domingo, setembro 06, 2009

Atentado à treta

Quanto à remoção da Moura Guedes, ocorrem-me duas ou três considerações elementares. Em primeiro lugar, chamar-lhe "atentado à liberdade de informação" parece-me um exagero optimista. Significaria que as televisões em geral, e aquele albergue espanhol em particular, informam. Todos sabemos que intoxicam, mistificam, traficam, impingem, vigarizam, lobotomizam, etc, etc -ou seja, desinformam, deseducam e desenfreiam -, informar é que não. Tudo menos isso. Por conseguinte, a ser atentado a alguma coisa, seria à liberdade de desinformação, ou, dito com maior rigor, à liberdade de propaganda. A distinta perua teria todo o direito a fazer propaganda contra o Pinóquio tal qual outros, noutras televisões, por alma de outras gamelas, têm a fazer a favor. Ou há moralidade ou comem todos. Como não há...
Assim, a remoção dum estafermo desta envergadura dos ecrãs, em absoluto, e despido de certo tipo de preconceitos e vistas torcidas, pode até considerar-se um acto de higiene. Se acompanhada do encerramento daquela lixeira a céu aberto que é a TVI, alcançaria mesmo o cúmulo de sanidade pública. E se coroada, logo de enfiada, do encerramento e terraplenagem da SIC, da RTP, então, seria oiro sobre azul. Direi até que, a partir daí, talvez o país recuperasse da zombificação em que, artificial e lorpamente, o mantêm. Talvez um silêncio límpido e súbito nos resgatasse a todos desta telenovela em que, entre estarrecidos e resignados, acordamos todas as manhãs.
A democracia está em risco? Espero bem que sim. Pelo menos esta da treta, do alterne gatuno, das seitas cleptocráticas à desfilada e ao despique. Hão-de um dia rebentar de tanta podridão, já que à saciedade são imunes.

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