataque epiléptico!..."
-"Foda-se!!..." - Arrepiou-se todo, o Caguinchas. Que até os tomates (jurou ele no dia seguinte, quando lhe voltei a pôr a vista em cima) se lhe encarquilharam.
Por causa disso, claro está, já não fomos. Que querem, a sacanice é mais forte do que eu.

sexta-feira, abril 22, 2005

Melomania III

O que é que eu penso da "música pimba"? O mesmo que penso da "literatura light"; e exactamente o mesmo que me ocorre sobre "futebol entre tetraplégicos": apesar de tudo, sempre era preferível a natação.

Minhas senhoras, curvo-me...


Eu não devia dizer isto. Mas como amo mais a verdade que as conveniências, digo-o. Mesmo sabendo que no futuro poderá ser usado contra mim. Basicamente, é o seguinte: Eu, Dragão, porco machista, marialva dos quatro costados, último dos ferrabrazes, tenho levado uma bela ensinadela das senhoras mulheres aqui na blogosfera. Tenho mesmo descoberto nelas (com mágua o reconheço, pelo meu próprio género) mais coluna e valentia que em grande parte dos homens aqui do "blogbairro", uns verdadeiros nenúfares.

A começar na Zazie, por uma amizade bem temperada, e com destino especial à Laurindinha e à Margarida, pela amabilidade sempre imerecida que tiveram comigo, eu, num rasgo excepcional de humanidade, dedico-lhes o que se segue (tem 15 anos e foi escrito, algures, nas savanas de África):

GENESIS

Quando tudo era triste, negro, e a Terra poeira incerta
Olhos sonhadores nas trevas forjaram vida acesa;
Do caos informe, com a Palavra, arrancaram beleza
e, assim, criando, Deus se fez poeta.

Não será tudo realmente um poema -a Terra e os Céus?
E nós próprios, em vez de escravos, bons ou maus
não seremos antes misturas de Treva e Caos
com a desesperada poesia de Deus?...

Foi por a fealdade à sua volta se afigurar tão insuportável
a solidão tão amarga e o silêncio tão profundo
Que Deus teve essa necessidade desculpável

de tudo mascarar co'a beleza de versos seus.
E ainda hoje, amargamente, solitário, moribundo
o poeta sofre, recria o mundo e, assim, sem fantasia, se faz Deus.



PS: Não digam a ninguém que eu postei isto. Ainda me arruina a reputação.

Notícia preocupante

Juntas médicas avaliam 1119 professores

Suspeito que, em bom rigor, não seja apropriado. Uma parte significativa de professores, e a grande parte dos alunos e respectivos encarregados de deseducação reclamam, urgentemente, isso sim, é por uma boa "Junta veterinária".
No mínimo, com um especialista em solípedes.

Excelente Notícia

"Parlamento espanhol aprova casamentos entre homossexuais".

Agora, depois de legais, já só falta declará-los obrigatórios. Tenhamos fé.
É sempre reconfortante ver os espanhóis a encaminharem-se, com boa desenvoltura, para a extinção.

E se eu fosse Nacional-Socialista?...


1. Seria estúpido.
Ser Nacional-Socialista não sendo alemão é tão anedótico como ser sebastianista não sendo português. Ou mesmo ser "Neoconas" não sendo americano.

2. Seria aberrante.
Mas não mais aberrante que ser BE, neoliberal ou anarco-capitalista. Ou marxista-leninista, maoista ou espanhol.

3. Seria obsceno.
Mas não tão obsceno quanto ser do Benfica.

Estamos entendidos, ó Caguinchas?...

quinta-feira, abril 21, 2005

Breve história moral

Dantes, ao princípio, queria viver muito feliz. Mas ainda era novo, inexperiente, ingénuo. Tinha desculpa.
Depois, começou a compreender melhor as coisas e já não queria viver feliz. Deixara-se de exageros, estava melhor... Ainda um pouco renitente, é certo, mas quase a perceber as regras do jogo.
Por fim, aclarou as ideias, refinou a personalidade, e o que queria mesmo era viver infeliz. Estava maduro, sem dúvida. Aprendera, nitidamente. Progredira, muito. Deixaram-no até votar.
Hoje em dia, sabe tudo, desembaraçou-se de quaisquer dúvidas. E corre aflito dum lado para o outro, implorando, suplicante: Se ao menos o deixassem viver...

quarta-feira, abril 20, 2005

Vão chamar Papa a outro!...


