domingo, fevereiro 14, 2010

Para que conste

Quero informar os estimados leitores e os outros também que nada tenho que ver com as caixas de comentários deste blogue. Durante o período de silêncio em que comemorei os seis anos desta nave absoluta e convictamente pirata, aconteceu desaparecerem as caixas da Haloscan. Comecei por imaginar uma teoria da conspiração, mas, às tantas, apercebi-me que a haloscan estava a proceder a não sei que upgrades e passava a cobrar não sei que maquias. Considerei de pronto enviá-los ao grandessíssimo caralho que os fecundasse e tratei de agir em conformidade. Como devem ter reparado, as caixas desapareceram durante um período considerável de dias. Depois, misteriosamente, apareceram estas. Nada fiz, nem nada tenciono fazer acerca das mesmas. Mesmo lê-las, não garanto. Até aos 10 exemplares, ainda vá, mas acima disso já não me parece coisa natural. Sinceramente, isto não é nem pretende ser "um blogue de referência". Neste país, e no mundo em geral, é bem sabido o que mais fulgurantemente atrai chusma: o desastre, o escândalo, a feira, em suma, o ajuntamento mirone. O basbaque soberano funciona por simpatia e atracção universal. Nada sendo, nunca está. Apenas coalesce instintivamente. Apenas adere à molhada, com volúpia pegajosa. Nada aqui habita que possa interessar tão homegéneo tipo de fauna. E tudo farei para que essa regra de ouro se mantenha. Nem que para isso tenha que recorrer a silêncios cada vez mais retumbantes. Há uma filosofia antiga que eu jamais deveria ter abandonado: distância é bonita e eu gosto. Por conseguinte, e que fique bem claro, nos postais escrevo eu e assumo o que escrevo, sendo notório que continuo onde sempre estive e estarei; no espaço dos comentários, escreve quem quiser e o que lhe der na real telha. Lisonja ou vitupério, para mim, é igual: já percebi que isto da blogosfera pouco mais ultrapassa que o egódromo turba-gaseificado. Os papagaios de hoje serão sempre os cágados raivosos de amanhã. E Macacus mutantis.
Entretanto, para os indefectíveis da ordem, aqui fica a minha garantia: um dia calar-me-ei para sempre, nada de mais certo e seguro. Mas amanhã, se Deus quiser, ainda não será a véspera desse dia.

Aproveito ainda, já que estamos em maré dialogante, para abordar um assunto recorrente das caixas de comentários. Perguntam-me muitas vezes, com lógica e propriedade, "mas então, que fazer?"
Viciadas na incivilização do espectáculo, do barulho e do espavento histriónico, cinematográfico, as pessoas tendem a imaginar milagres, revoluções, filmes e movimentações tumultuosas, ou quaisquer outras receitas ou panaceias urgentes. Do pensamento-rápido germina a solução fácil. Mas, no fundo, a verdadeira acção não decorre no mundo, com os seus chiqueiros e folclores contínuos, mas dentro de nós próprios. A vossa alma é o vosso real campo de batalha, ou ainda não percebestes, ó gente de fraca fé, que é por ela que estais e vale a pena lutar?
Que fazer, então, meus amigos? Diz-se numa única palavra: resistir. Não deixar que o que é mais baixo e rasteiro nos confisque aquilo que O mais elevado nos deu. A melhor forma de ajudar os outros é não nos perdermos a nós próprios. A verdadeira acção não é doutrina: é exemplo.



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