sexta-feira, novembro 30, 2007

Não há duas sem três

Acho imensa piada aos analistas europeus (e, mais que todos, os nacionais) que proclamam a crise económica nos Estados Unidos como se de um problema dos Estados Unidos se tratasse. Como se isso os preocupasse muito, aos americanos. Como se isso lhes tirasse o sono ou ameaçasse rebocá-los a sabe-se lá que precipícios ou íngremes despenhadouros. Há realmente uma amnésia incutida e cultivada em toda esta boa gente. Só isso pode explicar como teimam em não perceber o óbvio: a crise é deles, mas o problema é nosso. Sobretudo da Europa. Aliás, nem era preciso perceber, bastava que não esquecessem com tanta sofreguidão.
Pois se funcionou das outras duas vezes, porque não há-de funcionar desta?
No Kosovo, no Golfo Pérsico, algures, mais tarde ou mais cedo, hão-de arranjar fricção até que salte a faísca. Depois, como de costume, é só trocar a gentinha em excesso pelo rendimento em falta.
Até lá -e suspeito que já não demora muito -, há que aproveitar o espectáculo. Principalmente destes pitorescos rebanhos de geopalhíticos de aviário que por toda a parte balem e retouçam. Compensam a descabelice medieval da mundovisão simbólica - "este é o Reino do Mal e Satã o Príncipe deste Reino" -, com a globovisão patetinha, de barbies maquiabúlicas e maquiangélicas em perpétua viagem, física e mental, por uma excitante disneylândia. Ainda não perceberam com quem estão metidos.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Provérbios impopulares do Dragão

· Nem tudo o que lês é ouro
· Tristezas não apagam dívidas
· Vêem-se caras, não se vêem cotações
· Devagar se vê ao longe
· O silêncio é de outro
· A cavalo doido não se molha o dente
· Não guardes para amanhã o que podes foder hoje
· Os umbigos são para as ocasiões
· Em tempo de guerra não se limpam Karmas
· Cada maluco com a sua maria
· Cão que ladra não fode
· Contra flatos não há argumentos
· Da discussão nasce a cruz
· De boas invenções está o Inferno cheio
· De noite todos os patos são parvos
· Mudam-se os tempos, mudam-se as vaidades
· Não deites foguetes com fé na testa
· No papar é que está o ganho
· No melhor plano cai a nódoa
· O hálito não faz o monge
· O que não mata, engoda
· O Saber não ocupa lagar
· O futuro morreu de velho
· Olhos que não vêem, coração que não mente
· Cabrão fora, dia santo na gaja
· Quem fala, contende
· Quem morre por gosto, não descansa
· Quem espeta sempre alcança
· Quem mais jura, mais monta
· Quem te evita, teu amigo era
· Quem tem cu, tem mundo
· Um mal nunca tem dó
· A união faz a forca
· Ardor com ardor se apaga
· As aparências elegem

Adenda (a pedido do Luís Guerreiro):
* Diz-me em quem mandas, dir-te-ei quanto é
* A ração tem sempre cliente

quarta-feira, novembro 28, 2007

Crítica literária

Começo por uma breve resenha do que pensam os literatos sobre os críticos de literatura, para que não restem dúvidas sobre o raciocínio subsequente.
Ionesco: “O crítico devia descrever e não prescrever”;
Montesquieu: “Os críticos são como aqueles generais maus que quando não conseguem conquistar um país, envenenam as suas águas”;
Valéry: “Crítico: o mais imundo biltre pode dar um golpe mortal. Basta que tenha raiva”;
Bierce: “ Crítico. Pessoa que se gaba de ser de satisfação difícil, porque ninguém lhe tenta agradar”;
Prevost: “Não é necessário que um autor compreenda o que escreveu. Os críticos se encarregarão de lhe explicar”;
Goethe: “Mata-o, o cão! É um crítico”;
Flaubert: “Um homem torna-se crítico quando não pode ser artista, assim como um homem se torna espião quando não pode ser soldado”;
Twain: “O símbolo dos críticos devia ser o besouro: ele deposita os ovos no esterco de qualquer outro, doutro modo não os podia chocar”;
Shelley: “Assim como o ladrão falido se torna receptor de bens roubados, assim o escritor falhado se torna crítico”

Ora bem, se alguma coisa esta amostra - deveras eloquente - atesta é do desprezo dos tipos competentes em literatura pelos especializados em crítica da mesma (julgo que ninguém colocará em causa a competência dos senhores em epígrafe). Shelley é até particularmente esclarecedor: quando um tipo não tem competência literária, dá em crítico. Com a mesma fatalidade, acrescento eu, com que um tipo sem competência conjugal, dá, primeiro, em coleccionador de hastes e, depois, em bêbado. Ou um indivíduo sem competência de qualquer espécie dá em político.
Resulta disto, como é mais que óbvio, que se há defeito de que nunca se poderá acusar um crítico literário é, precisamente, de falta de competência literária. Raia o absurdo. É o mesmo que acusar um crítico literário de ser um crítico literário. Quer dizer, mais que um truísmo, é uma sandice. Já que, como fica implícto, a falta dessa competência (literária) só abona em favor da sua competência crítica. É o seu certificado-mor de habilitação. E isso, ninguém duvide, é algo que qualquer literato minimamente competente sabe, mal lhe nascem os primeiros dentes: o crítico é tanto melhor no seu ofício quanto pior –mais medíocre, frustrada, impotente e aleijadinha - for a sua competência literária. Da mesma forma que a deficiência visual desenvolve a faculdade auditiva, a deficiência literária promove o frenesim crítico.
Portanto, quando um tipo diz que falta a outro competência literária para fazer crítica literária está a incorrer em duas proezas simultâneas:
1. Está a confessar palonsamente a sua própria incompetência literária;
2. Está a reconhecer e a valorizar a competência crítica daquele que, nesciamente, desvaloriza;

É precisamente um caso de auto-aviltamento destes que acontece a Miguel Sousa Tavares, quando profere, em relação a Vasco Pulido Valente, numa entrevista recente à SIC-Notícias, que, e passo a citar: «não lhe reconheço competência literária ou de outro género para fazer crítica literária".

MST tem tudo para vir a ser um excelente crítico literário. Ao contrário de VPV, em quem, apesar de tudo, vislumbro umas certas limitações e handicaps.

Cabalística para cabalos



No Herald Tribune:
«Israel estabelece as perdas e danos do holocausto (240 biliões)».

Ou seja, seis, bem espremidos, dá nove; e nove, bem espremidos, dá 240. A multiplicar por 1000.

Significa isto, entre vários outros fenómenos edificantes, que existe um revisionismo mau (tudo o que signifique pôr em causa um dogma religioso acerca da contabilidade dos mortos: são seis milhões e não se fala mais nisso), e um revisionismo bom (a constante ordenha e pisa dos números, no lagar da propaganda, de modo a extrair imarcescíveis juros e reparações: e aqui os seis milhões já vão em nove).
É preciso reconhecer que se os alemães fizeram, o resto do mundo deixou fazer. Portanto, mesmo que os alemães digam que não pagam mais, que já pagaram a parte deles, faltam agora os outros. Nós, portugueses, especialmente. Até porque também éramos fássistas na época.
Portanto, das duas três:
Ou se estabelece uma taxa como a da televisão, agregada à factura da electricidade;
Ou se adjudica uma percentagem extra nos combustíveis;
Ou, semestralmente, organizam-se peditórios nacionais para o cancro. Com uma diferença: não é quem dá que ganha um emblemazinho, é quem não dá. Um auto-colante estigmativo com a palavra "anti-semita". A amarelo.


PS: Os alemães não pagam mais em dinheiro, mas pagam em género e frete. Basta conferir esta notícia.

terça-feira, novembro 27, 2007

Razão e Presunção (rep.)

(Vem sempre a propósito repetir - « sê como a água», dizia o meu mestre de kung-fu; e na pedra dura há que dar muitas vezes...)

