sábado, setembro 26, 2009

Os Costas em castelo

«Apontou Vª Excª à execração pública o autor de semelhante trecho, desapiedado e mau. Peço encarecidamente a Vª Excª que me deixe vincar bem o quanto eu, longe de retirar essas frases, mais convictamente e mais ardentemente as apoio e as vinco. O chefe do partido democrático não merece a consideração devida a qualquer vulgar membro da humanidade. Ele colocou-se fora das condições em que se pode ter piedade ou compaixão pelos homens. A sua acção através da sociedade portuguesa tem sido a dum ciclone, devastando, estragando, perturbando tudo, com a diferença, a favor do ciclone, que o ciclone, ao contrário do Costa, não emporcalha e enlameia. Para o responsável máximo do estado de anarquia, de desolação, e de tristeza em que jazem as almas portuguesas, para o sinistro chefe de regimentos de assassinos e de ladrões, não pode haver a compaixão que os combatentes leais merecem, que aos homens vulgares é devida. Costa nem sequer tem o relevo intelectual que doure a sua torpeza. A sua figura é a dum sapo que misteriosamente se tornasse fera. Pode ter-se compaixão por aqueles por quem se tem ódio. É impossível a compaixão por aqueles por que se tem ódio e nojo, conjuntamente. Por isso eu quero frisar - e sei que ao frisá-lo estão comigo os votos de grande número dos portugueses, dos católicos oprimidos, das classes médias atacadas, dos cidadãos pacíficos assaltados nas ruas, de todos aqueles que o general Pimenta de Castro representava - que só não se regozija, no desastre acontecido a Costa, a circunstância, que infelizmente se parece confirmar, do seu restabelecimento.»

- Fernando Pessoa (in A Oligarquia das Bestas)

O que Pessoa, com toda a propriedade, justeza e razão, diz de Afonso Costa pode - e deve - ser dito, redito e proclamado acerca dos sucedâneos hodiernos deste. Eu, pelo menos, não encontraria palavras mais justas para embrulhar e condecorar, sem excepção, todos os primeiros-ministros deste regime pós-revolucinha dos Cravões. E estou seguro que amanhã, ganhe quem ganhar, será mais uma coisíssima destas a ver-se entronizada.

Aproveito para informar que, com a generosidade fogosa que me caracteriza, inauguro neste feliz postal as comemorações do centenário que se avizinha (e traz tanta besta ocupada).

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