Eu não sou católico. Não sou, pronto, e a culpa é de Deus. O Deus dos católicos, quer dizer. É demasiado judeu e romano para o meu gosto. Há Jesus a menos e Paulo de Tarso a mais. Isso e umas duas ou três incapacidades minhas, estruturais, congénitas, para o decálogo – aqueles 6º, 7º e 10º mandamentos, convenhamos!...Especialmente o 6º... Quanto mais não fosse, a existência de espanhóis, entre outras, impedir-me-ia de ser católico.
Mas isto de não ser católico é problema meu. É entre mim e o Criador: no fim acertamos as contas. Eu e Ele. Dispenso intermediários, mediadores, alcaiotes das alminhas.
Em contrapartida, assim como as minhas telhas são problema meu, já o papa é problema deles, dos católicos. Deles e de mais ninguém.
A mim, se elegem fulano ou sicrano, se o espírito santo decreta este ou aquele, é-me rigorosamente igual. Se é preto ou branco, brazuca ou ariano, conservador ou liberal, eles que o aturem. Até pode ser chinês, que os abalos são os mesmos. Meto-me na nomeação dos ayatholas? Intrometo-me na vida do Dalai Lama? Mando palpites ao patriarca ortodoxo? Então, porque carga de água, havia de estar para aqui a rosnar ao conclave, a ladrar à chaminé ou a dar urros e a descabelar-me à varanda?!
É forçoso que ser de esquerda (ou liberal, que é a "esquerda-light", descafeínada e sem álcool) seja sinónimo de ser um badameco dum incontinente mental e, sobretudo, verbal, que, a toda a hora, faça chuva faça sol, tem que estar a cagar postas sobre tudo e mais alguma coisa?
Quer dizer, assim como os papa-hóstias, de todas as capelas, se arrogam em detentores exclusivos da procuração divina, estes putativos "não-papa-hóstias" armam em procuradores auto-arvorados da humanidade, em baluartes honorários da filantropia e do progresso. Sabem o que vos diz esta porção de humanidade? Certamente adivinham e prende-se com o orifício materno.
Mas, entretanto, aqui d’el rei, que os católicos elegeram um papa católico. Havia de ser o quê? Protestante? Muçulmano? Socialista? Devia ser democraticamente eleito, pela chusma que faz da opinião uma espécie de cagar aos cantos ou mijar nos muros? Para ser correcto, está-se mesmo a ver, na opinião destes campeões de muceque, o conclave devia ser televisionado, estilo "capela das celebridades", com a Júlia Pinheiro a fazer as honras, em directo na TVI, e à mercê dos caprichos e votações da choldraboldra, a expulsar cardeais até que só restasse uma espécie de bicha Castelo Branco, de anel e mitra.
Ainda bem que o papa é católico, puro e duro, sem meias-tintas. Para metrossexuais do pensamento já nos basta toda esta turba, sem credo nem vértebra, sem coluna nem fé, sem princípio nem fim, nada, excepto um cabrão dum ego inflacionado, a ameaçar as estrelas e a eclipsar o sol. Com tanta metrossexualidade política, dispensamos bem, ainda mais, a metrossexualidade religiosa.
Talvez Jesus, lá onde está, se envergonhe de muita da proclamada "direita" que por aí grassa, e de católico, como diria Pessoa, e dizem alguns filósofos, tenha muito pouco. Mas, mesmo ele, na sua infinita humanidade e misericórdia, mandou dar a outra face, não mandou dar o cu.
Assistindo ao histerismo peixeirante de toda esta escumalha das ideias, a toda esta vaselina de plantão ao pensamento, a mim, até me dá vontade de ir ser católico. Sempre é preferível a hóstia, via oral, que o mesmo remédio, só que mais concentrado, sobredosado, esterilizante, e em forma de supositório expresso, pelo fundilho da coluna.
Vergonha dos homens, vergonha da esperança num mundo melhor, é toda uma "esquerda" pidesca, bufa, cretina, a espernear e a espumar epilepticamente. Com uns argumentos e poses de tal modo estimulantes, que, um dia destes, não resisto e corro à feira da ladra a enfarpelar-me numa farda das SS (vi lá uma das Tottenkampf, ainda não há muito tempo, toda catita). Vai ser uma carga de trabalhos para me fazerem despi-la. Acho que até vou dormir com ela.

Melomania II



Apregoam-me os primores da ópera. Não consigo deixar de me arrepiar com as manias: o histerismo guinchador delas, a guturalidade ululante deles. Sugerem-me que vá de fraque; que, no fundo, aquilo serve apenas de pretexto para desfilar toilettes. Bem, irei. Mas só se for de buldózer.

E agora para algo completamente diferente...


Enquanto o descalabro não se instala (a piorar o caos), eu aproveito para cumprir o prometido. A pedido desta estimada senhora e deste insigne cavalheiro, eu, Dragão, uma vez sem exemplo, vou responder a uma praga chamada "chain letter". Como geralmente sou do contra, e porque se trata duma coisa muito pouco séria, eu, para vosso espanto, vou responder com integral seriedade. Aproveitem. É um fenómeno muito raro.


1 - Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

R.- O "Prometeu Agrilhoado", de Ésquilo

2 - Já alguma vez ficaste apanhado por um personagem de ficção?

R. - Convertamos o "apanhado" em "influenciado". Eis a lista:
- Ulisses (de Homero, o original; não confundir com a merda do Joyce)
- Toby Shandy e o Cabo Trim (de Sterne)
- D. Quixote (de Cervantes)
- Panúrgio (de Rabelais)
- Capitão Cap (de Alphonse Allais)
- Sapo-no-Buraco, ( de Quincey)
- Senhor Ubu ( de Jarry)
- O Major (de Boris Vian)
- Eu próprio (sou um personagem de ficção, ou ainda não tinham reparado?...)

3 - Qual foi o último livro que compraste?