Na Igreja da Santíssima Razão e dos Santos dos Últimos Dias, como nas Igrejas em geral, perigosos não são os sacerdotes: são os beatos. E, de entre estes, uma categoria acima de todos: os sonsos.
Todavia, quando descemos ao nível da micro-seita - de umas Testemunhas da Lógica, ou de uma "Igreja Universal" do Reino da Certeza, por exemplo -, tudo se transfigura. Crentes, beatos e sacerdotes não se distinguem. É tudo ao molho e fé no bolso. Movem-se todos num rebanho uniforme, mergulhados numa espécie de êxtase contemplativo da verdadeira Crença, robôs peregrinos e auto-depurados de quaisquer dúvidas, perfeitas máquinas de calcular destituídas de vontade e emoções. É o pensamento automático. O Vending-thinking, mais que o wishful-thinking. Um modelo vanguardista de chafariz: metem-se moedas e saem bicas mal-cheias ou sandes de Locke com presunto. Ou de apóstolos com fiambre.
Possuem a verdade. Mas não se contentam de possui-la, de emprenhá-la, de viver com ela em santo matrimónio e ter dela meninos. Precisam de ostentá-la, de dar com ela na cara de quem passa, de exibi-la em cinto-de-ligas e mini-saia. No fundo, sentem-se tanto maiores e mais soberbos quanto mais se confrontarem com a destituição e penúria alheias.
Mas ai de quem não goste do afago, ai de quem lhes diga que aquilo cheira a peixe podre e eles a varinas da ciência, bufarinheiros da objectividade, ciganos de esquina do silogismo!...
Heresia! Sacrilégio! Vilipêndio! Ó deusa, crime de lesa-Fé!...
Não, meus amigos, livrai-vos de criticar a superficialidade, a leviandade, a ignorância! Porque isso, com garantia ISO 9000, é irracionalidade, fujamos! E depois de vos darem com a Verdade inteira e absoluta nas trombas, pespegarem-vos com tamanha desfaçatez no focinho, vão por mim: não é pera doce.
Em resumo: há quem confunda razão com presunção. E presunção e água benta, cada qual toma a que quer.
Por muito que isto custe ao bispo Edir Macedo e aos seus pios emuladores na blogosfera.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Emburrecimento irresistível

Segundo «um estudo publicado na revista especializada Journal of Experimental Social Psychology», o «desempenho intelectual dos homens cai quando são expostos a fotografias de mulheres loiras».

Falo por mim. Quando sou exposto a mulheres louras, sobretudo nuas, é certo e seguro que o intelecto sai afectado. Não por "imitação inconsciente do estereótipo", como asneáticamente conclui a récua cientista, mas por via, como é lógico e natural, do défice imediato de oxigenação cerebral. Em suma, o que cai não é o desempenho intelectual: é o sangue. Desata a correr todo para a cabeça de baixo.
O que, diga-se em abono da verdade, não me acontece apenas com louras: com morenas e ruivas também.
Portanto, se emburreço, não é do pescoço para cima: é da cintura para baixo.

Xenocultura


Visto que um tipo com um coração humano está condenado a levar uma vida de cão, depreende-se que, uma vez equipado com o coração dum porco, veja as suas perspectivas existenciais melhorarem consideravelmente, bem como a sua qualidade de vida disparar para níveis e requintes próximos do semideus.
Um coração de porco, uma alma de macaco, um cérebro de galinha, uma língua dum papagaio, um sexo de ornitorrinco e uma coluna de molusco bivalve - eis a perfeita assemblagem, o Admirável Homem Novo!...
Só não percebo que se designe o transplante dum coração de porco para certos sujeitos como "xenotransplante". Em muitos casos, mais do que seria até recomendável, é de um genuíno "isotransplante" que se trata. Nalguns até podiam substituir aquela porcaria pelo intestino grosso do suíno que ninguém notava a diferença.
De facto, o que mais para aí abunda, ao contrário dos tempos antigos em que se fazia das tripas coração, é gentuça que faz do coração uma tripa. Transplantem-lhes a mioleira dum chimpanzé, mesmo em avançado estado de putrefacção, que há-de ser um grande progresso. Nisto de incrementos e enxertias da raça, nada como recorrer ao fontanário ainda não mestiçado da estirpe.

domingo, novembro 25, 2007

Underworld



O fascinante mundo do Tráfico de armas...

Uma entrevista muito educativa com o maior traficante mundial, Sarkis Soghanalian.

Só um pequenino naco para aguçar o apetite:
Aqueles massacrezinhos muito convenientes do Darfur, por exemplo, donde é que as pessoas acham que vêm as ferramentas de trabalho - do Pai Natal?...

Método e berço

Chama-se a isto Fé. Fé nas conclusões. O Glutão é panteísta.
Ora bem, eu já aqui expliquei, mas não me importo de voltar a explicar. Explico quantas vezes forem precisas.
As "áreas do conhecimento" do estilo da pedo-psiquiatria, ou da geronto-psiquiatria, ou da embrio-psiquiatria, ou da psiquiatria em geral, não são de todo eficazes para estabelecer conclusões sobre o que quer que seja e ainda menos sobre sofrimentos mentais indescritíveis e irrecuperáveis. Nem por sombras. São excelentes, isso sim, para estabelecer, desenvolver, transmitir e burilar toda uma panóplia tortuosa de sofrimentos mentais. É precisamente disso que vivem. De, sobretudo, não descrevê-los e de cuidar para que se tornem irrecuperáveis. Pedir-lhes conclusões (isto é, diagnósticos lúcidos) seria o mesmo que exigir ressurreições aos cangalheiros ou virgindade a uma prostituta.
O próprio pedo-psiquiatra, enquanto indivíduo, resume-se a uma máquina ambulante de contágio desses "sofrimentos mentais indescritíveis e irrecuperáveis". Dito freudianamente, raramente excede o projeccionista compulsivo. Espelha-se na vítima. É assim que se inocula.
Aliás, há um aforismo de Lichtenberg muito a propósito de tudo isto. Dizia ele: "um livro é como um espelho: se um macaco nele se mira não é, evidentemente, a imagem dum apóstolo a que aparece."
Ora, a vida é como um livro. E as pessoas também.
E para os que me disserem que o pedo-psiquiatra não deita as criancinhas na célebre Cama de Procusto, eu concordarei: pois não, deita-as, primeiro, na incubadoura e, depois, no berço.

sábado, novembro 24, 2007

Ultra-negacionismo

Governo alemão adere ao negacionismo: «Finance Minister Peer Steinbrück said in Jerusalem Thursday that Germany had no plans to renegotiate a Holocaust reparations deal signed with Israel in 1952.»
E é o tipo mais hediondo de negacionismo: pior que negar o Holocausto, os alemães negam-se a pagar mais indemnizações pelo Holocausto. Convenhamos, bem mais grave que ir-lhes à "memória" é ir-lhes ao bolso. Doi sempre mais quando é no coração.

sexta-feira, novembro 23, 2007

O Auto dos Nepotes

À boleia da Grande Loja, e do caro José, transcrevo uma notícia que devia merecer honras de monumento:

«O ministério da Educação contratou duas vezes o mesmo advogado para fazer o mesmo trabalho.

As considerações, melhor que eu, fá-las o José, com a mestria e o bom português do costume, lá no estaminé Limiano.
Aqui, nesta nefanda espelunca, limitar-me-ei a reproduzir o diálogo imaginário entre as figurinhas (deste presépio à beira-mal desplantado)...


