quinta-feira, novembro 24, 2011

Joint Desventure

Não sei qual será mais deprimente e penoso de assistir (e padecer) para o comum dos portugueses: se o ser tão alarvemente atacado por esta esquerda disfarçada de direita, se o ser tão javardamente  defendido por esta esquerda mascarada de esquerda. O certo é que sob o garrote da finança ou debaixo da canga da súcia, a economia real do país lá desliza pastosamente pelo esgoto abaixo.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Deste, já posso dizer o que disse do anterior sem errar muito

A demissão do actual governo não é, em bom rigor, um caso de política, como se pretende fazer crer: é um caso de polícia. Mas não apenas do actual - o precedente, mais o precedente do precedente, a somar ao seu antecessor e a culminar, em retroactivo, ao Kavaquistão (já para não falar nos anteriores) - todos eles foram casos de polícia. O estado actual das contas públicas atesta-o soberanamente. O estado actual do património nacional revela-o às escâncaras. O estado actual comatoso do ex-Estado português brada-o aos quatro ventos!
Aliás, nem caso, nem crise - política? Rigorosamente nenhuma. Apenas de polícia.

Aliás, os putativos políticos outra coisa não fazem, nem têm feito ao longo destes anos, que convocar a polícia. Esta, porém, assim como a política genuína, séria, consequente, não se avista nem comparece. A nossa desgraça, por isso germina e floresce dessa dupla ausência: de política e de polícia. Tanto quanto do excesso galopante, triunfante e imperador dos seus contrários. Se apenas nos faltasse a política, mas nos acudisse a polícia, ao menos ainda haveria esperança. Ou se nos desfalcasse a polícia, mas nos valesse a política, sempre se poderia emendar o desfalque. Mas assim não. Sem política nem polícia, penamos sem esperança nem emenda. Sem política nem polícia, ficamos à mercê da contrafacção mixordeira de ambas, reféns sob inapelável sequestro do capricho, do apetite, em suma, da venalidade aleivosa de falsos políticos e falsos polícias. Falsos políticos que não nos representam por inteiro, mas apenas nos nossos defeitos e desqualificações; que não nos estimulam para nada, a não ser naquilo que temos de mais baixo e desprezível; que não nos guiam a lado nenhum, a não ser no caminho para o estrangeiro, para a servidão e para a penúria. Falsos polícias que não nos defendem, nem protegem; que não guardam nem investigam. Mas apenas defendem, e protegem, e guardam pretorianamente a falsa política. Mas apenas acolitam à missa negra onde o erário e a fazenda pública são imolados, sem dó nem piedade, aos ídolos tenebrosos da situação. Mas apenas zelam pela tranquilidade do latrocínio instituído e pela segurança comilona do cancro transplantado. Da falsa democracia, da falsa política e da falsa administração, que não servem à polis nem aos seus cidadãos, mas apenas se servem - abusiva e ferozmente - deles. Donde resulta um estado hipertrofiado e autofágico que devora o país; administrações burgessas e africanizadas que se locupletam e refastelam nas empresas; militares castrados e obedientes com mais amor à promoção do que à Pátria; e uma miríade de palradores, mais ou menos escritos, publicados e embrulhados, desatados e untados numa vaselina multiusos de importação, para lubrificar o mega-supositório (mais ou menos instantâneo, mais ou menos recorrente) com que se auto-empalam e, simultaneamente, com o maior escarcéu e espavento possíveis, se expõem à curiosidade pública e à estupefacção do incauto. Afinal, nada como o enxame da falsa informação para nos atestar dos poderes estupefacientes da contrafacção.

Em resumo, não nos promove nem melhora a falsa política: esbulha-nos, desanima-nos e confisca-nos sòmente;. Como não nos defende a falsa polícia: vigia-nos e ameaça-nos apenas. Não sendo política, de todo, a crise, é, sobretudo e até mais que moral, existencial. A questão íntima que se coloca doravante a Portugal, depois da abdicação forçada de império, é saber se se resigna a esta Liliput rilhafolesca em que pretendem interná-lo.

Seremos, infelizmente, tudo isto que nos torpedeia, intoxica e auto-mutila; mas não somos apenas isto. Nem podemos consentir que nos reduzam a tal. Sob pena de mais valer um maremoto ou super-furacão que nos varra duma vez por todas da face do planeta. Sempre era mais digno e meritório ser varrido pelo Mãe Natureza do que por uma chusma coleoptérica e concertada de burocratas, moços de frete, macacos de imitação e parasitas profissionais. Disse.





Balde de minhocas

O fóssil Soares manifestou-se preocupado com as perspectivas futuras da democracia. Por um lado, é enternecedor: um pai que vive do proxenetismo da filha  a angustiar-se muito com a falência técxnica desta. Por outro, é empolgante:  assistir ao despique frenético entre superstições: duma banda os da democracia; da outra, em tandem vertiginoso, os do mercado.
Como corolário, atente-se  no significativo detalhe: as guerras míticas, na antiguidade, exigiam para ignição o sacrifício de virgens; os apaziguamentos dos ídolos míticos, no presente, requerem a imolação de rameiras. Digam lá que não há todo um perfeito sentido e uma força de equilíbrio no mundo!...

sexta-feira, novembro 04, 2011

Dilema, uma palavra genuinamente grega

Segundo garantem os papagaios de serviço,  é o caos global se os gregos saírem. Ou é o caos na Grécia se os gregos ficarem. Teria imensa piada, e seria de elementar justiça, ir perguntar aos gregos o que é que preferem. Eu, no lugar deles, nem hesitava. A bem da higiene, o mundo agradecia.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Superstições de conveniência

Lendo isto:
«Líder mundial de banqueiros não perdoa dívida portuguesa»
avassala-me uma tremenda perplexidade... Mas afinal não eram os Mercados, essas destilarias inefáveis, os nossos sublimes credores?

Mas que Ixionismo vem a ser este?