terça-feira, janeiro 25, 2011

Urnofobia (rep)




Esta moda recente das pessoas irem às urnas nunca dá bom resultado. O dia seguinte é sempre uma desgraça. Tara (ou parafilia) mais contraproducente duvido mesmo que exista. Veja-se mais este episódio em França: lá foram as pessoas às urnas e lá acabou tudo mergulhado na pior das balbúrdias. Era escusado...
Por mais que me tentem vender a excelência da ideia, a lógica avançada da coisa, não acho natural as pessoas irem às urnas. Tenham lá santa paciência, mas não acho. Antes bota de elástico que mentiroso. E não tem a ver só com o facto, internacionalmente reconhecido, de eu me achar impregnado do pleno direito ao título de imperador-deus, cargo a que, mais dia menos dia, ascenderei com a inevitabilidade dos meteoros catastróficos. Não, é mais um escrúpulo de ordem semântica, tanto quanto libidinal. E económica. A própria palavra urna tem qualquer coisa de fúnebre. Qualquer coisa é favor, aquilo lembra é logo enterro e gatos pingados. Aliás, não se conhece melhor processo de enterrar um país. De arruinar uma nação.
-"Estás a ir onde?"
-"Eh pá, vou à urna. Hoje é dia de ir à urna!"
-"E consegues?"
-"O quê?..."
- "Ir à urna."
- "Então, que remédio. É o meu dever cívico!"

Tristes tempos estes em que já se confunde necrofilia com dever cívico. Mesmo enquanto exercício de alívio -no melhor dos casos, intestinal -, ir à urna não me convence. E o pior é que nunca se sabe quem lá está dentro. Ora, as emboscadas são garantidas. Enquanto o cidadão eleitor, todo aperaltado e fantasioso, se entretém com a urna, os inquilinos desta, uma caterva de zombies e vampiros candidatos, vão ao cidadão eleitor. Servem-se dele sem qualquer pejo nem moderação. Refocilam para ali num macabro festim. Repugna-me uma tal salganhada. Sórdida ménage a trois que, de todo, me horroriza e enoja. Comboio abominável!
E é por isso que eu nem com uma arma apontada vou às urnas. Nunca! jamais! Em tempo algum! Digam o que disserem, apregoem o que apregoarem. Às urnas, prefiro as putas. Mas isso é limpinho. Se é para acabar depenado, ao menos que retire algum prazer disso. Porque, ao contrário das mães, os filhos arrombam-nos a carteira e ainda ficam com o gozo todo.
Nessa não caio eu.


PS: E o mais estúpido e indecente nem é as pessoas irem às urnas: é depois acreditarem piamente que as engravidaram e têm que casar com elas.

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