sábado, março 06, 2010

Liberdade de Expressão -VI.

Medina Carreira, há dias, em entrevista na RTP1:

«É por ser um homem livre que posso dizer o que digo. Por isso mesmo, não sou solucionável.»

Ora, solução, termo bem a propósito, tem muito que ver com dissolvência. O homem, em sendo livre (não em absoluto, porque tal não está ao seu alcance, mas em relação ao seu semelhante), não se dissolve. Não aceita diluir-se num qualquer caldo knorr da situação ou sopa de hortaliças em febres delirantes de tacho.
Outra coisa importante, talvez mesmo a mais essencial de todas, é que o homem livre (ou seja, o homem que não aceita ser degradado a mero utensílio ou ferramenta) não tolera, de ânimo leve ou sequer pacífico, ver-se dissolvido por um qualquer Palramento, Desgoverno, Estado, Empório, Mercado, Decreto, ou o que quer que qualquer multidão de bandoleiros mascarados entenda sofisticar-se.
Não misturar-se, não fundir-se nem confundir-se com tais soluções consiste, aliás, no mundo actual, numa das principais condições da liberdade.
Até porque, tanto quanto não solucionável, o homem livre não é representável - não autoriza ver-se imposto noutros ou por outros. A postura livre é o contrário da impostura. Não é a polícia nem, tão pouco, os tribunais que constituem garantes da minha liberdade. Pelo contrário, sitiam-na. O garante não é externo: é interno, é próprio, é pessoal, e chama-se consciência. Donde que , ao contrário do que hoje em dia se trafica pelos mentideros, a antinomia efectiva da liberdade não reside na autoridade mas na economia. Nunca a liberdade perigou pelo cacete ou pela censura aberta - seria confundir estímulos com reais ameaças. O método eficaz contra ela sempre foi outro, mais letal e insidioso: o veneno. A mentira. A falsificação.
São os principais e mais encarniçados inimigos da liberdade quem procurais? É simples. Entre tutores, zeladores e enfermeiros, não tereis por onde falhar. Cada tiro, cada melro. Os envenenadores sempre velaram à cabeceira.

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