quinta-feira, julho 30, 2009

A Tirania do Cuspo




Antes de me debruçar -devidamente munido de luva, máscara e pinças - sobre as últimas herpebacias do Pinóquio e da Bruxa, mai-los respectivos apaniguados, papagaios, adesivos e demais coalescências moles, convém que recapitule quanto à situação geográfica de todo este amalgamório populacional:

O problema de Portugal já é mais grave, mais perigoso e mais profundo que a simples epiderme política e respectivas maquilhagens. A questão já ultrapassa a política: é ontológica. É o próprio ser ou não-ser de Portugal que está em causa. Agravado dum fenómeno sobretodos inquietante: abundam os que se prontificam a dar litros de saliva pela pátria, mas não se vislumbra vivalma disposta a dar uma gota de sangue que seja.
E é nisso que se resume o panorama circundante e o programa geral estabelecido: cuspo. Para onde quer que olhe, pequenas máquinas palradoras emitem as suas onfalorreias irrisórias: monarquias de cuspo, nacinhalismos de cuspo, liberalismos de cuspo, socialismos de cuspo, repúblicas de cuspo, e mil e uma outras gafanhotices de estalo.
Dir-se-ia toda uma gente que nem duma ejaculação germinou, mas dum escarro. Se bem que igualmente precoce.
Naufragou o último dos impérios europeus... num mar de cuspo.

E fui benevolente, em primeira instância, quando escrevi império: na verdade, é uma tirania. Da taramela e do bandulho.

quarta-feira, julho 29, 2009

Desenlace fatal

O epílogo de toda esta história era mais que previsível: o FBI é a nova Gestapo e tudo não passa de mais um episódio - logo a seguir ao caso Madoff-, da conspiração anti-semita mundial.

E nem era preciso Yitzhak Kakun, editor-chefe do Shas weekly Yom Le'Yom, vir proclamá-lo solenemente: Já todos nós o sabíamos e adivinhávamos desde o princípio.

Mas nada como transcrevê-lo nas suas próprias palavras:

terça-feira, julho 28, 2009

Inside Job

«The great Bank'n'roll swindle»


O Bank of America era o maior banco fora de Wall Street...

00666 License to steal

A ignóbil saga continua.

Uma súmula bastante exaustiva pode ser lida aqui:
«Butchers: The hidden truth about Israel's kidney theft ring»

Num artigo relacionado - sobre a antropologista Scheper-Hughes, que já havia denunciado a rede de Rosenbaum ao FBI (há sete anos atrás!)-, pode ler-se:
Scheper-Hughes felt she had to stop Rosenbaum. She met with the FBI. "I always thought of it as my Dick Tracy moment," she said Thursday.

Já agora, acerca da rede desmantelada no Brasil, em 2004, é sempre útil recordar:


Kosha Nostra

«As explained to PolitickerNJ.com, Rabbi Dwek will sit Shiva for Solomon Dwek, observing the Jewish custom of mourning for an immediate family member who has died.»

Portanto, segundo o Talmud, delatar é pior que lavagem de dinheiro ou tráfico de órgãos. Se o filho se tivesse dedicado a qualquer um de ambos, com imenso sucesso, o pai teria por ele o maior dos amores e considerações. Porém, e pelos vistos, mal sucedido na vida do crime, da especulação imobiliária e sabe-se lá mais quê, tornou-se cooperante com a polícia goyim. Isso, o pai nunca lhe há-de perdoar.

domingo, julho 26, 2009

Transplant tourism

Directamente do boletim da UNESCO:

(...)
«The sale of human organs and tissues requires that certain disadvantaged individuals and populations have been reduced to the role of “suppliers.” It is a scenario in which bodies are dismembered, transported, processed and sold in the interests of a more socially advantaged population of organ and tissue receivers. I use the word “fetish” advisedly to conjure up the displaced magical energy that is invested in the strangely animate kidney. Avirham, who flew from Jerusalem to Georgia for his kidney, explained why he would never tolerate a donation from a corpse: “That kidney is practically dead. It was probably pinned down under the wheels of a car for several hours. . . I was able to see my donor. He was young, healthy, strong. Just what I was hoping for.»