Burrocrata ministerial - Então, já acabou o manualzinho?...
João Pedroso (em tom choroso) - Não, tive uma enxaqueca.
Burrocrata - Tadinho, pobre senhor! tem toda a razão, a culpa é nossa! Era trabalho a mais!...
João Pedroso - Pois era, sofri muito. E o stress? Nem imagina. Até ando a ansiolíticos!..
Burrocrata - Nem sei o que nos deu. Dar-lhe um tarefa destas. Nem um Hércules conseguiria num prazo tão curto.
João Pedroso - Senti-me um Sísifo. Cheguei a ter febre e arrepios.
Burrocrata - Um verdadeiro Cristo, é o que se deve ter sentido. Mas se prometer não nos processar por sevícias e tratamento desumano, vamos ressarci-lo desse horror por que passou.
João Pedroso - Ai vão? Não vejo como. Sou capaz de ter contraído um trauma para o resto da vida.
Burrocrata - Então, deste mal entendido não se fala mais. É uma vergonha para nós, que agradecemos não comente e tente esquecer. Vai receber o pagamento integral, é ponto assente...
João Pedroso - Nem dá para reembolsar o psicanalista, quanto mais a farmácia... 1500 euros por mês não é honorário, é caridade.
Burrocrata - Tranquilize-se. Faremos um novo contrato. 20.000 euros/mês, o que lhe parece?
João Pedroso - Para fazer o mesmo?
Burrocrata - Exactamente, para não fazer manual nenhum!
João Pedroso - Rigorosamente nenhum?
Burrocrata - Acha que consegue?
João Pedroso - Depende do prazo... Agora vou ter que tirar umas férias - o médico receitou-me um período de repouso e outro de convalescença. E repare, fazer manual nenhum já é difícil, agora fazer rigorosamente nenhum implica o recurso a esquipamentos e técnicas da mais alta precisão.
Burrocrata - Tem toda a razão. Sei disso. Como pensa que cheguei a este cargo? Nada de corridas. O prazo é elástico: comece quando quiser. Desde que, claro está, nunca acabe.
João Pedroso - O melhor então será mesmo nem iniciar. Assim nunca corro o risco de, por qualquer descuido inopinado, terminá-lo.
Burrocrata - Nunca lhe pediria tanto. Mas congratulo-me com o seu espírito de sacrifício. Teremos que pensar num bónus.
João Pedroso - E as ajudas de custo?
Burrocrata - A 100%, obviamente. Bem como subsídio de isenção de horário.
João Pedroso - Pois, nem me lembrava desse, veja só como tenho a cabeça exusta!... Vou fazer rigorosamente nenhum dia e noite.
Burrocrata - Ah, meu pobre doutor: nem imagina como me custa submetê-lo a uma lufa-ufa destas!...

quinta-feira, novembro 22, 2007

Escolha criteriosa




A confirmar-se que os "Bebés conseguem julgar os outros e preferem as pessoas boas", então devia decretar-se que apenas os bebés tivessem direito a voto.

Com os adultos está mais que visto que não vamos lá. Além de serem completamente destituídos da mínima faculdade de juízo, preferem, tendencialmente, pessoas más. Quando não péssimas. É certo que o cardápio também não oferece, por regra, outras alternativas: ou más, ou medíocres, ou péssimas - o que, aliás, constitui o principal argumento para escolherem os maus: como artimanha de recurso para evitarem os péssimos e derrotarem os medíocres. Mas com o voto reservado aos bebés, pelo menos nas próximas eleições, eu teria seguramente um especial prazer: o de ver a Abstenção alcançar os 100%.

Portugayo 2007

***



Por falar em lóbis...
No «Resultado do Concurso de Apoio Financeiro Directo à Produção de Longas Metragens de Ficção - 2005 », do ICAM podemos constatar o seguinte:

«A Outra Margem", de Luís Filipe Rocha - 650.000 euros (a fundo perdido)

Seguido, mais adiante, do «Resultado do Concurso de Apoio Financeiro a Co-produções Luso- Brasileiras no âmbito do protocolo Luso-Brasileiro) 2005»:

«A Outra Margem», de Luís Filipe Rocha - 150.000 dólares (a fundo perdido)

Agora a boa nova: "A Outra Margem" é um dos dois filmes representantes de Portugal na "edição deste ano do Festival Internacional LGBT - Lésbico, Gay, Bissexual e Transgénero, a decorrer em Montreal, Canadá".

O argumento? Uma história edificante, o drama pungente dum travesti que perdeu o gosto pela vida e do seu sobrinho mongolóide, mas alegre.

Estou convencido que, para efeitos de exibição, será classificado como "para maiores de 6 anos" e terá visitas de estudo organizadas pelas escolas. É sempre bom saber que o erário público serve para subsidiar arte desta superlativa qualidade. E é reconfortante, aos dois milhões de pobres, aos milhares de desempregados, precarizados, hipotecados e escravos periclitantes deste país, saberem que o seu sacrifício não tem sido em vão. Que há todo um eficiente sistema de recolha e redistribuição a dar excelente uso às suas bem sacadas e esmifradas contribuições.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Boas perspectivas

Noticia o Washington Post: «Iraqis Joining Insurgency Less for Cause Than Cash».
Isto é um sinal evidente que a democratização do Iraque avança a bom ritmo. Os próprios insurrectos já imitam as forças ocupantes. Americanizam-se a olhos vistos.

As malhas que o dinheiro tece

Segundo a JTA:


Isto, como se pode constatar, não é uma insinuação maldosa rosnada por anti-semitas ferozes: é uma proclamação das próprias organizações judaicas. E, assim à primeira vista, lembra o quê? - Uma teia? Uma rede? Uma trama?
E patenteia o quê? - Uma capacidade de lóbi à escala global, gabam-se eles. E Lóbi, é um eufemismo de quê?

Ajuste de contas

Ainda sobre o postal anterior, relativamente ao duelo iminente de que tanto se fala (sobretudo na blogosfera americana), entre o Velho Establishment (essencialmente protestante) e o Novo Establishment (essencialmente judeu), eu apostaria nos judeus: o artigo original leva sempre vantagem sobre a imitação.
Agora reparo: eu escrevi duelo? Errado. Parece que é mais um ajuste de contas... bancárias.

terça-feira, novembro 20, 2007

TOP...Less

O episódio conta-se depressa:
A Vanity Fair publicou a lista das cem personalidades mais poderosas da Sociedade Americana.
O Jerusalem Post veio prontamente separar águas, proclamando: "Mais de metade dos ditos cujos são judeus". Ora, contar judeus nestas listas, como aqui se refere, "is not something any sane publication in New York would be caught dead doing".
Pois claro que não. Choveriam logo acusacinhas e vociferadelas de "anti-semita! anti-semita!". Mas como, desta vez, é o Jerusalem Post, não há problema.
Ficamos assim a saber o que já se suspeitava: que os judeus, nos Estados Unidos, vão de vento em popa. Não admira que os arianos e fulanos WASPs (White Anglo-Saxonic Protestantes) comecem a manifestar uma certa azia. O artigo de Michael Collins Piper dá conta disso mesmo. Fala num "New establishment" judeocrata: "What this amazing list reveals is a reality that many will find hard to accept: America’s “New Establishment” is overwhelmingly dominated by Jewish figures or those who are on the payroll of or dependent upon Jewish families and financial interests that bankroll the powerful Israeli lobby in America. That conclusion—however “offensive” or “controversial” in the eyes of some people—is inescapable. "
E acrescenta a lista, a tal do TOP 100, devidamente anotada, em anexo. Merece uma vista de olhos.

Entretanto, longe de mim desatar para aqui no despautério de confrontar esta prosperidade judofântica com a decadência cada vez mais evidente dos Estados Unidos. Era o que faltava!...

segunda-feira, novembro 19, 2007

Emetismos vaginais

(Ainda tentei, mas não resisti...)

- Senhor Doutor, dá licença que o corpo seja meu? (link para o DN, convém ler antes).

