quinta-feira, maio 19, 2011

Descubra as semelhanças




Lembram-se do Eliot Spitzer? Presumo que não. E o vosso problema é esse: fora a milupa da notícia, no instante a ferver, manjada de pé, ao balcão, fica nada.
Mas eu relembro:

Naturalmente, o leitor não é daqueles ingénuos que acreditam que um político pode ruir por razões de moral pública. Nem a moral pública é coisa que exista, nem a sua mistificação significa mais que uma invariável cortina de fumo. Quando se abate um político, arranja-se um pretexto e abate-se. Mas a razão pela qual é abatido nada tem que ver com o pretexto. Permanece oculta, como oculta fica a mão que move os fios. Portanto, não foi por ir às putas que o Eliot se tramou. Nem ninguém estava minimimente preocupado, a começar na própria esposa, que ele andasse ou não andasse nas putas. Por essa ordem de ideias, então o que não seria quando se descobriu que o correspondente na Casa Branca, James Guckert, que fazia perguntas de encomenda para a administração republicana, era, na verdade, o prostituto gay Jeff Gannon, e que, pior ainda, segundo os próprios registos do Serviço Secreto (que trata dos acessos à Casa Branca), muitas das suas visitas tiveram registos da hora de entrada mas não de saída?... E o que é que aconteceu? Nada. Dois bloggers descobriram a morosca, meteram a boca no trombone, O Gannon foi bugiar e acabou-se. Agora comparem com o escândalo em redor das nódoas do vestido da Monica Lewinsky...
Após meditar no assunto, dei comigo a descrer da própria premissa base de tudo isto - a de que Eliot Spitzer estava na calha para se vir a tornar o primeiro presidente judeu dos Estados Unidos... Ponho-me no lugar dos israelitas. Estaria eu interessado em ter um presidente judeu nos Estados Unidos? Se tenho chusmas de gentios prontos a desempenhar a tarefa com bem maior zelo e diligência, com fanatismo de renegado e fervor de tartufo, para quê arriscar com um alvo vivo e permanente para todas as campanhas de desconfiança e de verberação de geonepotismo, geotribalismo, etnofacciosismo, etc., etc.? Se um gentio desempenha com vantagem o cargo, para quê queimar e sujeitar ao desgaste um congénere? Além de que um judeu acabaria por dar menos garantias de submissão. Basta atentarmos que muitos dos críticos mais contundentes de Israel até são judeus e nem todos o fazem por encomenda. Basta também constatarmos como se encontra muito maior liberdade de expressão crítica ou informativa no próprio Estado de Israel do que na generalidade dos media ocidentais. É claro que, pelo sim pelo não, estavam a tratar de ter o Spitzer na mão, com o devido cordelinho preso aos testículos, mas esse era um cuidado básico, elementar, estrita rotina operativa. Não significava forçosamente uma aposta declarada ou conspirativa. Tudo somado, uma tal exposição futura até acabaria por constituir mais um risco do que uma conquista. A discrição é regra basilar da manipulação; a trama hospeda-se e nidifica na penumbra. (...)»

Na altura, o meu vaticínio final saiu errado. Perdi redondamente na aposta. Para compensação, dou-vos agora uma dicazinha bonificada: sabem quem é que veio agora ajudar ao enterro de DSK? Calculem: a mesma "madame" que já tinha tratado do enterro de Spitzer. Nem mais. Pura coincidência, claro está.


Pois, filhinhos, é fodido, custa até admitir, mas o mundo não é exactamente a Disneylandia. Embora, há que reconhecê-lo, o que não falta por aí é Plutos, mickeys, patinhas e manchas negras. Aos pinotes.

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