E agora passemos ao segundo capítulo do emético, que serve também de esclarecimento às angústias kosher expostas num pretérito postal. Uma pausa apenas para acabarem essa primeira descarga... isso, terminem lá os arranques, peguem em nova remessa de saquetas... e vamos a isto:

«Many non-Haredi rabbis allow an organ of a non-Jew to be transplanted into a body of a Jew in order to save the life of the Jew. They, however, oppose the transplant of an organ from a Jew into the body of a non-Jew. Some important rabbis go much further in discussing and ruling about differences between Jews and non-Jews on medical matters. Rabbi Yitzhak Ginsburgh, an influential member of the Habad movement and the head of a yeshiva near Nablus [...] opined in an April 26, 1996 Jewish Week article, reproduced in Haaretz that same day: "If every single cell in a Jewish body entails divinity, and is thus part of God, then every strand of DNA is a part of God. Therefore, something is special about Jewish DNA." Rabbi Ginsburgh drew two conclusions from this statement: "If a Jew needs a liver, can he take the liver of an innocent non-Jew to save him? The Torah would probably permit that. Jewish life has an infinite value. There is something more holy and unique about Jewish life than about non-Jewish life." It is noteworthy that Rabbi Ginsburgh is one of the authors of a book lauding Baruch Goldstein, the Patriarch's Cave murderer. In that book Ginsburgh contributed a chapter in which he wrote that a Jew's killing non-Jews does not constitute murder according to the Jewish religion and that killing of innocent Arabs for reasons of revenge is a Jewish virtue. No influential Israeli rabbi has publicly opposed Ginsburgh's statements; most Israeli politicians have remained silent; some Israeli politicians have openly supported him.»

- Israel Shahak and Norton Mezvinsky, Jewish Fundamentalism in Israel, Pluto Press, London and Sterling Virginia, 1999, pp. 42-43.

E tentem não vomitar as tripas. Não consta que sejam transplantáveis. Pelo menos, por enquanto.

Kosher gangs

(...)

«Training this year will begin on July 31 and conclude on August 9.»


Querer ensinar aquilo tudo - toda aquela panóplia rambofónica - em 9 dias, valia mais que vendessem a coisa em pílulas.

sábado, julho 25, 2009

Eles Vivem




O Jogo da Ganância.
(86 minutos -da BBC, julgo - imperdíveis.)

E acreditem: eles realmente vivem. À grande.

E estes, sim, são os Cristianos Ronaldos dos nossos liberais de babar por causa.

Moral da história: Se isto é a civilização, então venham os bárbaros!

sexta-feira, julho 24, 2009

Angústias kosher


Pois a mim só uma coisa me intriga: os rins são ou não são acompanhados de certificados kosher? Bem, na medida em que a transcção seja supervisionada por um rabi, inclino-me pela afirmativa.

Mas, entretanto, aqui, surge uma complicação adicional. Transcrevo:
"Kidneys are generally considered non-kosher, as there is no way to get all the non-kosher blood out of them".
Ou seja, os rins do animal não podem ser comidos porque não é possível extrair deles todo o sangue impuro (não-kosher). Bem, não podem ser comidos, mas podem ser incorporados? Não irão, então, os resíduos de sangue do animal (ou goym, seu sinónimo) contaminar, conspurcar, ou de alguma forma poluir o ser eleito da raça superior?
Parece-me a mim, esta, uma questão terrível e, decerto, uma não menos lancinante angústia. O Talmud, depressa!...

Banco de órgãos

Entretanto, e em tandem íntimo com a Proth way, a Jew way:

(...)