R.- Sou um bibliomano desenfreado. Quer dizer que nunca compro apenas um livro. No último Natal, por exemplo, saí com o dinheiro para comprar prendas para toda a família e amigos, sob instruções rigorosas da senhora Dragão e, depois, gastei alegremente o dia a vasculhar alfarrabistas e a torrar a bela maquia em livralhada. Refugiei-me, entretanto, numa pensão providencial que há ali para os lados da Graça. Quanto à questão, se bem me lembro, a última catrefada que angariei (se vos dissesse onde, não acreditariéis), incluia:
* "Cozinha Arqueológica", do Eça de Queiroz
* "Novos Cadernos do Major Thompson", do Pierre Daninos
* "Barba-Azul", do Kurt Vonnegut (e não vos maço mais)

4 - Qual o último que leste?

R.- "Zazie no metro" (ou "Zazie dans le metro", para não ferir susceptibilidades), de Queneau (comprei-o na feira da ladra, por 1€) .

5 - Que livros estás a ler?

1. "Os assassinos, uma seita islâmica radical", de Bernard Lewis (estou a acabar); "Novos Cátaros para Montségur", de Saint Loup (vou no princípio).

6 - Que 5 livros levarias para uma ilha deserta?

R: 1. "Odisseia", de Homero
2. "As Viagens de Guliver", de Swift
3. "De Profundis", de Thomas de Quincey
4. "Assim Falava Zaratustra", de Nietzshe (um homem experiente no assunto, pois, como sabemos, viveu toda a sua vida numa ilha quase deserta)
5. Um bom livro de culinária, especializado em grelhados (ou então qualquer manual de economia neoliberal, caso tivesso que me entregar ao canibalismo)
PS: Levaria mais livros. Uma ilha deserta, como este mundo, são insuportáveis sem uma boa biblioteca.

7 - A que 3 pessoas vais passar este testemunho?

R: Só para os chatear e porque não gosto de ser parvo sozinho: ao Dodo, ao R e ao BOS (são tipos com fino sentido de humor que, ao contrário de mim, serão capazes de dar umas respostas com piada. E também por curiosidade minha). A título particular, também à minha amiga Zazie, que fará o favor de responder na caixa de comentários, senão vou lá a casa e escaqueiro-lhe a máquina de lavar e o secador de cabelo (esta, com as mulheres, é infalível...)

terça-feira, abril 19, 2005

Fujam!...

Estimados -e certamente incautos - visitantes,
Ponde-vos ao fresco, enquanto podeis. Se este já não era um sítio recomendável, agora ainda vai ficar, certamente, pior. Não é possível, direis vós. É, é; garanto-vos que é. Basta dizer-vos que aqueles facínoras da Rádio Vulva FM e eu chegámos a um acordo para que voltem a ciber-emitir aqui. Pelo menos enquanto mantiverem refém o gato Doc e o secador de cabelo da senhora Dragão. Filhos da...!
Vão-me dar cabo da meia dúzia de freguezes... Estou desgraçado. Aqueles javardos não respeitam nada!...

Melomania


Uma coisa é não gostar de Jazz. Outra, bem diferente, é achar que os músicos de jazz deviam ser abatidos a tiro. Eu, confesso, hesito entre ambas.

Dragão e Cavalheiro - Parte II.


Fiquei a saber, com indignação justiceira, que a minha amiga Pérola tem uma putativa rival na blogosfera.
Minha cara Margarida, sem qualquer desprimor ou irreverência para com o senhor seu marido, que estou certo ser um astro radioso coroado de virtudes incomparáveis, quero dizer-lhe que aqui para este velho e belicoso Dragão, famigerada criatura dos abismos, monstro cumulado de defeitos, pérola só há uma. E por muito prendada que seja a sua rival, e por certo é, a meus chispantes mas cristalinos olhos, jamais lhe chegará aos calcanhares. Serei bruto, mas não sou cego.
Que Deus a guarde!
Porque se Ele não guardar, guardo-a eu. Entre nós, dragões, é tradição ancestral guardar tesouros.


PS: No grego "Margarithes" significa "pérola" (Como "margaros" é o "coral donde se extraem as pérolas").

Fúnebres perspectivas

«Funerárias ameaçam entrar em greve
As associações que representam 85% das agências funerárias do País estão a ponderar a possibilidade de fazer uma greve, devido à publicação de uma nova lei que regulamenta o sector aprovada pelo Governo de Santana Lopes.
De acordo com a edição desta terça-feira do Correio da Manhã, esta lei poderá levar ainda a «uma invasão de Lisboa por carros funerários» ou ao «bloqueio das entradas do cemitério», anunciaram as associações.
Em causas estão as mudanças impostas na nova lei, sobretudo a que permite a diminuição do número mínimo de funcionários das funerárias que de quatro passam a ser obrigadas a ter um.
Com esta lei, além dos cerca de três mil funcionários que vão para o desemprego, fica aberta a porta à clandestinidade, afirmou o presidente da Associação de Agentes Funerários de Portugal (AAFP), João Moura.
Este responsável acrescenta ainda que com este novo regulamento «um dos maiores prejudicados é o consumidor que passará a ser mal servido ao cair nas mãos de agências clandestinas».
»

Notem, meus amigos, para além do surreal-macabro da notícia, o sublinhado a vermelho. A pergunta que logicamente nos ocorre é: como é que um gajo sozinho transporta o caixão (ou o féretro, se preferirem)? Leva-o de rojo? Tem que ser um brutamontes, um hércules capaz de carregar com a cangalha às costas? Recorre ao uso dum monta-cargas, como aqueles moços de bata azul nos hipermercados? Pede à família que dê uma ajudinha? Subcontrata pretos ou ucranianos, à tarefa? Faz como?