- Mas eu proibo-a dalguma coisa. Por quem é, disponha dele à vontade. Venda-o, alugue-o, hipoteque-o, faça como lhe der na real gana!...
- Então, interrompa-me!...
- Desculpe...?!
- Percebe o que eu quero dizer: extraia-me este feto inconveniente.
- Como? Extraio-lho? Então o corpo não é absolutamente seu? Não o produziu sozinha? Então extraia-o a menina. O seu corpo não tem - além de útero, clitóris e ovários - mãozinhas?! O corpo é seu, o feto é seu, pegue nas suas mãozinhas e extraia-o livremente. Se o fez sozinha, desfaça-o agora.
- O senhor doutor está a brincar com coisas sérias. A lei obriga-o a fazer-me esta lipoaspiração interna!... Este calo incomoda-me bastante. Prejudica-me a carreira. Atenta contra a minha liberdade!...
- De maneira nenhuma brinco. Estou seríssimo e compenetrado. O corpo é seu, o feto é seu, porque é que o problema há-de ser meu. Ou seja, a menina quer o corpo, arranja o feto e depois inventa descarregar o problema nos outros?!...
- É um problema social!...
- Mais parece um problema mental. E grave. Vai-me dizer a seguir que foi a sociedade que a emprenhou? Tenha paciência. Se o corpo é império exclusivo seu, ninguém tem o direito a meter o bedelho nisso. E se não o bedelho muito menos as mãos. Seria invasão da propriedade alheia. Portanto, o que a menina faz com ele é soberania e responsabilidade absolutamente sua. O outro doido dizia “O Estado sou eu”; a menina, no intervalo das bebedeiras, proclama “O Corpo sou eu!”- do Rei-Sol passamos, assim, ao Umbigo-Sol. Ou ao Clitóris-Sol, como queira. Pois que lhe faça muito bom proveito.
- Mas como quer o senhor que eu resolva isto sem ajuda médica? Promove que me dirija a um vão de escada ou a uma clínica privada? É isso? Uma clínica onde, se calhar, até dá consulta...
- Não, de todo. A minha posição é simples: visto que a menina se auto-emprenhou, então auto-despeje-se. Apenas cumpro a sua bela lógica. Ou a menina, na lógica é como em tudo na vida: gosta muito do aleive mas não quer saber das consequências?
- Se o senhor não cumpre a lei, eu... eu chamo a polícia!
- Olha que bela moral: para que a menina seja a dona absoluta do seu corpo e das birras e caprichos que nele cozinha, sou eu forçado a abdicar do meu, na ponta dos esbirros se necessário for! A liberdade plena das suas vísceras faz-se à conta da sujeição prepotente das minhas mãos e ideias. A sua liberdade floresce da abolição da minha.
- Não tergiverse nem falacione, senhor doutor! Um governo eleito, após referendo nacional, tem todo o direito de implementar as leis que a maioria da minoria votante escolheu e legitimou. O senhor está obrigado a cumprir a lei.
- A lei obriga-me? Mas alguma lei a obrigou a ficar nesse estado? Algum meliante a forçou a emprenhar involuntariamente? Então não foi no exercício da propriedade e liberdade ufana do seu corpo que lhe fez isso, ao seu principado? E agora em nome do mesmo princípio quer fazer exactamente o contrário disso? Temos aqui a Anti-Penélope: faz de noite e desmancha de dia. Lembra-me a fábula do macaco do rabo cortado: a menina quer mudar de estado à mesma velocidade com que muda de capricho!... A donzela, que não quer saber dos interesses da sociedade para nada, acha que, em contrapartida, é esta que se deve submeter ao despotismo esclarecido dos seus caprichos, isto é, das suas efervescências do momento?! Mas acha que um país é uma loja de conveniências?... Que um médico é um esteticista dos calos?
- Mas como quer o senhor doutor que eu exerça um direito que a lei me confere, se não for devidamente assistida?...
- Entenda-se com a lei: vá ter com os deputados, com os ministros, com os polícias, com os advogados e os juizes: eles que lho deram, o direito, eles que lho resolvam! Eu, de momento, não estou para aí virado. E se são os efeitos da torcida que a perturbam, resolva por baixo como é costume resolver por cima: deite os dedos ao orifício e tente irritar a goela. Afinal, no seu caso, a cloaca não há-de diferir muito da matraca.

domingo, novembro 18, 2007

Possessão ou ciência?



Transcrição da conversa havida ontem, pelas 23.15, na Tasca, digo Cibertasca, entre o Engenheiro Ildefonso Caguinchas e o seu sócio financeiro Arnobaldo Felisberto Carica, mais conhecido por Punhetas, e recolhida, com risco da própria vida, pelo meu agente secreto, Zero-Zero-Nulo.

Engenheiro Ildefonso Caguinchas– Punhetas, tens que parar com isso! Olha-me para essas olheiras... São duas crateras com uns olhos lá ao fundo! Até parece que te democratizaram a cara à americana!...
Punhetas – Não consigo. É mais forte do que eu.
Engenheiro – Acabas tísico, pá. Se antes não te secar a gaita de tanto a espremeres!...
Punhetas – Isso é tudo muito bonito de dizer. Mas mal acendo a televisão, começa o frenesim. A convocatória. Umas ganas que só visto! Aquelas apresentadoras dão-me uma tusa irresistível. Insufla-se-me a morcela. Se não esgalho, até parece que rebento! E as entrevistas, os talk-shows, as reportagens... É tudo. Tem qualquer coisa que não sei explicar, mas, quando dou por mim, já estou a arfar para a retrete. Ou para o lavatório, em se tratando da Judite na Grande Entrevista.
Engenheiro – Larga a televisão, ó Punhetas! Está visto que estás possesso do caixote. Vai às putas, vai à bruxa, faz qualquer coisa por ti, ó desgraçado!... Por causa do caixote ainda baixas ao caixão!
Punhetas – Às putas já fui e não resultou. Até foste tu que me levaste, ainda o mês passado, ou já te esqueceste?... Não guardo boas recordações. Fiquei entalado na anã. Teve uma daquelas contracções nervosas aferrolhoantes, que até tive que ir ser desencarcerado no hospital...
Engenheiro – Eh-eh, pois foi. A minorca excitou-se, ou teve um ataque epiléptico, ou lá o que foi. Vá lá que não te mordeu... Sorte a tua não teres sido entalado mais acima. Era a guilhotina. A tipa cerra a dentuça que nem o pitbull do Chico Escuro. Nem à porrada larga...
Punhetas – Duvido que ir à bruxa tenha mais sucesso que ir à puta anã. Até porque fora do ecrã as gajas nem me excitam grande coisa. Cada vez menos, aliás. Ao contrário das imagens televisivas: estou cada vez mais apaixonado!
Engenheiro – Punhetas, estás é chanfrado de todo. Preferes a fantasia e o artificial ao natural. É como aqueles otários que preferem frango de aviário a galinha do campo. Se o Dragão sabe disso, chama-te um monte de nomes complicados!
Punhetas – Já me chamou. No outro dia disse que eu era um onanodependente compulsivo. E na véspera já me tinha classificado como Olhemobile masturbo-diesel.
Engenheiro – Fala baixo, que o gajo ‘tá a olhar para nós. Mas ouve lá, tu explica-me duma vez por todas: como é que essa sarna do diabo te assolapou?
Punhetas – Bem, começou por ser uma novidade, uma descoberta. Depois tornou-se uma experiência. A seguir, degenerou em vício. E agora, pá, agora já é um tique.
Engenheiro – Foda-se, Punhetas, afinal não estás possesso...
Punhetas – Ah não? Então, ’tou o quê?
Engenheiro – Estás é um refinado e escarrado cientista, c'um caralho! É por isso que já não te contentas com gajas: queres é foder esta merda toda!...

sábado, novembro 17, 2007

História da Carochinha

Segundo o Dicionário Shelltox Concise -e eu concordo plenamente -, "Proto-história" corresponde àquele período final da Pré-História em que o relato mítico da existência humana e dos factos ocorridos é feito de forma exclusivamente oral. Por seu turno, chama-se "História" a esse mesmo relato mítico, desde que passou a ser feito através da escrita. Vem durando até aos dias hoje.
Entre povos, impérios, estados, seitas, hordas e nações o privilégio de contar a história decide-se através de guerras.
Tudo indica tratar-se da glória maior deste mundo e a fonte de todas as riquezas, felicidades e virtudes.

sexta-feira, novembro 16, 2007

O Fim da Macacada





Na Índia, surgiu um grave problema evolutivo:

Em plena capital, Nova Deli, manifestações agressivas de símios residentes já vitimaram, pelo menos, o vice-presidente do município, mister Sawinder Singh Bajwa, de 52 anos, que morreu após queda aparatosa do terraço da sua casa, quando fugia de quatro macacos particularmente belicosos. Não sei que reivindicações apresentavam, de dentuça em riste, mas o certo é que se revelaram aterradoras -e fatais - para o infausto autarca.
Entretanto, a polícia local - e à semelhança do resto do mundo - revela-se impreparada para lidar com macacos. "É problemático", lastima-se o chefe da dita, "a nossa especialidade é mais cornúpetos desvairados". Não admira. Tanto mais (e isto eu não sabia, julgava que eram só as vacas) que os macacos são venerados na Índia, pelo que é proibido matá-los ou exercer sobre eles qualquer tipo de violência. E não venerá-los, sobretudo na Internet, quase podemos apostar, constitui crime de ódio. Orangotangos, chimpanzés e babuínos, crime grave; mas macacos-narigudos, os mais sagrados e predestinados de todos, aí, então, crime de lesa-majestade.
O panorama resultante de tamanha babel vem bem transcrito na notícia do JN: «Nas ruas de Nova Deli passeiam-se em liberdade, há várias décadas, entre 10 e 20 mil macacos selvagens, a par de 35 mil vacas e búfalos e milhares de cães vadios. (Já não contando com serpentes, batráquios e turistas).