Aturdir para reinar

The Prot way (up), ou da conversão do lobo em pastor (e não é certamente por acaso que os protestantalos se babam tanto com S.Paulo):

This month Michael Taylor became the senior advisor to the commissioner of the FDA. He is now America's food safety czar

Há um conceito baluarte e pantamotriz na cultura americana, naturalmente de ordem económica (a única que, de resto, eles reconhecem e praticam): intoxicar as pessoas é imensamente lucrativo. Seja através de notícias, filmes, livros, teorias, musiquetas, seja através de medicamentos, alimentos, bebidas, aditivos, vacinas, etc, etc. É o que se chama aturdir para reinar.

quinta-feira, julho 23, 2009

Psico-Mengele

Olha a novidade!...
«Big Pharma Bribes Doctors to Hook Your Kids on Drugs».

«The pharmaceutical-industrial complex has virtually annexed the mental health profession, whose all-star opportunist team is captained by Harvard psychiatrist Joseph Biederman, the high-profile doctor most responsible for the explosion of kids on psychiatric drugs, first for attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) and then for bipolar disorder.»

Adivinhem lá qual o pedigree deste mega-dealer Biederman... Isto de subministrar neurolépticos a miúdos de quatro anos tem o seu quê de supimpa.
Ao contrário dos Mengeles do passado, estes magarefes do presente não perdem tempo com o corpo: vão direitos à alminha. Ou, no conceito deles, à víscera superior. E quanto mais tenra, melhor.

Entre o Pinóquio e a Bruxa

Os nomes, de dois perigos medonhos e monstruosos, remontam à Odisseia. A expressão idiomática, essa, já era usada na Grécia Antiga, donde emigrou para a nossa língua, e diz-se ou escreve-se “estar entre Cila e Caríbdis”. Tenho-lhe uma afeição especial, como já devem ter reparado. Estar entre Cila e Caríbdis é estar entre dois perigos a meio da viagem; é estar num dilema – daquele lado tragam-me, deste devoram-me; à direita, estripam-me; à esquerda, esfolam-me.
Como Ulisses, outrora, Portugal está hoje entre Cila e Caríbdis. A diferença –descomunal, assinale-se – é que enquanto o herói homérico se propunha seguir adiante, passando o mais incólume possível entre os dois perigos, Portugal, pelo contrário, como que seduzido pela vertigem do abismo, acomoda-se e abandona-se aos fluxos e refluxos do vórtice, num regime que tem tanto de estúpido quanto de suicida. Assim, onde o grego via uma passagem, o português descobre uma moradia. O resultado está à vista e é fatal, tanto na mitologia quanto na história: Ulisses ultrapassou Cila e Caríbdis e lá foi à vida dele; Portugal anda de Cila para Caríbdis e de Caríbdis para Cila, e não vai a lado nenhum, fora a morte certa e lenta. Para fugir das mandíbulas escancaradas de Cila, corre para Caríbdis; experimentando os horrores voraginosos de Caríbdis, retorna a Cila; e assim sucessivamente, numa espécie de suplício absurdo e colectivo, digno de causar inveja aos Sísifos e Tântalos do antigamente. Ou seja, onde a lucidez e a prudência de Odisseu urdiam escapar, a parvoíce e a toleima portuguesas mandam escolher. Diante de Cila e Caríbdis, a tripulação helénica sabe que tem que evitar ambos e passar adiante; a tripulação lusa o mais que consegue é embasbacar e ir a votos para eleger qual o perigo menor onde se entregar em naufrágio. De tal modo que onde a Odisseia relatava uma viagem, a de Odisseu, a Lusisseia (chamemos-lhe assim, ao naufrágio dos Lusos) transcreve, substancialmente, um regime: o regime alimentar de Cila e Caríbdis. À custa, como é evidente, da tansice, da cegueira e da pusilanimidade dos tais Lusos. Pois, com a regularidade típica das marés, e o intervalo cíclico de quatro anos, os náufragos tontos ora fornecem pasto a Cila, ora propiciam forragem a Caríbdis.

Ao contrário dos portugueses, o idioma, porém, não estagna. Pelo contrário, evolui. Ri-se até deles e da sua prostração demolhada. Daí que “entre Cila e Caríbdis”, um pouco à moda dos sismos, suscite réplicas. Se pensarmos, por exemplo, no sufrágio próximo a decorrer, salvo erro, no mês de Outubro, poderemos dizer, em alternativa ao “estar entre Cila e Caríbdis”, que estamos “entre o Pinóquio e a Bruxa”.