E a família do "consumidor", ao ver o seu ex-ente querido a ser levado em qualquer dessas formas pouco ortodoxas, o que pensará? E o João Miranda?

Meditemos.

Em todas estas questões pertinentes, enquanto Lisboa não é invadida por carros funerários e as entradas dos cemitérios não são barradas por exaltados abutres aos buzinões.

É o que a Democracia tem de mais genuíno: a ubiquidade da anedota. O grotesco ao virar da esquina.

segunda-feira, abril 18, 2005

Dragoscopia

Deus existe. A minha filha, Mozart, J.S. Bach e Homero são prova eloquente disso.

domingo, abril 17, 2005

O Grande Mistério dos Blogues (2)

Sou um ígnaro destas novas tecnologias, um pedregulho completo! Vejam lá bem que eu estava convencido -convencidíssimo, temo reconhecê-lo-, que aqueles contadores com números -da Bravenet, Sitemeter e outros que tais-, que emolduram -e dignificam com aquele ar de cockpit de rally- os blogues, contabilizavam o número de visitas. E apenas isso. Pois, nada mais falso, dignos basbaques que me espiais desse lado do écran. Grosseiro equívoco da minha parte. Burrice digna de estátua, fiquei hoje a saber. Felizmente, ainda há gente caridosa. Gente solidária, gente que quando assiste ao seu semelhante a espalhar-se ao comprido, num estampanço monumental, ainda lhe estende a mão, ainda se compadece, em vez de desatar às gargalhadas alarves ou em soslaios malévolos de "é bem feita!".
Valeu-me uma alma dessas, anjo disfarçado de criatura, por certo. Senão, lá morreria eu nesta ignorância contundente e embarcaria para o outro mundo embalado na mais deprimente paspalhice. Revelou-me esse santo (pessoa experiente e vivida), que afinal, e ao contrário do que eu estupidamente supunha (nunca é demais sublinhá-lo), os tais contadores, severos e objectivos mostruários, não computam o número de visitas mas sim, isso sim, (como é que eu nunca tinha reparado?!) o coeficiente intelectual dos bloguistas!
É claro que esta verdade elementar e óbvia, para vocês não é novidade nenhuma. Mas para mim, simplório militante, confesso que me deixou um tanto ou quanto perplexo. O meu interlocutor, porém, exterminador implacável, acabou com todas e quaisquer dúvidas que ainda me infestassem o espírito.
Eis como o prodígio funciona: parece que os blogues, afinal, não são meras ciber-montras das telhas de cada um. Não; os blogues, em boa verdade, funcionam como uma espécie de dinamonóias -quer dizer, acumuladores de inteligência. Nem mais. Através dum complicado processo de osmose simpática -que ele me explicou muito bem, mas do qual, confesso, não entendi patavina-, o bloguista - o demiurgo blogopédico, melhor dizendo-, absorve parte da inteligência dos visitantes. Resumindo: os visitantes são essencialmente depositantes. Ao abrirem a página, estão a contribuir para o enriquecimento intelectual do mentor. O que me leva a crer que os visitantes são igualmente contribuintes. (Desconfio até que, no fundo, se trata dum fenómeno qualquer paranormal, psicovampirismo ciberfórico ou coisa que o valha, mas isso deixo ao vosso critério). O que é certo e seguro, estudos comprovam-no (a Universidade J. Hopkins não dorme), é que quanto mais visitas tem, mais inchado e arrotante o visitado se torna. E também mais guloso e ávido. Aquilo, nitidamente, transtorna-lhe o juízo -quer dizer, hipertrofia-lho, expande-lho a uma velocidade superior à do universo pós-BigBang. A hipótese do buraco negro intelectual, espécie de anti-matéria psíquica que absorve tudo quanto dele se aproxima (ocorreu-me agora a talhe de foice) também não é de menosprezar.
Mas este Big-Bang, Ping-pong ou Gang-bang espiritual, acarreta outras consequências não menos bizarras. A eclusão de castas é uma delas. Com os dados objectivos sobre a inteligência de cada qual que o intelectómetro, com rigor científico e precisão suiça, proporciona, era forçoso que tal acontecesse. Não sei qual a denominação correcta para esse tipo de conjuntos homonoéticos que funcionam à maneira das castas. Se fossem ovelhas, seriam rebanhos; se fossem vacas, seriam manadas, se fossem peixes, enfim, seriam cardumes. Mas assim, francamente, não sei como chamar a uma resma de génios ou de mentecaptos, conforme a circunstância. Como o fenómeno funciona um pouco à semelhança da "Hierarquia Celeste", do Pseudo-Dionísio, opto por denominá-los de "ordens" ou "hordas" (ordens, acima das 50.000 visitocalorias; "hordas, abaixo). Do que me puderam explicar, existem cinco ordens e outras tantas hordas. Cada ordem reune espécimes com um grau de iluminação semelhante. À medida que ascendem, vão cintilando cada vez mais e adquirindo o chamado "toque de Midas": tudo aquilo que escrevem transforma-se em ouro, ou, no mínimo, em pérola ou pedra preciosa. Da mesma forma, no plano inverso, cada horda parte dum abismo tenebroso e caótico, feito de alarvidades abomináveis e arrazoados ininteligíveis. Começam por sarrabiscar lixo, entulho heteróclito, e, aos poucos, imbuídos do poder do mata borrão a princípio, ou do psico-evax pantabsorvente à medida que o débito se avoluma, lá se vão penosamente elevando até ao grau zero da ciência (os almejados 50.000 visitocalorias, pois). Só então se descartam do "toque de Merda" e podem começar a aspirar ao "toque de Midas".
As hordas e as ordens têm títulos. Comecemos pelas hordas: até 5000 vc (visitocalorias)- répteis ante-diluvianos; entre 5000 vc e 10.000 vc: mamíferos vertebrados; dos 10.000 aos 20.000: trogloditas; entre os 20.000 e os 30.000: cro-magnons; dos 30.000 aos 50.000: neanderthais perplexus. Quanto às ordens: dos 50.000 aos 100.000: pensadores balbuciantes; entre os 100.000 e os 200.000: semi-portentos; dos 200.000 aos 300.000: portentos geniais; entre os 300.000 e os 400.000: génios consumados; acima dos 400.000: semi-deuses ou serafins eruditos.
Como a clarividência enciclopédica escorre, em cascatas de luz, lá do alto até cá abaixo, ao rés-do-chão - e, daí, clama em fulgores distantes às sombras e trevas das profundezas-, é de deixar qualquer um banzado. Um espectáculo deslumbrante, segundo me contaram.
Claro está que estas regras transcendentes, como tudo na vida, têm as suas excepções. A pátria tem obrigações hereditárias que não podem descurar-se. Nessa tradição, cumprem-se aqui etiquetas e protocolos inerentes a todo o processo civilizado; essas mesmas que o vulgo incréu tem por hábito menoscabar sob as depreciativas categorias de, "compadrio", "comadrio", "amiguismo" e quejandas manteiguices congéneres, louvadas sejam! Assim, por especial graça dum serafim erudito ou semi-deus encartado, directamente investido por Iáhvé Todo Poderoso e seu procurador na blogosfera, um réptil ante-diluviano pode ser rapidamente promovido a pensador-balbuciante. No mínimo. Basta a bênção do padrinho.
Entretanto, qualquer recurso a terminologia malévola e cínica, como "tiragem do blogue", "tabela de vendas da banha", "disco de ouro ou de platina", não são bem-vindas e só reflectem a cavernicolidade do autor. Ao contrário da cena musical, aqui, na blogosfera radiante, o fenómeno pimba não impera. Aqui, por obra e graça de Deus, e dos seus representantes ao mais alto nível, quantidade é qualidade. Nada de Emanuéis, nem Ágatas, nem Dinos, nem Paulos Marcos. Só nata, só fina flor, só einsteines ao despique. Aleluia!...
Tudo isto me foi explicado, e eu, não fosse encontrar-me no miserável e destituído nível em que me encontro, teria compreendido na perfeição. Assim, mergulhado em trevas, às voltas no entulho, este meu cérebro minúsculo, de tudo o que ouviu, não deve ter retirado proveito nenhum e só deve ter armado balbúrdias e confusões, um raio me parta! Se alguém tiver dúvida disso, basta conferir no meu intelectómetro. Uma vergonha!...



Pois, meus amigos, foi este um postal publicado nesta casa há quase um ano atrás. Serve esta reposição para comprovar que quem não anda a reboque de efemeridades e diários não os acompanha pelo ralo da conjuntura. Quer dizer, não perde actualidade. E serve igualmente como prelúdio a um postal que pretendo emitir brevemente, sobre temática similar, intitulado "Os Sacerdotes da Gleba".

Entretanto, se as contas me não falham, um ano e quase meio depois, já cheguei a "neanderthal perplexus". Bela merda!...

Um Tempo de Abortus


Às vezes, dá-me para a erudição. Uma erudição, naturalmente, alucinada. Pois bem, hoje deu-me. Vou explicar-vos a etimologia "shelltox-dragoniana" da palavra "aborto". As pessoas, sobretudo nos blogues (ou blogs), passam a vida a gargarejar substantivos que desconhecem.

