domingo, outubro 07, 2007

A Máquina triunfante - II

O primeiro ensaio humano da guilhotina, sobre os cadáveres de dois condenados e uma prostituta, fez-se no Hospital Geral de Bicêtre. No dia 17 de Abril de 1792, uma terça-feira, pelas 10 horas, compareceram várias personagens para o teste. Destacavam-se,entre elas, os doutores Louis e Guilllotin (pais espirituais do engenho), Schmit (construtor do mesmo) e Samson (carrasco e futuro operador). Além destes, também pontificavam Cabanis, o amigo de Mirabeau; Pinel, grande alienista; Lecretelle, membro da Assembleia; Maret, redactor-chefe do Moniteur; e vários jornalistas avulsos, bem como outros curiosos não creditados.
Samson, como lhe competia, teve honras de pilotagem e operou a máquina revolucionária naquele voo inaugural sobre pescoços reais. Coadjuvado pelo filho e por um ajudante, deu despacho às cobaias. O resultado não podia ser mais auspicioso: os três presuntos foram decapitados com uma rapidez e uma limpeza exemplares. Deveras impressionado com o seu novo instrumento de trabalho, o Executor terá mesmo murmurado: "Excelente invenção! Oxalá não abusem da sua simplicidade." Sombria premonição, que rapidamente foi submergida pelo júbilo e regozijo da comitiva científica com a eficácia do invento. Louis, o principal obreiro, viu-se entusiasticamente felicitado e aclamado. Um pequeno banquete nos aposentos directoriais do Dr. Cullerier, cirurgião do Hospital e anfitrião da experiência, encerrou a gloriosa jornada.
Aí, certamente, terão brindado a mais uma vitória das "ideias novas" -a mais aquele passo de gigante na senda da modernidade, da democracia e do humanitarismo. O caso não era para menos. O dia fora de facto histórico... Como diz Delarue, «até ali, a decapitação estivera reservada aos nobres, e às pessoas de qualidade. De futuro, graças à guilhotina, já não havia o mais pequeno motivo para continuar a privar o povo dela.»
O povo jamais viveria como os aristocratas, mas, ao menos, passaria a morrer como eles. Com os cumprimentos da burguesia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Lá se vai todo o carácter excelso do meu blog depois deste post.