É claro que o que não falta por aí é os que detestam o Pinóquio por amor à Bruxa, e os que execram a Bruxa por amor ao Pinóquio. Mas também, serei eu o último a alvitrar que a estupidez, tanto quanto as corridas de parasitódromo, não constituem, hoje ainda mais que ontem, a mais renhida das competições. Ou o mais frenético dos campeonatos.

segunda-feira, julho 20, 2009

Old hates die hard

Um panfleto distribuído internamente pelas IDF (Israel Defense Forces) proclama que, afinal, é o Vaticano que anda a ensinar o Hezbollah a matar judeus. Excelente notícia! Assim, ao menos, ficamos todos mais descansados. Ainda bem que não é o Irão. O Vaticano, se exceptuarmos as epístolas papais, é um estado praticamente desarmado e inofensivo. Não consta que teime em programas atómicos ou varredelas cartográficas.

domingo, julho 19, 2009

A Pedra e o pão

«O tentador aproximou-se e disse-lhe: "Se tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães". Respondeu-lhe Jesus: "Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.»
- Mateus, 4, 3-4





«Mas tu não quiseste privar o homem da liberdade, e recusaste, calculando que ela era incompatível com a obediência comprada pelos pães. Replicaste que o homem não vive só de pão, mas não sabes que, em nome desse pão terrestre, o Espírito da Terra se insurgirá contra ti, e lutará, e te vencerá? Que todos o seguirão exclamando: "Quem é semelhante a este, que nos deu o fogo do céu?" Hão-de passar séculos e a humanidade proclamará pela boca dos seus sábios que não há crimes e, por consequência, não há pecado; que só existem esfaimados. "Alimenta-os e exige que sejam virtuosos!" Eis o que escreverão no estandarte da revolta que abaterá o teu templo. Em seu lugar elevar-se-á novo edifício, uma segunda torre de Babel, que ficará, sem dúvida, imperfeita, como a primeira. Mas terias podido poupar aos homens esta nova tentativa e mil anos de sofrimento. Porque eles virão encontrar-nos, depois de haverem sofrido mil anos a construir a sua torre! Procurar-nos-ão sob a terra, como outrora, nas catacumbas onde estaremos escondidos (perseguir-nos-ão outra vez) e bradarão: "Dai-nos de comer, pois os que nos prometeram o fogo do céu não no-lo deram". Então concluiremos a sua torre, porque para isso só nos falta o alimento, e nós os alimentaremos, invocando o teu nome. Sem nós, estarão sempre esfomeados. Nenhuma ciência lhes dará pão enquanto forem livres, mas acabarão por depor a nossos pés essa liberdade, dizendo: "Reduzi-nos antes à servidão, mas alimentai-nos!" Compreenderão então que a liberdade é inconciliável com o pão da terra em abundância, pois nunca saberão reparti-lo entre si!
(...)
Porque não há para o homem, tornado livre, cuidado mais constante, mais ardente que procurar um ser perante quem se inclinar. Ora ele não deseja inclinar-se senão defronte duma força incontestada, que todos respeitem por consenso universal. Essas pobres criaturas atormentam-se a buscar um culto que reúna não só alguns fiéis, mas no qual todos comunguem, unidos pela mesma fé. Essa necessidade de comunhão na adoração é o principal tormento de cada indivíduo e da humanidade inteira, desde o princípio dos séculos. Para realizar este sonho é que nos temos exterminado pelo ferro. Os povos forjaram deuses e desafiaram-se uns aos outros: "Deixai os vossos deuses, adorai os nossos; senão, ai de vós e dos vossos deuses!" E assim será sempre até ao fim do mundo, mesmo quando os deuses tenham desaparecido; prostar-nos-emos diante de ídolos. Não ignoravas, não podias ignorar este segredo fundamental da natureza humana, e, contudo, repeliste a única bandeira infalível que te ofereciam e que faria curvar sem contestação todos os homens diante de ti, a bandeira do pão terrestre; repeliste-a em nome do pão celeste e da liberdade! Vê o que fizeste em seguida, sempre em nome da liberdade! Não há, repito, cuidado mais ardente para o homem do que encontrar depressa um ser em quem delegue este dom da liberdade que o infeliz traz consigo ao nascer. Mas, para dispor da liberdade dos homens, é mister dar-se-lhes paz de espírito. O pão garantia-te o êxito; o homem curva-se perante quem lho dá, pois é coisa incontestada; que outro, porém, se torne senhor da consciência humana, o mesmo homem o seguirá, deixando o dador de pão por aquele que lhe cativa o espírito. Nisto tinhas razão, viste o segredo da natureza humana consistir não só em viver, mas também em achar motivo para viver. Sem uma ideia nítida da finalidade da existência, o homem prefere renunciar a ela; ainda que rodeado de bens materiais, preferirá destruir-se a permanecer na Terra. Mas que sucedeu? Em vez de te apoderares da liberdade humana, tu ainda a dilataste.
(...)
Preparaste assim a ruína do teu reino; não acuses ninguém dessa ruína. Todavia, era isso que te propunham? Há três forças, as únicas que podem subjugar para sempre a consciência desses fracos revoltados. São elas: o milagre, o mistério, a autoridade.
(...)
Ignoravas, contudo, que o homem recusa Deus ao mesmo tempo que o milagre, quando é sobretudo este último que ele procura. E como não pode passar sem ele, engendra novos, os seus próprios; inclinar-se-á diante dos prodígios de um feiticeiro, ainda que se trate de um rebelde, de um ímpio, de um herético. Não desceste da cruz quando troçavam de ti e te gritavam, por escárnio: "Desce da cruz e acreditaremos em ti." Não o fizeste, por não quereres sujeitar de novo o homem ao milagre: desejavas uma fé livre, não inspirada pelo maravilhoso. Precisavas de um livre amor, e não dos transportes servis de um escravo aterrado.»