Abra-se um qualquer dicionário e lá está: Aborto - do lat. abortu.
Desçamos ao latim.
Abortu é uma palavra formada a partir do prefixo ab mais a base ortus. Ora, ab, na qualidade de prefixo, indica privação, ausência. Ortu, por seu lado, designa "nascimento", "origem". Designa também o "nascer dos astros", sendo assim o contrário de occasus (o nosso ocaso).
Assim, tudo conjugado, ab-ortus traduz-se por sem-nascimento, que não nasce. Ou crepuscular.
Mas aprofundemos. Mergulhemos ainda mais fundo.
Ortus devém da raíz orior, o verbo latino que designa levantar-se, elevar-se, nascer (homens, plantas ou animais), provir.
Curiosamente, também no grego, a língua mãe da Europa e da nossa civilização, orthos (pena que aqui não dê para grafar no alfabeto original) também significa levantado, recto, justo.
Entretanto, orion (de oros) designa limite, fronteira; e também -(oros)- colina, altura, líquido seminal, meta, termo, regra, definição.
Notem bem: não vim -aqui e agora - tomar qualquer posição sobre um tema que tanto parece excitar uns e outros. Limito-me a seguir o rasto das palavras. Prefiro acreditar nelas e no sulco que deixam, que nos saltimbancos e charlatões que as garganteiam. Na consciência de cada qual não me meto. Do que sei, decifro-o nas palavras. Dizem-me que este nosso tempo é um tempo de abortos. Tal qual a palavra revela: um tempo de astros sem altura, sem meta, sem regra nem definição. E sem testículos. Em que a génese é cada vez mais mero acto de regurgitamento e cada vez menos fruto de criação.
Um tempo de ocaso. Um tempo de morte. Bem às portas, agora sim, da treva.

sexta-feira, abril 15, 2005

Doxocracia e Doxofilia

O regime opinioso, mais que intempestivo, é mesmo de diluviana intempérie: de todos os pontos e quadrantes chovem grossas bátegas opinativas, abatem-se conjecturas e palpites. Opinar tornou-se, inclusivé, profissão importantíssima, sucedâneo dos sábios do antanho.
Escrita, falada, tele ou radiodifundida, ao telefone ou pintalgada em cartazes, nas paredes como nos urinóis, a opinião governa o mundo. Uma doxocracia avassaladora! E mais que preocupações com uma ortodoxia ou heterodoxia dominantes, vigora uma demodoxia, ou seja, o circus maximus da Opinião Pública. Onde mesmo os mega-poderosos se submetem aos caprichos da turba. Porque, ao contrário do monismo da Verdade ou da profundidade da Sabedoria, a opinião é volúvel, volátil, saltitante, aérea, consequência imprevisível do cruzamento fortuito entre o colibri e a rameira. Acompanha e promove a agitação febril que tanto apraz e convém à humanidade blobglob. É o coroamento das correrias através da efervescência. As mentes fermentam e fer-mentem. Qual sacudir canino após o banho, salpicam em todas as direcções. Encharcam. Turba, já desde o latim, tanto quanto agitação, quer dizer ruído, algazarra, gritaria. Ora, é precisamente isso que mede, doravante, a eficácia da opinião: a quantidade e o volume da algazarra, do chinfrim que produz ou promove. A doxocracia é também turbacracia: turbilhão de microegoísmos, nanoideias e miniconceitos, amplificados, guinchados electricamente até ao ensurdecimento. Transmitidos e vulgatizados até ao enjoo.
A idade da turba é igualmente a idade do turbo: a opinião é veloz, fugaz, instantânea. Nada semelhante à verdade ou à sabedoria, tartarugas lentas e anquilosadas que nunca saem do mesmo sítio. A opinião é a lebre que nunca dorme; é a esperteza a rir da inteligência; é a máquina formidável que passa célere e deixa o peão petrificado, enlameado e ultrapassado na esquina da civilização.
Pletórica de vantagens inauditas, a opinião não afirma, sugere; não nega, desvaloriza; não analisa, conversa; não reflecte, atropela. À semelhança do seu portador, não tem tempo para mais que esfregar-se felinamente nos assuntos.
Etimologicamente poderá não o ser, mas de facto a opinião é o ob-pino, quer dizer: o estar em cima, estar por cima, estar no alto, no topo, no cume. O opinador está por cima de tudo, em cima de todo e qualquer acontecimento ou assunto. A realidade passa desenfreada, feita cavalgadura brava a espinotear em rodeo, mas ele é jockey magnífico, carraça excelente e não a larga, aninha-se aracnídeo nos seus solavancos e escoicinhaduras. Não só a monta: cheira-a, respira-a, desfila colado nela. O facto retumbante de estar por cima de tudo, permite-lhe debruçar-se sobre tudo. Limites ou barreiras não o afectam. Vergonha ou pudor são requintes que não só desconhece, como também despreza. Na verdade, à sua medida canina e mesquinha, copia e macaqueia Deus. Replica o Verbo através da ventosidade oradora - mais que iluminante - iluminada. Só que, ao contrário da criação divina, que partia de uma ordem e se constituía numa ordenação, o verbo opinante não ordena, comenta. Ou ilustra, legenda, actualiza. As coisas do mundo não o afectam, nunca são suas. São como autocarros sujos que não frequenta. Não entra para dentro deles. Pois o seu comentário nunca é de dentro, mas de cima. Sobrevoa supersónico. Quando se digna poisar, fá-lo com a distância própria das precipitações celestes: a leveza do floco de neve que desce desde o alto, vagaroso, numa catalepsia purificadora, até cobrir toda a superfície sob um manto de alvura imaculada.
No Doxa-World, dos media em permanente revolução no chiqueiro noticioso, o comentário refaz o mundo: do espanto, da inquietação, da tragédia, da perplexidade. Presta-lhe os primeiros socorros, coloca-o na posição lateral de segurança, pronto a ser evacuado. É uma respiração boca a boca com o momento ou com a notícia. Nesse mundo clinicamente refeito, a expedita demiurgia opinadora configura-se como retórica transcendente, inefável, ou melhor dizendo, estrepitante pirotecnia celeste. Não faz, recupera. E, no entretanto, distrai, convence (nomeadamente o paciente, de que tudo não passa de imaginação sua). É uma cura psicológica - mais que multiusos - panta-utilizações. Uma espécie de banha-da-cobra espiritual. Através dela, o opinorreico comentarista, ilustre ruminante, fenomenal mastigador, sujeita o mundo à reciclagem permanente: Após uma breve passagem pelo seu filtro mágico, o velho devém novo, o obscuro torna-se claro, o espantoso ingressa na banalidade quotidiana. Nessa medida, ele, o comentarista, é uma espécie de explicador universal, implacável exterminador de dúvidas e triturador de incertezas. Talvez Deus tenha criado o mundo, mas o opinador agora comenta-o -quer dizer, acompanha-o clinicamente.
No fundo, bem no fundo, é a prova viva de que, se calhar, Deus, no momento inaugural, não disse "fiat lux"... Disse:" foda-se! "
Um mundo com coisas destas não pode ser fruto da refulgente Palavra; só pode ser extracto de um bem mais cavernoso Palavrão!...