Em resumo, é o fim da macacada. Fenómeno deveras insólito que, todavia, a nosso modo, igualmente experimentamos. Só que nós não é bem os macacos, é mais os descendentes deles. Também nos infestam as cidades, especialmente os condóminos fechados; e, com idêntica gandulice inveterada, também nos invadem regularmente os ministérios, os parlamentos, as repartições, as redacções, as televisões, os restaurantes caros, as discotecas e, para cúmulo, até os blogues. A sua perícia a trepar e a amarinhar nas carreiras e bananeiras não deixa poleiro nem pedestal incólumes. A sua capacidade de infiltração é prodigiosa. O seu guincho coral paralisa e desencoraja o mais destemido. E também mordem. Ai não que não mordem... Raivosamente! Só que mordem pela calada. Ou por cima da burrice. Ou pelo "Diário da República". Ou de noite, com anestesia prévia aos colmilhos, nas jugulares desprevenidas - passe a redundância.
Com os macacos, evoluídos ou por evoluir, já devíamos saber: começamos a venerá-los e acabamos perseguidos e predados por eles.
Por mim, conforme me instruiu o meu avô, se um macaco me vier morder, sei bem o que lhe faço: Dou-lhe com um pau nos cornos, enquanto lhe vocifero rispidamente: "vai morder quem te venera, ó filho duma grande puta! Quem te venera ou quem te elegeu!"

PS: No caso do macaco ser da espécie nariguda, dada a sua hipersensibilidade, convém não usar de coprolalia. Portanto, nunca mandá-lo morder quem lhe fez o cu, porque não se sabe quem foi, mas antes quem lho lambe, ao esfíncter, sistematicamente. E esses são muitos. Mais que as mães (se bem que quanto aos pais se enquadrem na mesma confraria).

quinta-feira, novembro 15, 2007

Peritos e depressões

No JN, informam-nos que a "maioria das depressões não é tratada por peritos". É claro que não, até porque, em Portugal, praticamente, não existem peritos para tratar de depressões. O que existe, em barda, em catadupa, em viveiro permanente, são peritos em criar depressões: economistas, políticos, jornalistas, politólogos, comentaristas pantófagos e humoristas, entre outros. E fora os meteorologistas.
Quando apontam os psiquiatras como peritos estão claramente a mangar connosco. Os psiquiatras não são peritos, são especialistas. Não no tratamento, mas no desenvolvimento e rentabilização das depressões. Compete-lhes zelar para que cresçam saudáveis e viçosas. Supervisionam a sua nutrição e cultivo.
Resulta disto que os deprimidos mais lúcidos mas menos abonados recorram, geralmente, à auto-medicação, tentando, entre outras panaceias, a taberna mais próxima. Já os mais abonados recolhem-se, por costume, a uma casa de alterne que não exija sufrágio universal, nem filiação partidária.
Alternativa vantajosa ao psiquiatra, para o jet-set, é a bruxa. É igualmente charlatã, mas imensamente mais pitoresca. E o paciente não paga para ainda ter que ser ele a contar a história. Com a nigromante, arrota, mas, ao menos, escuta um monte de histórias. Cada fita mais fabulosa que a anterior. E não é só ele que arrota: ela também. Arrota, ronca, gargafunga. Imita vozes cavernosas. Cavaqueia com os espíritos e convoca congressos de defuntos. Em suma: uma one-woman show. "Belo circo!", congratula-se o paciente à saída. "Dei-lhe mais vinte euros e ainda me ordenhou", gabou-se o Engenheiro Ildefonso, um dia destes, no rescaldo satisfeito duma dessas visitas. -"Mãozinhas milagreiras!" Terapia obscena? Mas, estou em crer, plenamente eficaz. Ele não me pareceu nada deprimido. É certo que também não estava antes, mas podia muito bem tê-lo ficado depois. Como, aliás, e amiúde, acontece. Basta imaginar-mos um desbraçado qualquer diante daquela fronha olheirabunda do Dr. Daniel Sampaio... Até o Conde Drácula, quase garanto, seria mais animador. Pelo menos de papo cheio não teria aquele aspecto macilento dum onanista zombi. Meia hora nas imediações dum psica-veterinário de tal envergadura e fica o assunto arrumado. Ou seja, um gajo entra deprimido e, à falta de eutanásia portátil ou duma janela aberta, sai directo à ponte ou passagem de nível mais próxima. Macacos me mordam se o figurão não tem uma avença choruda com a Servilusa.
Bem, mas perguntar-me-ão, "agora a sério, ó Dragão, então não existem mesmo genuínos peritos no tratamento de depressões em Portugal?". Existem, claro que existem. Mas são cada vez mais raros. E caríssimos! Balurdiosos! Um bom ponta-de-lança, por estes dias, custa uma fortuna. E nunca se sabe se não vai estranhar o clima. Ou a alimentação.

Reflexo condicionado

Em mais uma prova de anti-semitismo inqualificável, e no seguimento da vaga tsunamiesca que varre o planeta, os cristãos de Israel teimam em desdenhar do cuspo generoso com que os judeus locais, filantrópica e frequentemente, lhes mimoseiam as faces.
No auge deste despautério uivante, o Arcebispo Arménio chegou a queixar-se da qualidade da saliva que um estudante duma madrassa judaica, digo yeshiva, com ternura ecuménica, lhe acabava de ministrar, não na cara (como, se calhar, esperava e já vinha munido de babete), mas na própria cruz da procissão, que tartarugava desprevenida junto ao Santo Sepúlcro. Por causa do racismo judeofóbico do destrambelhado clérigo e da agressão deste ao benemérito escarrante, a cruz mais o respectivo morador - conjunto datado do século XVII -, resultaram espatifados.
Consta que é uma tradição judaica, com dois mil e sete anos: sempre que Cristo passa, eles cospem. Lhe.
É Pavlov quem melhor explica... Estas peripécias da saliva.

Sucedâneos

«É perfeitamente claro que um crente se identifica até certo ponto com o que faz e com o que crê; nele não existe distância de monta entre a sua lucidez, por um lado, e as suas acções e pensamentos, por outro. Esta distância cresce desmesuradamente no falso crente, naquele que exibe convicções sem a elas aderir. O objecto da sua fé é um sucedâneo. É preciso dizê-lo sem rodeios: a minha revolta é uma fé que subscrevo sem nela acreditar. Mas não posso deixar de a subscrever. Nunca meditaremos o bastante nas palavras de Kirilov sobre Stavroguine: "Quando acredita, não acredita que acredita; quando não acredita, não acredita que não acredita."»
- E.M. Cioran, "Pensar contra si próprio".

quarta-feira, novembro 14, 2007

Com corrente e cadeado

Por incumbência, primeiro do B.F.S e em segundo de outro César -neste caso, o David Sousa -, aqui fica o meu contributo para a corrente.

Página 161, 5ª frase completa (ou coisa que o valha) de "Os intelectuais na Idade Média", de Jacques Le Goff, reza o seguinte:

«Se resistis à autoridade secular, mesmo quando os seus detentores são infiéis ou perversos, incorreis na condenação eterna [...]»

Aproveito para dizer que vem esta curiosa frase a propósito da "concepção positivista da vida social como condutora ao direito divino da ordem estabelecida" e é oriunda do clã Dubois-Nogaret. Estava-se no reinado de Filipe o Belo, na viragem do século XIII para o século XIV. O Monstro frio acordava.
Segue a corrente para a Margarida, o F.Santos e o Carlos (este, a ver se acaba a manutenção).

O silêncio e a nudeza

Dois dos momentos superlativos de lucidez e sapiência que permanecem incólumes ao tempo, e que reconheço na nossa cultura são:
1. A resposta de Jesus a Pilatos sobre o que era a Verdade.
2. O grito espontâneo da criança diante do cortejo pomposo da majestade: "O rei vai nu!"