- Dostoievski, "Os Irmãos Karamazov" (episódio do Discurso do Inquisidor-Mor)

Porque a literatura também tem as suas catedrais.

segunda-feira, julho 13, 2009

Da Lacoste ao Low-cost

«Paulo Portas promete campanha eleitoral "low-cost"». Nada de Lacostes, portanto.

Mas notem bem a nítida fobia à palavra "barato". O tipo nem a consegue pronunciar. Uma campanha barata era pindérica, pelintra -horror dos horrores! - pobretanas. Assim, "low-cost" até é chique. Montes de chique. Lots of it!

quinta-feira, julho 09, 2009

Mecânicos genolálicos

«Falas de civilização, e de não dever ser.
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos os que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!»

- Fernando Pessoa (disfarçado de Alberto Caeiro)


PS: Ando com severos e bizarros problemas no acesso à internet. Pelo que não consigo sequer responder nas caixas de comentários como gostaria e alguns apontamentos merecem. A todos peço desculpa.

quarta-feira, julho 08, 2009

Venha a nós


Reparem bem, na foto acima, do interior da Catedral de Chartres, no tamanho das bancadas dos fiéis. Reparem, sobretudo, na proporção em relação ao Todo. Agora, na foto que se segue, referente a uma catedral actual (a de Fátima), confiram essa mesma proporção.