quarta-feira, abril 13, 2005

Do Homo-Gastador ao Homo-Tampax

Isto, por aqui, meus amigos, vai endurecer. Depois do desmantelamento ao domicílio, passamos ao bombardeamento pesado. Munições que fui coleccionando ao longo dos anos...


O Gastador espelha-se nas coisas, remira-se coquetemente nelas, cobre-se e descobre-se com elas, esconde-se e exibe-se; a limite: promove-se, vende-se. Transita num permanente mercado, apregoa-se, oferece-se. Esta vaidade inesgotável, mais o cortejo de lambisgóias anexas - a basófia, a jactância, a ostentação, a imodéstia, o espalhafato e a parlapatice -, revelam, por um lado, a concretização da profecia nietzschiana da "feminilização" do Homem e, por outro, a vacuidade intrínseca que o ocupa. É um homem vão e em vão, que não se realiza nem concretiza: apenas se dispersa e desagrega, repasto de incontinência avassaladora. Um homem fragmentado, esquizótico, psicopatético, que não pode perder tempo, precisamente porque está perdido no tempo. À deriva de apetites primários, alarves, venais, patinando na eterna selvajaria mascarada e em balelas frenéticas de pseudo-progresso e evolução. Atascado até à medula na sua bestialidade não resolvida ou sequer atenuada. Embrutecido até à insensibilidade por séculos e séculos de onanismo mental desgovernado. Uma alimária pedante, sem limites, nem fronteiras, nem contornos visíveis duma qualquer identidade ou lugar coerente no Universo. Uma cacopatia inexplicável do Cosmos. Um absurdo e autofágico predador, molusco vagante, empedernido e obsidiado, das cavernuras dos infernos.
Este Adão Furioso entrega-se agora abertamente ao ajuste de contas: a sua Perfectofobia edenoclasta vai, enfim, resolver-se. Deus, a Alma, o Destino, a Utopia, a Perfeição, foram apenas momentos simbólicos desse Velho Tempo que compete arrasar, até que não reste poeira de significância. Por isso, aquilo que o Consumidor/gastador - na sua epilepsia recorrente, espumante e renovadora-, verdadeiramente anseia e perpreta é a morte do Passado; a erradicação das raízes, o parricídio das Origens. A sua, é uma fúria novo-rica, presunçosa, arrogante. O Passado é o supremo lixo que importa varrer para debaixo do tapete; os antepassados são porcaria inútil que convém despejar da janela, à noite, sem que ninguém veja; as tradições não passam de abcessos chagosos que convém extirpar ou espremer... O Gastador-Consumidor nutre um misto de vergonha e ódio pelo Passado. Reinventa-se e redescobre-se a cada instante, fruto de geração espontânea, moderna, mágica. Concebe-se auto-engendrado em laboratório, na proveta da sua imaginação e por inseminação umbilical científica.
Só o presente lhe interessa. O Tempo eterno presente, perpétua oferta. O exibicionismo da existência é, essencialmente, apresentação, espectáculo, feira. Os dias são uma sucessão de feiras. O que não se exibe não existe; aquilo que não participa do espectáculo do presente, do fogo de artifício da notícia, não acontece. A Memória, amázia do Passado, foi banida. O que não participa do carrocel do imediato é atirado para a lixeira do esquecimento. Se não rebola na explosão do momento, não interessa. O Mundo inteiro chocalha, vibra, deflagra e assobia, num interminável Big-Bang. O Velho Deus preguiçoso, que trabalhava seis dias e descansava a eternidade, é, assim, vantajosamente substituído por um Big-Bang que nunca descansa, nunca duvida, nunca se arrepende. O universo é sempre novo, e a chusma humana -por simpatia e, à boleia, a cavalo nele - também; porque nunca acaba de nascer, de brotar, de se expandir e espumar miraculosamente a partir da cloaca negra e desconforme da incógnita sideral. E se o Mundo é um Big-Bang, o homem, gastador-consumidor encartado, tem que ser também um big-bang, um ping-pong, um zig-zag. Ribomba e silva em inesgotável expansão; jorra de si próprio e para si próprio; gira, balanceia, oscila, zune, revoluciona e arfa, qual Último Motor Imóvel rectificado e turbo-descomprimido. Porque, na verdade, e desde sempre, o Homem não parece ter sido muito mais que o macaco de imitação ao espelho: O espelho da sua própria imaginação.

