domingo, novembro 20, 2005

Um "Green" à Beira-Mar plantado

Consta-se que a nossa juventude, submetida a um regime intensivo e ininterrupto de play-stations, telenovelas, discotecas, drogas várias, shots rigorosos, gangs diversos, progenitores imbecilizados, políticos e pedagogos frankensteins, etc, etc, vem experimentando paulatinas e renitentes dificuldades na absorção de matérias básicas, quais sejam, por exemplo, o português e a matemática. Ao mesmo tempo, a capacidade de conceptualização dos querubins, uma vez chegados à universidade, e em fermentação lógica de uma tão fulgurante engorda espiritual, parece que em nada ultrapassa a dos símios mais corpulentos - chimpanzés, entenda-se.
Pois bem, diante duma tal calamidade, o actual governo, ainda em fase eleitoral, propunha-se implementar o ensino do inglês na instrução primária. Isso, como é óbvio, resolvia, duma penada, o problema do português. Quer dizer, se as crianças não querem sopa, dá-se-lhes iogurte; se não conseguem aprender o português, ensina-se-lhes o inglês. Podemos, pois, tranquilizar-nos: em breve, os pequenos chavalos, ante o deleite saloio e baboso das cavalgaduras paternas, embora não consigam ler três sílabas seguidas na língua de Camões e muito menos escrever uma frase inteira sem mutilarem, possessos de fúria gramaticida canibalesca, todos os vocábulos que lhes aparecerem à frente, saberão, com toda certeza e não menos completa proficiência, pastar e ruminar, sem tradução intermédia, todos os “Harry Potter’s" e "Códigos Da Vinci" que lhes deitarem na manjedoura.
Quanto ao português, eis portanto o prodígio. Banzemo-nos, irmãos!...
Todavia, faltava a desgraçada da matemática. Faltava, mas já não falta. Porque, desde hoje, o inefável presidente unicelular desta república dos macacos, num dos acessos de incontinência oral abstrusa que o caracterizam, descobriu a pólvora e, com ela, a fórmula ansiada de mandar com o problema pelos ares. Nem mais nem menos que “levar o golfe às escolas”. Ora aí está. É o ovo do Sampaio. Tão simples e, não obstante, tão eficaz.
Aprendendo o inglês e o golfe - bem mais fáceis e úteis que português e matemática, convenhamos-, a miudagem, finalmente, adquire duas ferramentas essenciais ao seu futuro, optimizando-se e aparelhando-se desde logo ao mercado de trabalho que os aguarda. Sim, porque não tenhamos dúvidas: O jardim, um dia destes, vai virar “green”. Ora, segundo dizem os entendidos, um bom caddie, além de um rabinho receptivo e depilado, distingue-se pelo esmerado domínio da língua inglesa, bem como das regras, percursos e estojos do golfe.
A mão de obra menos qualificada vai servi-los à mesa. Mas os doutores, -ah, os doutores!- esses, proficientes, hão-de auferir do privilégio ufano de lhes guiar os carrinhos e alombar com os tacos às costas.
Quarenta e oito anos de faxismo, para levarmos logo de seguida com trinta anos de uma merda destas!...

6 comentários:

Anónimo disse...

É verdade! Deixe-me plagiá-lo, que eu adorei a frase:
QUARENTA E OITO ANOS DE FAXISMO, PARA LEVARMOS LOGO DE SEGUIDA COM TRINTA ANOS DE UMA MERDA DESTAS !...
Das duas, três - ou somos excepcionalmente pacientes ou completamente atrasados mentais...e bastante, mas mesmo enormemente espertalhuços!...

Unknown disse...

os símios mais corpulentos não são os gorilas?

Anónimo disse...

Delightful!

TR disse...

LOL!!! Não sei se vc lê o Harry Potter ou não, mas a si tb lhe dá claramente a fúria gramaticida; contudo dela resultam estes magníficos textos com várias frases bem articuladas na língua de Camões...

Quanto ao green... não sei...

será que estas ideias maravilhosas são comuns aos Presidentes da República? será do PS? não.... será??

...é que o Mário Soares também tem imensas ideias!!...

Anónimo disse...

o inefável presidente unicelular
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Oh dragão tu não estarás a exagerar? Mas aonde é que ele tem a célula que ninguém a vê.

Anónimo disse...

Consta-se?! Ó dragão, que puta de gramática é essa? Vês muita televisão, é o que é.