Ajustam-se a todas as idades. E é por entre esses dois abismos que singramos e nos confrontamos: o Silêncio dos Deuses e a nudeza dos poderosos. Cila e Caribdis da nossa civilização.
Entretanto, passamos a vida a confundir Verdade com Certeza, Conhecimento com Saber, e a alfaiatar a majestade à última moda. Sem sequer perceber o mais óbvio e comezinho da fábula: que a majestade vai nua apenas porque, em vez de roupa, a enfarpelaram numa teoria - melhor: numa crença (uma crença, note-se, só ao alcance dos inteligentes). A ela, por vaidade e estupidez; e aos súbditos, por imitação e obediência.

Não há quem deteste mais os antigos Dominicanos do que os Novos Dominicanos. Um dos sinais evidentes do Filho da Puta é o ódio resfolegante ao seu antecessor.
A imbecilidade galopante desta escumalhada ateísta hodierna, que germinou debaixo de não sei que pedras, consiste em ulular: "Não, o rei não vai nu, vai é mal vestido! Temos que despi-lo. Ou melhor, revesti-lo com um despido só ao alcance dos inteligentes!"
E é tal o gafanhoteio, a histeria e a peixeirice, que a majestade acaba a desfilar, já nem revestida de crença ou descrença, mas apenas revestida de cuspo.

terça-feira, novembro 13, 2007

O seu a seu dono

«Somos anões que treparam aos ombros dos gigantes. Desse modo, vemos mais e mais longe do que eles, não porque a nossa vista seja mais aguda ou a nossa estatura maior, mas porque eles nos erguem no ar e nos elevam com toda a sua altura gigantesca (...)»
- Bernardo de Chartres (Séc. XII)

Babilónia




Os venenos mais eficazes são aqueles que são impingidos com a embalagem de remédios.
Depois da redução a macaco com Darwin, o Homem converteu-se à secretaria do bandulho, com Marx, e à contemplação da pilinha e do buraco da fechadura do quarto dos pais, com Freud.
Resolvido o ódio a Deus, tratou-se do ódio ao Homem. A inimizade e o ressentimento foram injectado na sociedade, com a zaragata de classes, e na família, com a rixa de gerações e de sexos. A esquizofrenia social e a esquizofrenia mental em acção. Fender e fragmentar para reinar. Perverter para manipular. Cavilesa óbvia: a única forma que os anõezinhos dementes, os homúnculos rasteiros têm de sobressair é fazer com que todo o resto se prostre, se abata e vermine. Um medieval disse sobre a sabedoria do seu tempo: "somos anões aos ombros de gigantes"; e eu constato na sofística torcionária do meu: "são piolhos na cabeça de anões que defecam sobre a cabeça de gigantes assassinados!"
É nisso que ainda vamos: na Morte do Homem.
E é o triunfo da porcaria. Liliput prestes a coroar-se Babilónia.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Frank Einstein ou A Altíssima tecnologia




«For the first time, scientists have created dozens of cloned embryos from adult primates. But what are the implications of this technical breakthrough for the future of mankind?»

Lá estão eles nas frankenstoinices desenfreadas. E ainda perguntam pelas implicações... Mas quais implicações? Uma rasquice daquelas acham que constitui alguma proeza inaudita ou cometimento de pasmar?! Imagino os balúrdios que não gastaram para clonar chimpanzés a partir de chimpanzés!... Bela ninharia, meus amigos. Quando qualquer director de programas da SIC ou TVI, em Portugal, sem sequer precisar de especiais diplomas ou mestrados biocoisos, há mais de dez anos consegue cloná-los, aos chimpanzés - e até orangotangos! - a partir de humanos. Isso sim, isso é que é altíssima tecnologia e ciência avançagante.
Nunca aproveitamos as descobertas, mas vamos sempre léguas, quando não séculos, à frente.

Termino, bem a propósito, com mais uma provocaçãozinha a um certo e estimado paladino da "Epistéme"...
É Aristóteles que conta o episódio. Interrogado pela a mulher de Hierão sobre o que seria preferível, ser sábio ou ser rico, Simónides respondeu: «ser rico, pois vejo sempre os sábios passarem o tempo à porta dos ricos.»

Droga, Loucura, Morte

A mesma palavra, na língua mãe da nossa ex-civilização, serve para designar "remédio" e "veneno": "Pharmacon".
Se me pedissem para nomear os três maiores venenos da Idade Contemporânea, não hesitaria muito: Marxismo, Determinismo e Psicanálise.
Tanto quanto drogada, intoxicada, vegetalizada, a desgraçada da sociedade "ocidental" anda a ser lavada ao cérebro, vai para dois séculos, com essas três lixívias. É um suicídio colectivo como não há memória. Alienígenas perversos, sofisticados e misantropos que quisessem patrocinar o extermínio da nossa espécie não fariam melhor.
Não é nenhuma atracção pelo abismo, antes fosse. Não tem nada a ver com profundidade. É pura atracção pelo esgoto. Mentalmente, é o retorno à quadropedia; socialmente, é a lemminguização compulsiva.

domingo, novembro 11, 2007

O Carácter dos Nobres

«Todos os indivíduos, quando possuem algum bem, têm por costume acrescentar-lhe outro; ora, a nobreza é uma dignidade transmitida pelos antepassados. Também comporta uma certa tendência para o desprezo, mesmo em relação àqueles que são semelhantes aos seus antepassados, porque a distância torna as mesmas coisas mais veneráveis do que a proximidade, e presta-se mais à gabarolice. Por nobre entendo aquele cujas virtudes são inerentes a uma estirpe; por de nobre carácter entendo aquele que não perde as suas qualidades naturais. Ora, a maior parte das vezes, não é isso que acontece com os nobres, pelo contrário, muitos deles são de vil carácter. Nas gerações humanas há uma espécie de colheita, tal como nos produtos da terra e, algumas vezes, se a linhagem é boa, nascem durante algum tempo homens extraordinários, depois vem a decadência. As famílias de boa estirpe degeneram em carácteres tresloucados, como os descendentes de Alcibíades e de Dionísio, o Antigo; as que são dotadas de uma carácter firme degeneram em estupidez e indolência, como os descendentes de Címon, de Péricles e de Sócrates.»
- Aristóteles, Retórica

sábado, novembro 10, 2007

A Volúpia ao espelho - Peça num acto e várias cenas

***

Cena 1

Josué recebe Samuel e Esther, pela primeira vez, em sua casa. Na qualidade de anfitrião, apresenta o domicílio às visitas...