Sem tempo para me alongar muito - por ora - em considerações simbólicas, deixem que refira apenas este crudelíssimo detalhe:
O espaço reservado ao homem, em Chartres, é mínimo; ao Divino, máximo. Em Fátima, na nova catedral da Santíssima Trindade passa-se exactamente o contrário: é o espaço de Deus que é minimalista. Direi mesmo que, Deus, para lá entrar, passe a alegoria, no mínimo, tem que se pôr de cócoras, de gatas, ou de joelhos.
O que eu mais aprecio numa igreja é exactamente aquilo que mais admiro, com terror e piedade, em Jesus Cristo: o Silêncio. De todas as parábolas, quanto a mim, foi a suprema. Ora, nem queiram comparar a qualidade do silêncio numa catedral medieval com a destes salões de congressos de agora!
E notem só mais esta minudência pela qual peço já perdão a todos os profissionais da fé e da salvação: os medievais, que tinham muito menos coisas, meios, posses e possibilidades que nós (já não falando que eram imensamente menos evoluídos e progredidos), eram capazes -uma cidade inteira, num esforço colossal e anónimo - de oferecer uma catedral a Deus. Porque é isso que um templo sagrado significa: uma oferta nossa ao Altíssimo. Nós, estes portentos actuais, em contrapartida, arrotadores de postas ao desbarato, fanfarrões das dúzias, nós que já temos tudo e mais alguma coisa e se nos falta o gadget mais recente para o último modelo de coisa nenhuma aqui d'el rei que não se admite, não se suporta e é crime de lesa-conforto, nós, em suma, já não damos nada que se veja (quanto mais digno de Deus ver). Damos - melhor: os padres que dêem, eles é que lá moram! - salões de congressos ou pavilhões gimno-desfrutáveis e é um pau, e já ficamos a chorar o balúrdio esbugalhado. E, todavia, nada de tibiezas: pedimos tudo. A Deus, ao diabo, ao banco, à lotaria, à ciência, à bruxa, ao Cunha e até ao porteiro do ministério. Pedimos tudo e nada nos contenta. Nada nos enche nem preenche ou parece bastante. Merecemos o quê?
Quanto ao peditório peregrino do senhor Papa, cumpre-me dizer o seguinte: para esse, já dei. E, quanto a Deus, nem uma cadeira digna para Ele se sentar Sua Santidade lhe oferece e, em troca, já reclama e urde por todo um paraíso Terreal...?! É obra.

domingo, julho 05, 2009

O Homem desatado




«Maldito seja o que me desatou os pés cruelmente amarrados e me salvou da morte! Em nada te estou grato; se tivesse morrido nessa altura, não teria provocado tais dores, aos meus amigos e a mim!»

- Sófocles, "Édipo Rei"

Édipo significa qualquer coisa como "pés atados" e, com isso, significa-nos também a todos nós, humanos. De facto, nascemos todos de pés atados. Não escolhemos a hora, não escolhemos a família, não escolhemos a época, não escolhemos o país, não escolhemos, em suma, nada daquilo que principiamos por ser. Deve ser por isso que o acto com que inauguramos a existência é chorar. Num ritual que, bem medidas as coisas, constitui o nosso primeiro acto de lucidez e, na generalidade dos casos, o último. Porque depois entramos no reino da fantasia - na fantasia de que, graças ao nosso desembaraço de mãos, vamos conseguir desatar os pés. Ora, é nessa fantasia, nessa prestidigitação presuntiva, promovida nos últimos séculos a delírio galopante, que reside o cerne da tragédia. E não apenas a tragédia enquanto arte teatral, mas sobretudo a tragédia enquanto vida.
O homem moderno é, essencialmente, um homem desatado. Inflou-se na fantasia que a medievalidade o atava de pés e mãos e tratou de desatar-se. Desatou, pois, em seu alucinado entender, a ser homem. A ser absolutamente homem. Homem absoluto e resoluto.
As palavras há que degustá-las e "absoluto" - do latim "ab-solvo" (separar, desligar, desembaraçar, absolver, perdoar, libertar, etc) significa precisamente esse estado de desatamento, de absolvição e desembaraço. Como "resoluto" - do latim "re-solvo" (desatar, desamarrar, dissolver, soltar, amolecer, distrair, divertir, romper, compensar), não apenas vai no mesmo sentido, como reforça e enriquece. O homem absoluto não deve nada a ninguém e o universo tudo lhe deve. Donde resulta o individuozinho egofórico do nosso tempo, simultaneamente cheio de nada porque a transbordar de si, a quem todos devem e ninguém paga, pelo menos e pelos vistos, o suficiente. Não espanta, assim, que este homem desembaraçado daquilo que lhe atava os pés - ou seja, princípios e fins seus anteriores e superiores -, se arvorasse e devotasse, por sua exclusiva e alta recreação, à principalidade e à finança, que é como quem diz, à promoção dele próprio a princípio e fonte de todos os princípios (na forma de lei); e à redução de todos os fins a uma fórmula meramente material, manipulável, açambarcável e intimamente conveniente ou tributável à precedente. E admira ainda menos que o corolário lógico duma tal besta desenfreada culmine naquele que congrega e acumula em si, à maneira de nova deidade mundana e mecânica, o princípio e o fim: o príncipe financeiro. Daí que, com inegável mérito, o expoente máximo da idade Moderna, bem acima de Descartes, Voltaires, Goethes, Beethovens, Richelieus, Fredericos ou Napoleões congéneres, pertença aos Rothschilds. Na exacta medida em que protagonizam essa amálgama triunfante de Maquiavel e plutofrenia; na esplêndida dimensão em que decantam essa nova aristocracia não já baseada no sangue mas no dinheiro, isto é, não já fundada e símbolo orgânico da reprodução natural, mas montada, esquemática e matematicamente, na desenfreada reprodução e proliferação artificiais - com a inerente usurpação do núcleo social família pelo nódulo empresa. Nem, tão pouco, já atada ao que quer que seja, passado ou futuro, mas desembaraçada de todos e quaisquer escrúpulos, deveres, responsabilidades, encargos ou cargas simbólicas.
Aristóteles, na idade clássica, e - às cavalitas dele - Tomás de Aquino, na medieval, haviam zurzido severamente a usura. "O dinheiro não faz filhos", servira de ilustração para o atestado de "desnaturação" e consequente anátema à actividade usurária. O que a idade Moderna veio demonstrar foi algo substancialmente diverso: talvez o dinheiro não fizesse filhos, mas, doravante, passava seguramente a fabricar, da noite para o dia, barões, grão-duques, príncipes, reis, imperadores e até ministros e presidentes. Ah, e claro está, semideuses acima de toda essa escumalha avulsa, súbita e alquimicamente, transmutada em novaristocracia, porque, decerto por magia, oriundos duma alfurja ainda mais abaixo: os Rothschilds.

