domingo, agosto 06, 2006

O Pensamento Gang-Bang-bang, ou dos que não pensam à boleia apenas porque pensam em Comboio

Caro Buiça,

Nem eu, graças a Deus, sou professor Doutor e, muito menos, engenheiro, arquitecto, economista, jornalista, advogado, comentador, gestor, ou moço de fretes equivalente, nem vosselências – você e mais não sei quem que lhe fecunda a fantasia gang-bang-bang -, podem ser arrolados na categoria das “pobres massas obscurantizadas”, ou, tão pouco, da "legião de obscurantizados, iletrados", etc e tal. Se queremos ser rigorosos, e não apenas prosaicos, eu sou um vulgar cidadão português dotado duma inteligência mediana e vós outros constituís -com distinção!- uma ruidosa cambada de totós a armar ao pingarelho, no melhor dos casos, ou –no pior e, de resto, mais frequente-, pura e simplesmente a fazer annilingus ao “Poder e à Força” - tal qual Ésquilo, há vinte e muitos séculos atrás, exemplarmente os retratou no seu “Prometeu Agrilhoado” (ao "Poder e à Força", naturalmente, e não a vossas ínclitas 'Xelências que, como é óbvio e facilmente atestável, por essas eras vetustas, ainda nem nas desafortunadas e frustes bolsas seminais paternas girináveis). Quanto a se alguma "tenebrosa treva", ou treva de qualquer outra qualidade, vos oprime, é matéria que desconheço e sobre a qual prometo continuar a marimbar-me com todas as minhas forças. Às vezes, para ser sincero, tenho simplesmente pena que não vos oprima algo mais justo, como, por exemplo, uma condigna enxada nas unhas e um trabalho rural adequado à vossa pujança mental. Tudo isso acompanhado do necessário estímulo: cavalo marinho com fartura e caldo de Mestre Cabra três vezes ao dia.
Acreditar, por conseguinte, que eu vos pudesse ensinar qualquer coisa, enferma de, pelo menos, três optimismos saloios - certamente pechinchados na feira de Carcavelos do entendimento onde a vossa tribo se abastece:
1. Que eu, por um qualquer surto avassalador de extravagância, alimentasse alguma vontade de vos ensinar;
2. Que eu tivesse algo para vos ensinar;
3. Que vosselências, com tão rica panóplia de convicções neotrolhas e antolhos soberanos, fossem ensináveis.
Ora, respectivamente, não nutro, não tenho e não são.
Até porque, mesmo que para tão baldado treino me sobrasse o engenho, o assunto, os aprestos e, sobretudo, a paciência Zen, faltar-me-ia sempre um espaço essencial: o picadeiro.



PS: Que, feito palhadino, lhes tome as dores, acho enternecedor, ó Buiça. Mas que, para cúmulo devoto, venha oferecer os lombos em seu lugar, é caso para inaugurarmos, desde já, uma galeria holocáustica de “mártires do Novo-Credo Global Neojacobino e dos Armagedonitas dos Últimos Dias”.
Espero ao menos que durante o devaneio mimoso em que garatujou tão intrépido postal, tivesse calçados, em estandarte ufano da espécie, os seus novos sapatinhos de vela.
Sabemos que sempre que os calça, certamente por artes mágicas que remontam às fábulas cinderélicas, a abóbora que traz sobre o pescoço transforma-se em coche maravilhoso (com uma virgenzinha impoluta e melindrosa lá dentro) e o ratinho de laboratório que lhe tripula as vísceras, feito cocheiro, desata a rugir que nem um leão. Quanto mais não seja, ansioso de demonstrar - a todo um mundo estupefacto - que não foi debalde que a montanha de vento o pariu.

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