Josué - O meu escritório!... Aqui é o nosso quarto!... E este é o quarto do Davidezinho.
Samuel - Oh, espaçoso!... E que belas suásticas na porta!...
Josué - Pois, o pequeno David é um excelente aluno. Já está no primeiro ano do Simulador de Anti-semitismo. É o primeiro da idade dele a consegui-lo.
Samuel - E que excelente caligrafia que ele tem!...
Josué (vaidoso) - De facto. No outro dia, o rabi Isaías até o destacou diante da comunidade. Como prémio, deixou-o dactilografar nas paredes do cemitério. Diz que se continuar assim, no Yom Kipour até pode assinar uma campa.
Esther - Que inveja! O vosso filho é um predestinado. Já o nosso Daniel saiu ao pai e lá continua a marcar passo no Monopólio.
Samuel - É, não sai da prisão. Suspeito que os dados não são "kosher".
Esther (viperina) - Já eu suspeito da tua mãe e da mãe dela.
Samuel (agastado) - E tu que não embirrasses com a mãezinha!...
Josué - Calma, meus amigos. Se calhar vocês não estão a estimulá-lo devidamente. Se não os habituamos a vandalizar desde pequeninos, depois custa mais. Os bons hábitos adquirem-se desde a mais tenra idade. O nosso David ainda tinha dois anos e já se auto-flagelava na perfeição.
Esther (sempre viperina) - O nosso Daniel só aos quatro anos conseguiu imaginar o seu primeiro nazi! Tudo por culpa do Samuel, que é um ortodoxo e acha que não deviamos poluir com porcarias a mente das crianças!
Josué - Erro crasso, meu caro. A capacidade de imaginar e inventar nazis é fundamental. Sem esse poder conceptual da mente, nada feito! O nosso David foi habituado, desde o berço, a sentir-se acompanhado de hordas negras. Devidamente fardados de SS Totenkopf todos eles. Às vezes, quando não conseguia dormir, porque se sentia sozinho, desameaçado, eu ia lá tranquilizá-lo. Garantia-lhe que havia pelo menos um batalhão emboscado debaixo da cama, duas brigadas de extermínio no armário e uma companhia motorizada de prevenção na casa de banho. Era remédio santo. Dormia que nem uma vítima do Holocausto.
Esther (cada vez mais venenosa) - O nosso Daniel, por causa dos anacronismos do pai e da estirpe duvidosa da avó, no outro dia até esboçou uma certa dúvida de que o Mundo tivesse começado no Holocausto. Intrigavam-no rumores sobre uma grande explosão...
Josué - Meu Deus, um ateu em potência!...
Esther - Foi o que eu disse ao Samuel. Pões-te com ortodoxias obsoletas e o teu filho ainda acaba a ir à Igreja.
Josué - O Holocausto lavou todos os nossos pecados. Santificou-nos a todos. É fundamental que eles bebam isso com o leite materno.
Esther - Pois é. Mas o teimoso do meu marido, assessorado pela mãe dele, acha-se imune ao progresso, marimba-se nas novas pedagogias.
Josué - O melhor é fazerem uma peregrinação a Auschwitz. A fé, quando sincera e ginasticada, tem poderes milagrosos. Com a pequena Judite, dos Flinstein, resultou. Veio de lá curada. Agora já acha que todos os meninos gentios do bairro são seres inferiores que têm inveja dela e planeiam exterminá-la.
Esther - Apesar dos meus esforços, o meu Daniel brinca com os outros miúdos do bairro. E nenhum o odeia. É uma vergonha."Vais ser um Zé Ninguém na vida", farto-me de admoestá-lo. Ralo-me. Em vão. Até o rabi Isaías desespera. A semana passada, chamou-me e disse-me, em tom fúnebre: "no hebraico lá avança, com dificuldade. Mas não há maneira do Desprezo lhe entrar na cabeça!..."
Josué - Ah, felizmente que o meu David por onde passa deixa um rasto de ódio, aversão e fobia muito prometedor. Tem uma capacidade conceptual prodigiosa. Ansiamos pela hora em que passe do simulador à realidade. E até já sabe preencher impressos de queixa e relatórios de denúncia na perfeição. E está a desenvolver uma destas susceptibilidades!... E quando o circuncisámos, vacinámo-lo logo contra todo o sentido de humor. Medida crucial, reitero-vos: o riso, esse inimigo do negócio, também é preciso desencorajá-lo desde bebézinhos. Se bem que no caso dele, nem requereu grande trabalho: é de índole patibular desde a barriga da mãe. Nasceu já sanhudo e de celho carregado, com ar de quem todos lhe devem e ningém lhe paga o suficiente. Um pai não podia pedir melhor a Deus.
Esther - Que felicidade e bênção a sua!...
Samuel - E tem imenso jeito para o desenho, não me canso de admirar... Então aquele Adolph Hitler grafitado ali à cabeceira da cama até dá arrepios!... No mínimo, vai ser artista.

(Entretanto, chegam defronte da casa de banho. Ao abrirem a porta, dão de caras com o pequeno David, ao espelho, a acabar de rapar o cabelo e a preparar-se para desenhar uma suástica na cabeça).

Josué (ufano) - Ah, cá está o meu pequeno génio!... Está na hora de jantar, meu filho. Não te demores!
David - Vou já, papá. Estou só a acabar de fazer os trabalhos de casa.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Telejornal - edição especial: da Indemnização hereditária aos crimes de ódio auto-inflingidos

Extra! Extra! Não percam:

1. «Israel seeks fresh Holocaust reparations deal with Germany»
(A parte mais interessante é quando Rafi Eitan, Ministro dos Negócios Pensionistas, declara: ""We see Germany as responsible for the Holocaust survivors". Temo bem que isto seja um incitamento a todos os futuros chacinadores a não deixarem sobreviventes. Saem mais baratos os mortos.)

2. «French Jews stunned by claims that rabbi faked own stabbing»
(A história fabulosa dum rabi francês que terá simulado um esfaqueamento a si próprio. Será possível?...)

3. «Professor acused of faking hate crime».
(Uma professora tentou defraudar os seguros, com falsas queixas de vandalismo racista no seu automóvel).

4. «Cries of 'anti-Semitism' vanish after suspect identified»

5. «Doubt Is Cast on Report Of Attack on Downey».
(Downey, estrela dum talk-show televisivo, queixou-se à polícia de ter sido atacado por skinheads, no aeroporto de S.Francisco. Os fulanos, imagine-se, tentaram rapar-lhe a cabeça e gravar-lhe suásticas na cara, nas sweatshirt e nas cuecas. A polícia desconfia da imaginação do sr. Downey.)

6. «'Swastika attack' woman detained».
(Uma mulher de 23 anos, nos subúrbios de Paris, que se queixou de ter sido confundida com uma judia e, consequentemente, assaltada, despida e carimbada com suásticas, confessou ter inventado a história.)

7. «Judge's son gets probation for drug possession, other felonies»
( Entre várias habilidades, Grant V. Schwartz, judeu americano, "was also arrested in spring on federal charges of bank larceny from the offices of Community Central Bank and making a false statement to investigators, in connection with a federal discrimination complaint he filed against Lieghio in the spray-paint matter."

8. «Police: Jewish GW Student Admits Putting Swastikas On Her Door».
(Na Universidade george Washington, em que 30% por cento dos estudantes são judeus, uma aluna confessou ter sido ela a pintar suásticas na porta do seu quarto. )

9. «Jewish man held over Paris fire».
(O incêndio no Centro comunitário Judeu, em Paris, que se pensava ter sido ateado por anti-semitas, eventualmente skinheads, afinal foi ateado por um judeu, antigo trabalhador no local.)

10. «UNH student made false claims»
(Outra estudante judia com uma imaginação fértil.)

Parece que temos que acrescentar ao anti-semitismo positivo e ao anti-semitismo negativo o anti-semitismo simulado. Mas é evidente que ainda não chega aos calcanhares do filo-semitismo fictício.

Ora, nem mais!...

Há quem diga que, na filogénese humana, cada génio custa dez milhões de mentecaptos. É a desigualdade à partida. Eu prefiro transpor para as caixas de comentários, onde vale a pena aturar heroicamente umas dezenas de coprocéfalos incontinentes, exibicionistas e compulsivos para ver florir, de vez em quando, um comentário a beirar o genial. Trocando por miúdas (já que miúdos nunca me atraíram): os imbecis são o esterco da inteligência. Neste blogue usam-se como adubo. E resulta.
A prova, desta vez, é o comentário que o Alexandre - fazendo jus ao nome - aí acaba de fazer germinar, e que merece, sem sombra de dúvida, primeira página. Portanto, até para amenizar o tempo de espera da acta, aí vai:


Pois é, ó caro Alexandre, bem dito e melhor escrito. E eu nem devia dizer isto, mas... na mouche!
Já em relação ao seu palpite (em negritado), acredite que consigo. É o chamado truque do reflexo condicionado: toca-se a campainha e o elefante automaticamente dá uso à tromba, tanto quanto os sabujos salivam e ladram de excitação.
Um último chiste: sabe que os hipócritas e fariseus deste mundo não se enrabam? Pois não, empalam-se. Com humor. E sem piedade.
Porque se os enrabassemos, o prazer seria todo deles; e assim, bem empalados, o prazer é todo nosso.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Reunião de emergência

Neste momento, o C.A.F.T.E.N (Comité de Análise dos Factos, Técnicas e Empresários da Notícia) está reunido de emergência. Na tasca, aliás Cibertasca, discute-se o problema candente da Nacinha e do seu anti-profeta, o Engenheiro Ildefonso Caguinchas: "como é que uma pessoa sabe se é anti-semita positivo ou anti-semita negativo?"
Não perca, a qualquer momento, a acta deste Super-Conselho de Estado a que isto chegou.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Setenta vezes sete




Começo com uma breve fábula ilustrativa.