Entretanto, as mulheres, ocupando o vazio limítrofe, masculinizam-se. Cada vez mais inexoráveis e calculistas, entregam-se, com volúpia, ao auto-erotismo do sucesso e da carreira; descobrem cada vez mais o deleite de falos sucedâneos, filões inesgotáveis, semper-erectus, e de coitos psicológicos. Conquista fundamental dos novos tempos, a mulher livre, emancipada, executiva, super-activa e ocupada não hesita e funciona movida a rancores e vinganças. Também aqui impera a imitação, a fotografia ao negativo: A Mulher macaco do Homem (ou mais exactamente, duma determinada ficção de Homem).
Por seu lado, os "homens", em crescente descompensação maternal, oscilam entre o bebé-chorão retardado, o prestador de serviços no lar ou e efeminado comodista e desterritorializado.
Não espanta, pois, que as relações amorosas, de parte a parte, se resumam a um mero usar e deitar fora. O outro, cada vez mais indiferenciado, é uma espécie de preservativo que, utilizado uma vez, utilizado para sempre. Lixo com ele! Esquecimento!... Temos assim, dada a sua postura intransigente, liderante e castigadora, a Mulher-Durex; como do outro lado, pelo seu papel serviçal, higiénico e asséptico, amigo e suavizador dos desportos e aventuras, o Homem-Tampax.
Mas desenganem-se os optimistas: a relação macho/fémea apresenta muitas mais peculiaridades modernas. Cito apenas uma, para terminar...
Em vez da tirania, passou-se à democracia popular. A família devém socialismo científico com bizarrias unilaterais. Divisão rigorosa de tarefas e comunidade de esforços. Não faz mais sentido, sequer, falar em família: agora é o "casal", ou "trio", ou "grupo". As decisões são conjuntas, em plenário. Mesmo a gravidez é conjunta: ambos correm a parir, um para se exibir, o outro para mirar.
Enfim, é toda uma puta duma gente que, sinceramente: já mete nojo.

terça-feira, abril 12, 2005

Os sacanas dos "Anónimos"

O João Miranda, um rapaz turbo-sapiente que escreve ali para as bandas dos meus arqui-inimigos "Blasfemos", entretinha-se em mais um daqueles guisados retóricos que se lhe reconhecem e de cuja arte culinária parece deter o segredo e o tempero. A páginas tantas do refugado, eis senão quando ele, com aleives de Dartanhão, saca dum pujante legume, que, após devastar de cutiladas solertes, envia sem dó nem piedade ao borborejante tacho e à não menos fumegante mistela. A infausta hortaliça, repolho inequivocamente argumentário, frigiu de dor e, em desespero, abraçou a salsa. O seu derradeiro e heróico frémito foi algo como isto:
« Portanto, um liberal que vive do estado não está em contradição com a teoria liberal
Ao escutar tão musical fervura, não pude deixar de sorrir para com os meus botões: "ora aqui está uma caldeirada digna dum Panoramix!... Se isto não é a poção mágica..."

Mas o melhor, verdadeira iguaria, estava ainda para vir. Era fatal, aliás, que viesse. E veio. Na caixa de comentários, pela voz e pena dum "anónimo". Lá por volta das 12.46...
Perguntou ele, barrado de pertinência, ao nosso emérito "chef": «Que exemplos práticos de liberalismo conhece, para além do tráfico de droga, de armas e da prostituição

É caso para dizer, ó João: depois de Vocelência nos ter criado água na boca, veio o sacana do "anónimo" e tirou-nos as palavras dela.

Ele andam para aí gajos...E pensam, os filhos da mãe. É uma chatice!...

E já agora, ó Janeca, luminária excelentíssima, porque é que você não faz o mesmo? E começa a pensar mais e a bolsar menos.

Aforimos exemplares

"Proust explica demasiado para meu gosto: trezentas páginas para me exlicar que Tutur enraba Tatave, é demasiado."

- Louis-Ferdinand Céline

sábado, abril 02, 2005

O Passado recente

Torna-se cada vez mais patente a alternativa diabólica do antigo regime: Era termos colónias ou tornar-mo-nos uma.

Com respeito a isto, nestes nossos dias, há toda uma estupidez e ignorância que beatificam.