Desengane-se, todavia, quem pensa que este é um problema e uma patologia exclusivamente modernos. Melhor dizendo: desiluda-se quem se dá à conveniência deveras repousante para a inteligência de julgar que a Idade Moderna irrompeu por geração espontânea. O protagonismo do antropóide auto-proclamado racional já vinha dos sofistas, tanto quanto o maquiavelismo avant la lettre já inquietava os trágicos. Protágoras com o seu "homem medida de todas as coisas" exemplifica o primeiro caso; Sófocles, no Filoctetes inteiro e, em boa parte, na Antígona, ilustra o segundo. E quanto à medievalidade cristã o contributo, então, foi de peso a raiar o esmagador: podemos mesmo dizer que a Idade Média se divide não em dois (Alta e Baixa) mas em três períodos: Alta, Baixa e Baixíssima (ou Abaixo de Cão). E durou não mil, mas mil e trezentos anos (mais coisa menos coisa), já que começou com a Queda do Império Romano e terminou com a Queda da Monarquia Francesa, vulgo Ancient Régime.
Cito apenas dois episódios que me parecem especialmente desedificantes.
1. Quando, no século XI, a pedido duns quaisquer monges de Bec, Anselmo de Cantuária (Santo Anselmo, para os católicos), tratou de elaborar "um modelo de meditação sobre a existência e a essência de Deus, em que tudo fosse provado pela razão", pressupunha uma espécie de "razão explicativa e fortificadora da fé", servindo esta de fundamento àquela. Mas, na verdade, estava a abrir a tampa duma certa caixa pouco recomendável. Anselmo, de facto, manifestava uma fé quase ilimitada na razão, na medida em que a razão conseguia pensar o ilimitado (e, em certo sentido, o impensável), tanto quanto definir o insondável, isto é, Deus. Daí à razão com uma fé ilimitada nela própria (pois já que conseguia pensar o infinito, a divindade, o que é que a impedia de pensar-se, ela própria, uma divindade?), foi um quase instante. Pelo que, de certa forma e ainda que involuntariamente, Anselmo de Cantuária acabou por se prefigurar como um proto-Iluminista.
2. Quando, na senda do mesmo Anselmo, e contra a tese tradicional, o Proto-Renascimento de Chartres concebeu o "Humanismo", ou seja, a crença no homem como objecto e centro da criação - aquele para quem o mundo fora realizado e estava, por assim dizer, ab ovo, prometido. Dispenso-me de esmiuçar onde este tipo de fantasia conduziu, bem como as diversas peregrinações atrozes, auto-promoções obscenas e desumanizações em side-car. O certo é que o seu contributo para aquele húmus mental que alcança um dos zénites mais fulgurantes naquela célebre frase "todos os animais são iguais, mas há uns mais iguais que outros" nunca será de menosprezar.