Estava um conceituado judeu, devidamente abrigado, deveras pensativo e atarefado de roda duma folha de cálculos. Chega um gentio seu amigo, visivelmente tomado de grande aflição, e brada-lhe:
-"Estão-te ali a chacinar a família, Jacob! Acode-lhes! Vai depressa, homem!..."
Responde o bom hebreu, sem dar sinal de qualquer perturbação:
-"Não me interrompas. Não vês que estou a trabalhar?..."
Estupefacto, o outro redobra no apelo:
-"Mas então massacram-te a família, fuzilam-te os amigos, e tu não fazes nada? Que vejo eu, continuas como se nada fosse?! Nem mexes uma palha para os ajudar!... Mas que raio de homem és tu?!..."
-"Então - retruca, enfadado, o eleito - se eu agora lá fosse só conseguia era ser massacrado também. Do mal o menos: haja alguém que sobreviva. Se por coincidência esse alguém sou eu, só posso dar graças a Iavhé."
-"Mas que interesse podes ter tu em viver a um tal custo? Que sentido te resta na vida, rodeado de campas e fantasmas?..."
-" Sobrevivo para relembrar, para fazer o registo! É imperativo. Cultivamo-lo desde a noite dos tempos."
-"Ah, parece-me que, finalmente, entendo: assentas datas e números para mais tarde pedir justiça, não é isso?!"
-"Justiça é um conceito muito volúvel e abstracto, meu caro. Digamos antes que se cumprem desígnios do Senhor Deus de Israel: a eles compete-lhes serem massacrados; a mim compete-me calcular e cobrar as indemnizações. Por eles eu já não posso fazer nada, mas eles ainda podem fazer muito por mim.
E como o gentio pasmasse, o hebreu colmatou, sibilino:
-"Então, porque te assombras? São as Termópilas à nossa maneira: uns sacrificam-se em holocausto para que outros lucrem e floresçam."


Moral da história: "Matei um homem porque me feriu e um rapaz porque me pisou. Se Caim foi pago sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete." (Génesis, 4, 23-24) Ou, em português mais lhano e chão: "Cá se fazem cá se pagam". E neste caso, naturalmente, com juros.

terça-feira, novembro 06, 2007

O Lili-Canecismo pênsil



O fenómeno até teve honras de abertura de telejornal: os "antifascistas portugueses estão em marcha contra o Museu Salazar".

Isto, porém, só atesta da deterioração galopante -e preocupante - dos nossos antifaxistas de plantão. Uns antifascistas a sério, viçosos e competentes -como aqueles que a malta, aqui há trinta anos atrás, julgava chacinados e esquartejados pela tenebrosa Pide, mas afinal, para nosso espanto, brotaram vivinhos e vorazes de Silva mal o Abril floriu para todos eles - não perderiam tempo nestas melguices folclóricas. Nem um minuto. Faziam ao Museu como fizeram à Ponte: esperavam que os fáxistas gastassem trabalho, energias e tempo a construi-lo e depois, numa noite apenas, todos lampeiros, iam lá e mudavam-lhe o nome. Para Museu 25 de Abril, evidentemente.
O resto - o conteúdo, a função, a finalidade - como tudo, nesta paróquia, é irrelevante. Porque, bem no fundo, o que atormenta estes vígarozitos estridentes e regurgitantos nem sequer é o fascismo, coisa que até ignoram o que seja e nunca viram mais gordo, mas apenas a fachada. A cosmética. A mascarilha com que hão-de besuntar a fronha. E a farpela com que farão (e falarão) de conta, na passerelle mundana do rapa-tacho.
Ou estes antifas da tanga não continuassem agarrados à saia duma autêntica Lili Caneças ideológica. Sim, catrafilados que nem lapas: à saia do estafermo ultra-recauchutado e à teta da situação. Parasitas dos vivos e bolores dos mortos.

segunda-feira, novembro 05, 2007

A Cama que nos andam a fazer



Antes de retomar as hostilidades, uma breve nota sobre a maratona de comentários.

A certa altura, num animado despique com Timshel, o glutão das hóstias, diz a Zazie, com imensa piada: "Toda a gente sabe que o Dragão é agnóstico."

Toda a gente, ó minha cara amiga, é capaz de ser um pouco exagerado. Há pelo menos uma pessoa que o desconhecia com todas as suas forças: eu.

Deus não é um objecto de conhecimento, donde não faz qualquer sentido alguém arengar que pretende conhecer ou desconhecer Deus. Ou, o mesmo é dizer-se, "gnóstico" ou "agnóstico". Porque, na verdade, um tipo munir-se do "conhecimento" para ir à procura de Deus é o equivalente a armar-se duma cana de pesca para ir à caça de elefantes. E quem diz Deus, diz um mero indivíduo - um Chico, Manel ou Francisco quaisquer. Ou seja, desde o "Indivíduo por Excelência" ao "indivíduo por existência". Já Aristóteles o explica detalhadamente - Livro Zeta, da Metafísica, para quem se quiser dar ao trabalho. Não obstante, o que mais por aí abunda é gente que afirma conhecer tudo e mais alguma coisa - desde o parto do Universo até às ínfimas privacidades galácticas - e nem a si próprio se conhece. Querem um exemplo flagrante: nós todos.

Todos os sistemas lógicos baseados estritamente no conhecimento -como, por exemplo, a Ciência Moderna -, apenas alcançam o nível das espécies: escapam-lhes os indivíduos. Precisamente, porque não têm como finalidade saber "o que as coisas são", mas apenas "aquilo para que as coisas servem". Não espanta pois que operem e porfiem pela uniformização, pela massificação, em suma: pela "standardização". Aquilo que não atingem, não compreendem e, por conseguinte, terraplenam. O que escapa à "média" - dada pela "estatística", pela "lei geral", pelo "mito autorizado", enfim, pela "moda gnoseológica" da berra - amputa-se ou tortura-se até não restar mais que um puré de factos e invólucros normalizados. Como numa perfeita Cama de Procusta.

domingo, novembro 04, 2007

De volta a Ítaca

Isto, já dizia o meu avô ferreiro, há que malhar enquanto está quente. Ora, tinha eu a coisa ao rubro e preparava-me para malhar como gente grande, quando os senhores filhos da puta da PT acharam por bem cortar-me, abruptamente, o acesso à Net. Apenas porque eu, vejam lá bem, farto da chulice cavalar e do sanguessuguismo militante daqueles cavalheiros, tinha decido, em abençoada hora, trocá-los por outra operadora de telecomunicações. Foi telefone, foi ADSL, foi tudo. Largaram a castigar-me pela infidelidade. O resultado foi o que se viu.
Entretanto, enquanto o pau esteve ausente, folgaram costas. Volto neste momento e dou com o estaminé convertido em comentódromo. Dragão fora, dia santo na loja. Agora, se calhar, vou ter que ficar calado mais quinze dias, que é o tempo necessário para ler os comentários todos. Porém, como quanto mais me calo, mais comentários, pelos vistos, suscito, corro o sério risco de cair num verdadeiro suplício de Sísifo: quando acabo de ler uma montanha deles, já outra montanha maior entretanto se gerou. Reparem no paradoxo: nunca nada do que aqui eu disse foi tão comentado quanto o meu silêncio. Ainda há quem diga que o silêncio não é de ouro. Desato a produzir postais silenciosos -ou melhor: ausências inopinadas - e ainda ultrapasso o "Abrupto".
Bem, vou só actualizar-me e volto já. Imagino o que para lá vai...
Enquanto isso, nada de dramas nem tragédias: este blogue, como tudo nesta vida, vai acabar um dia destes, não duvidem. Só que, por minha vontade, amanhã não será ainda a véspera desse dia. Até porque dois preceitos máximos me mantêm preso aqui ao leme: o dever para com esse escol da humanidade que são os leitores desta casa; e o prazer que me dá ver guinchar a rataria acesa.


PS: Aproveitei para dar um saltinho à Califórnia. Diverti-me a valer. Ao ditado do meu avô, aproveito até para juntar o meu: "quando não está quente, aquece-se."

sábado, novembro 03, 2007

Recado

O Dragão manda dizer que já vem. Digam à Fernanda Câncio que não chore mais.