Resumindo, a Idade Moderna (ou Baixíssima Idade Média, como considero mais justo chamar-se-lhe), nos seus inúmeros e frenéticos teorizadores, magarefes e videntes, conseguiu desenvolver a ideia e, nela, o projecto do perfeito e acabado filho-da-puta. Mas, honra lhes seja tributada e justiça lhes seja feita, só mesmo os Rothschild tiveram a capacidade financeira para o levarem a cabo. Finança, de resto, significa isso mesmo: levar a um fim. A um fim que, ninguém duvide, um dia será o nosso. Talvez então, por um abissal e terminal rasgo de lucidez, se nos revele o horror em que vagámos desatados e, como Édipo, nosso arquétipo ancestral, gastas as lágrimas genuínas por alturas do nascimento, usemos as mãos -essas mãos malditas com que nos desatámos! - para arrancar os olhos com que, toda a vida, nos cegaram. E também por nojo imenso, certamente. De nós proprios.
O homem absoluto e resoluto é também, tudo bem somado, o homem dissoluto. Começou por acreditar que o mundo lhe pertencia, lhe era devido e destinado e acaba dissolvido nele. Desfeito do corpo e liquefeito da mente, feito narciso a diluir-se num charco. O charco da sua própria, atávica, crónica e incurável estupidez.


PS: Uma ironia final. Como se diz desatamento em grego? - Analysis. Donde provém a nossa, em português, "análise". Na língua de Homero, o verbo ana-lyw significa desligar, dissolver, separar, libertar, analisar, abolir, etc. O que, curiosamente, não deixa de vir ao encontro da nossa investigação anterior: o homem desatado é igualmente o homem em perpétua análise. Uma análise que se processa, em larga medida, pela dissecação. Um homem que se dissolve auto-dissecando-se. Ou melhor: que se auto-analisa por vivissecção.




sexta-feira, julho 03, 2009

Menos um português de conveniência

«Maria João Pires renuncia à nacionalidade portuguesa» - Para se dedicar à hotelaria no Brasil, acrescenta a notícia.

Por mim, pode renunciar à nacionalidade, pode dedicar-se à hotelaria, pode até votar-se à prostituição, à ginástica rítima ou à cabala de corridas, é-me rigorosamente indiferente. Direi mais, se isso significar que vai deixar de molestar o pobre do Mozart, tal até se me torna deveras simpático, senão mesmo galvanizante.

Caso contrário, que o Gould e o Rubinstein nos acudam.

Quem?...

Tive hoje o privilégio de ler no Destak uma notícia que respondia pelo seguinte título:
«Pais não alertam filhos para os perigos da Internet».

De imediato ocorreu-me a seguinte diálogo, repetido vezes sem conta, por alma e graça dum daqueles inquéritos de rua :

Repórter - Alerta os seus filhos para os perigos da Internet?
Entrevistado - Quem?...

quinta-feira, julho 02, 2009

Caos-surfers


«Goldman Sachs behind every market crash since 1920s»


E depois deste aperitivo, passem à entrada:

«How Goldman Sachs took over the world»


Quanto ao prato principal, podem escolher entre o Goldman Sachs e o JP Morgan. Duas formas particularmente picantes de confeccionar caos, dizem.